Economia
PUBLICIDADE

Por Manoel Ventura — Brasília

A intenção do BNDES de dobrar as suas operações de crédito até o fim do mandato do presidente Lula tem chamado a atenção de especialistas e do Banco Central (BC) para a possibilidade dessa atuação reduzir a potência da política monetária.

Num momento em que o governo pressiona o BC para reduzir a taxa Selic, hoje em 13,75% ao ano, um menor poder de fogo desse instrumento significa juros mais altos por mais tempo. Além disso, a ideia do banco público de fazer títulos isentos de impostos para aumentar a captação pode acabar concorrendo com as emissões do Tesouro Nacional, a depender do formato dado à medida.

Sob o comando de Aloizio Mercadante, o BNDES quer sair do atual 0,7% do PIB de concessão de crédito para 2%, percentual que diretores do banco afirmam ser a média histórica da carteira da instituição de fomento. Nos períodos de maior desembolso, o banco já chegou a emprestar o equivalente a 4% do PIB.

A relação entre os desembolsos do BNDES e a Selic se dá porque o crédito é um dos principais canais de transmissão pelos quais a política monetária afeta os preços da economia. Uma vez que a mudança na taxa Selic atinge o custo de empréstimos, inibe o consumo e o investimento, reduzindo a inflação.

Por outro lado, o tamanho da parcela de crédito direcionado (quando uma instituição de fomento encaminha seus recursos a setores específicos, sejam segmentos industriais ou mesmo habitação, por exemplo) e subsidiado (emprestado a um custo menor do que os juros praticados no mercado) altera o alcance da política monetária. Na prática, é como se o crédito direcionado por um banco como o BNDES ficasse fora do alcance da Selic.

— Sem dúvida tem um impacto. A política monetária hoje está em campo restritivo para deflacionar a economia. Se um morde e outro assopra, não ajuda. O Banco Central está tentando restringir o crédito, e o BNDES está tentando aumentar, isso diminui o potencial da política monetária — afirma o chefe de pesquisa econômica para América Latina do Goldman Sachs, Alberto Ramos.

Para ele, o que mais preocupa é voltar uma política agressiva de concessão de crédito com taxa subsidiada e direcionada, sem observar os fundamentos da economia.

— Será uma questão de intensidade — diz Ramos.

O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, e o ministro da Fazenda, Fernando Haddad — Foto: Edilson Rodrigues/Agência Senado
O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, e o ministro da Fazenda, Fernando Haddad — Foto: Edilson Rodrigues/Agência Senado

Freio com menos potência

Em audiência no Senado na última quinta-feira, o presidente do BC, Roberto Campos Neto, fez o alerta. Afirmou que 42% do crédito da economia são direcionados e, portanto, não estão sob o impacto direto da atuação do BC. Nos países emergentes, a média é de 6%.

— É como se o Banco Central pisasse no freio, mas o freio tivesse menos potência. Ou como se a gente tivesse uma tubulação que estivesse um pouco entupida — disse o chefe da autoridade monetária.

Gustavo Sung, economista-chefe da Suno Research, explica que o Brasil já tem uma taxa neutra de juros alta, por conta de caraterísticas locais. E ela aumenta quando o crédito subsidiado sobe. A taxa neutra é o nível de juros que não acelera nem desacelera a inflação.

— Quanto maior o crédito direcionado ou a taxa subsidiada, mais a taxa de juros precisa ser elevada para ter efeito — disse Sung.

Outro ponto que tem chamado atenção de economistas é sobre a mobilização do banco para emitir títulos isentos de impostos, nos moldes de uma Letra de Crédito Imobiliária (LCI) ou Agrícola (LCA). É uma forma de depender menos do Tesouro e, ao mesmo tempo, ampliar suas operações.

Nesse ponto, a preocupação é sobre uma possível concorrência com as emissões do próprio Tesouro para bancar a dívida pública. Isso porque um título do BNDES seria “quase” soberano, mas livre de impostos e disputando liquidez com emissões federais.

— Com certeza tem uma concorrência, mas claro que as captações do Tesouro são muito maiores. No fim, a União acaba atuando como um garantidor, é como se a União estivesse emitindo um título — considera Tiago Sbardelotto, economista da XP.

Nos bastidores, a Fazenda tenta minimizar. Integrantes da equipe de Fernando Haddad afirmam que as emissões do BNDES tendem a ser baixas, embora não esteja claro ainda qual será o montante que será colocado no mercado. Além disso, veem que as taxas de juros estão mais alinhadas com o mercado.

Entre outras ações, o BNDES pode atuar com subsídios financeiros e creditícios. Os subsídios financeiros são aqueles que têm desembolso do Tesouro, a fim de completar a diferença entre o que o credor recebe e o que o mutuário paga.

Já os creditícios são aqueles em que não há desembolso, sendo calculados por meio da diferença entre o custo de captação de recursos pelo Tesouro e o que a autarquia recebe pelos empréstimos que faz ao BNDES.

Trava no arcabouço fiscal

Alexandre Manoel, economista-chefe da AZ Quest, pondera que a possibilidade de subsídios financeiros foi bastante reduzida por conta do novo arcabouço fiscal, proposto pelo governo federal e em discussão no Congresso.

— Pelo arcabouço fiscal, a expansão do BNDES concorreria com as demais despesas do governo, como saúde e educação — disse Manoel.

O arcabouço diz que uma eventual capitalização do banco fará parte dos limites da regra fiscal e vai concorrer com outras despesas. É uma restrição inclusive maior que o teto de gastos, que colocava essa capitalização como exceção.

Para aumentar os benefícios creditícios, seria preciso mudar a TLP, taxa adotada pelo BNDES hoje e mais alinhada a indicadores de mercado. A antiga TJPL era mais subsidiada.

— Para vislumbrar uma política para frente, o que o mercado vai prestar atenção é em mudanças na TLP, que eu creio que vai gerar sinais muito ruins se forem muito significativas — afirma Manoel.

Webstories
Mais recente Próxima Hurb: Ação civil pública pede bloqueio de contas da empresa e de seus sócios
Mais do Globo

Democracias só resolvem problemas grandes se sociedades são capazes de se unir num projeto comum

Desinformação atrapalharia adoção do Plano Real hoje

Clube já se mostrou comprometido em colaborar com reformulação dos passeios públicos e do sistema de transporte

Novo estádio do Flamengo não prejudica o Maracanã

É crucial proteger as populações dos vácuos de informação que surgem em grandes tragédias como a do Rio Grande do Sul

É preciso prevenir desastres informacionais

Veja o horóscopo do dia 2/7 para os signos de Áries, Touro, Gêmeos, Câncer, Leão, Virgem, Libra, Escorpião, Sagitário, Capricórnio, Aquário e Peixes

Horóscopo de hoje: veja previsão para seu signo no dia 2/7

Autores e especialistas explicam por que infinitas opções de encontros românticos estão gerando cansaço e vazio existencial

Ansiedade na era dos apps de namoro inspira literatura e livros com dicas para relacionamentos mais profundos

Estrela da franquia 'De volta para o futuro' foi diagnosticado com Parkinson há 33 anos

Michael J. Fox tocou com o Coldplay e já disse que gostaria de chance para atuar; saiba como está a saúde do ator

Algumas atrizes lembram do período a partir da década de 1970 com ânimo, outras preferem esquecer as atuações nos filmes eróticos

Vera Fischer, Selma Egrei, Regina Casé e Sonia Braga: saiba como estão musas da pornochanchada

A perspectiva é que o presidente do Congresso escolha Davi Alcolumbre como relator da medida

Pacheco se reúne com governadores e deve protocolar projeto da dívida dos estados

Para o Norte, Inmet lançou um alerta de chuvas intensas, que devem se concentrar em Roraima e Amazonas

Sul tem alerta de geada, enquanto temperaturas voltam a subir no Sudeste nesta terça-feira; veja previsão

Ato formal foi feito nesta segunda-feira; 'Influencer de Deus' deve se tornar oficialmente santo no próximo ano

'Influencer de Deus' e milagre em MT: quem foi o italiano Carlo Acutis, que será o 1º santo 'millennial'
  翻译: