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Por The New York Times — Washington

RESUMO

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GERADO EM: 24/06/2024 - 04:00

Pressão dos pais por proteção nas redes sociais

Pais pressionam Congresso dos EUA por mais proteção a jovens nas redes sociais após tragédias pessoais. Projeto de lei KOSA visa limitar recursos que aumentam depressão, bullying e abusos. Apoio bipartidário, mas enfrenta oposição de lobistas de tecnologia. Efforts do ParentsSOS buscam conscientizar sobre segurança online para crianças.

Deb Schmill tornou-se uma presença constante no Capitólio. Só na semana passada, visitou os gabinetes de 13 parlamentares, uma das mais de uma dúzia de viagens que fez desde sua casa perto de Boston nos últimos dois anos.

Em cada encontro com os parlamentares, Deb fala sobre sua filha Becca, que morreu em 2020 aos 18 anos. Schmill disse que Becca morreu depois de tomar drogas com fentanil compradas no Facebook. Antes disso, disse ela, a filha foi estuprada por um rapaz que tinha conhecido pela internet e, depois, foi vítima de cyberbullying no Snapchat.

—Tenho de fazer o que posso para ajudar a aprovar uma legislação para proteger outros jovens e evitar que o que aconteceu a Becca lhes aconteça. É o meu mecanismo de sobrevivência — explica Deb, de 60 anos.

Deb Schmill está entre as dezenas de pais que estão fazendo lobby a favor do 'Kids Online Safety Act', ou KOSA (na sigla em inglês), um projeto de lei que propõe exigir que aplicativos de mídia social, jogos e mensagens limitem recursos que podem aumentar a depressão, o bullying ou levar à exploração sexual.

O projeto de lei, que tem a maior projeção dada a qualquer outra legislação ampla da indústria tecnológica em anos, também exigiria que os serviços de tecnologia ativassem as configurações mais altas de privacidade e segurança por padrão para usuários com menos de 17 anos, e permitissem que os jovens optassem por sair de alguns recursos que podem levar ao uso compulsivo.

Inspirando-se em parte no 'Mothers Against Drunk Driving' (MADD, também na sigla em inglês), que pressionou pela lei federal de 1984 que estabeleceu a idade mínima para consumo de álcool em 21 anos, cerca de 20 dos pais formaram um grupo chamado ParentsSOS. Como os membros da MADD, os pais carregam fotos de seus filhos que, segundo eles, perderam suas vidas por causa das mídias sociais, e explicam suas tragédias pessoais aos legisladores.

Dezenas de outros pais criaram organizações para combater o vício em mídias sociais, transtornos alimentares e envenenamento por fentanil. Todos estão pressionando pela aprovação do KOSA, e invadindo o Capitólio para compartilhar como, segundo eles, seus filhos foram prejudicados.

O projeto de lei, introduzido em 2022, tem apoio bipartidário no Senado e está prestes a ser votado. Recentemente, passou por uma votação crucial no subcomitê da Câmara. O presidente Joe Biden também manifestou seu apoio ao projeto de lei.

Todd e Mia Minor, Christine McComas e Deb Schmill, todos com filhos cujas mortes estão relacionadas com a utilização das redes sociais, foram a Washington para pressionar os políticos — Foto: Valerie Plesch/The New York Times
Todd e Mia Minor, Christine McComas e Deb Schmill, todos com filhos cujas mortes estão relacionadas com a utilização das redes sociais, foram a Washington para pressionar os políticos — Foto: Valerie Plesch/The New York Times

Vivek Murthy, cirurgião-geral dos Estados Unidos, a autoridade máxima em saúde pública no país, disse na semana passada que as mídias sociais contribuíram para uma crise de saúde mental “emergencial” entre os jovens, adicionando mais pressão pela aprovação do projeto.

Obstáculos consideráveis

Mas o KOSA ainda enfrenta obstáculos consideráveis. Lobistas da indústria de tecnologia e a American Civil Liberties Union estão lutando contra ele, dizendo que a proposta poderia minar a liberdade de expressão. Outros temem que limitar o acesso das crianças às mídias sociais possa isolar ainda mais os jovens vulneráveis, incluindo aqueles da comunidade LGBTQIA+.

Para aumentar a pressão com a aproximação das férias de verão do Congresso em agosto, o ParentsSOS lançou, na semana do Dia dos Pais, comemorado no último domingo, dia 16, uma campanha publicitária na Times Square, em Nova York, e uma campanha comercial na TV por streaming. A Fairplay, uma organização sem fins lucrativos de defesa das crianças, e a Eating Disorders Coalition (Coalizão de Distúrbios Alimentares, em tradução livre) financiaram as campanhas.

— Amigos me disseram: "Apenas deixe pra lá e siga em frente porque é muito doloroso", mas eu não podia ficar quieta sobre o que aprendi, que é que as empresas de mídias sociais não têm nenhuma responsabilidade — disse Kristin Bride, de 57 anos, que vive no Oregon.

Seu filho Carson suicidou-se em 2020 aos 16 anos depois, segundo ela, dele ter sido vítima de bullying incessante por meio de um aplicativo de mensagens anônimo conectado ao Snapchat.

ParentsSOS lançou, na semana do Dia dos Pais, uma campanha publicitária na Times Square, em Nova York, pela segurança dos jovens na internet — Foto: Jeenah Moon/The New York Times
ParentsSOS lançou, na semana do Dia dos Pais, uma campanha publicitária na Times Square, em Nova York, pela segurança dos jovens na internet — Foto: Jeenah Moon/The New York Times

A Snap, empresa-mãe do Snapchat, a plataforma social X (ex-Twitter) e a Microsoft disseram que apoiam o KOSA.

“A segurança dos jovens é uma prioridade urgente e pedimos ao Congresso que aprove o Kids Online Safety Act,”, disse a Snap em um comunicado.

O Snap não permite mais que aplicativos de mensagens anônimos se conectem à sua plataforma.

YouTube e Meta, dona do Facebook e do Instagram, se recusaram a comentar. O TikTok não respondeu a um pedido de comentário feito pelo NYT.

O esforço dos pais se alinha com um movimento global para regular a segurança dos jovens on-line. A Lei de Mercados Digitais da União Europeia de 2022 exige que os sites de mídias sociais bloqueiem conteúdo prejudicial e restrinjam o uso de recursos que podem levar ao uso viciante pelos jovens. No ano passado, a Grã-Bretanha adotou uma lei similar de segurança on-line para crianças.

No âmbito doméstico, 45 procuradores-gerais estaduais processaram a Meta por alegações de que prejudica jovens usuários. No ano passado, 23 legislaturas estaduais adotaram leis de segurança infantil, e, na semana passada, Nova York adotou uma lei que restringe as plataformas de mídia social de usar feeds de recomendação que poderiam levar ao consumo compulsivo por usuários com menos de 18 anos.

Muitos dos pais que se tornaram lobistas citaram “O Dilema das Redes Sociais,” um documentário de 2020 sobre os danos das mídias sociais, como um chamado à ação. Eles disseram que também ficaram indignados com as revelações em 2021 da denunciante Frances Haugen, uma ex-funcionária do Facebook, que testemunhou no Congresso que a empresa sabia dos perigos para os jovens em seus aplicativos.

— Pela primeira vez, entendi que era o design, eram as empresas, — disse Christine McComas, de 59 anos, que mora em Maryland.

Ela disse que sua filha Grace morreu aos 15 anos por suicídio em 2012 depois de ser intimidada no Twitter.

Muitos dos pais disseram que o Center for Humane Technology, uma organização sem fins lucrativos que defende a regulamentação das mídias sociais e fez parte do documentário, os conectou depois que eles entraram em contato.

O filho de Maurine Molak, David, também tirou a própria vida em 2016, aos 16 anos, depois de, segundo ela, ter sofrido cyberbullying no Instagram e em aplicativos de mensagens. Outro de seus filhos encontrou uma página de memorial on-line para Grace McComas, e incentivou sua mãe a entrar em contato com com a mãe de Grace por e-mail.

Maurine Molak, que criou uma fundação em nome do seu filho David para combater o cyberbullying depois de este ter se suicidado aos 16 anos, com um par de sapatos do jovem que ela guardou, em sua casa, em San Antonio, Texas — Foto: Jordan Vonderhaar/The New York Times
Maurine Molak, que criou uma fundação em nome do seu filho David para combater o cyberbullying depois de este ter se suicidado aos 16 anos, com um par de sapatos do jovem que ela guardou, em sua casa, em San Antonio, Texas — Foto: Jordan Vonderhaar/The New York Times

As duas mães começaram a fazer ligações telefônicas e também se conectaram com outros pais. Maurine Molak criou uma fundação para educar o público sobre bullying on-line e para pressionar por legislação estadual anti-bullying.

No início de 2022, alguns dos pais começaram a trabalhar com a Fairplay para pressionar por leis estaduais de segurança infantil. Em fevereiro daquele ano, os senadores Richard Blumenthal e Marsha Blackburn introduziram o KOSA.

Apoio inicial, porém modesto

O projeto teve apoio inicial, mas modesto, saindo de um comitê do Senado antes de ficar paralisado por meses. Impacientes, vários pais apareceram no Capitólio em novembro. Bride e outros pais disseram que entraram no escritório da senadora Maria Cantwell, presidente do Comitê de Comércio, e exigiram uma reunião. Ela os encontrou no dia seguinte.

A senadora ficou visivelmente emocionada e acariciou as costas de vários pais enquanto eles falavam sobre seus filhos, disse Bride.

— Ter que nos olhar e saber que nossos filhos não estão mais conosco os atinge, e isso tem feito as pessoas se unirem — completou Bride.

O gabinete da senadora Maria Cantwell recusou-se a comentar.

Maria tornou-se uma defensora vocal do projeto de lei e tentou anexá-lo a um projeto de lei de gastos de fim de ano, mas não obteve sucesso.

Christine McComas mostra o sua bolsa com fotografias da sua filha Grace, cujo suicídio está relacionado com o cyberbullying, enquanto esteve em Washington para fazer pressão sobre os políticos — Foto: Valerie Plesch/The New York Times
Christine McComas mostra o sua bolsa com fotografias da sua filha Grace, cujo suicídio está relacionado com o cyberbullying, enquanto esteve em Washington para fazer pressão sobre os políticos — Foto: Valerie Plesch/The New York Times

Durante grande parte do ano passado, o projeto de lei ficou parado, em parte devido a preocupações de que a linguagem que exigia que as empresas projetassem sites para proteger as crianças era muito vaga. Alguns legisladores também estavam preocupados que o projeto de lei daria aos procuradores-gerais muito poder para policiar determinado conteúdo, uma possível arma política.

Desanimados, os pais se comunicavam uns com os outros para se manterem motivados. Em setembro, Deb Schmill alugou um apartamento de curto prazo a 10 minutos a pé do Capitólio. Ela trocava de tênis, que carregava em uma bolsa de lona, enquanto visitava os escritórios de quase todos os cem senadores para contar a eles sobre sua filha Becca.

— Enquanto eu pensava em enfrentar mais um ano da data de nascimento e morte dela, para eu lidar com ter que viver outro aniversário, eu tinha que sentir que estava fazendo algo produtivo em sua memória — contou.

No fim do ano passado, por volta da época em que o Comitê Judiciário do Senado anunciou uma audiência em janeiro sobre segurança infantil com CEOs das empresas de tecnologia, os pais decidiram formar o ParentsSOS. A iniciativa, destinada a ajudá-los a ganhar mais apoio para o KOSA, foi financiada pela Fairplay e pela fundação de Maurine Molak focada no cyberbullying.

Os pais — comunicando-se por e-mails, mensagens de texto e Zoom — decidiram ir à audiência sobre segurança infantil para confrontar os executivos do Discord, Meta, Snap, TikTok e X com fotos de seus filhos.

Na audiência, o senador Josh Hawley tentou forçar Mark Zuckerberg, CEO da Meta, a pedir desculpas aos pais. Zuckerberg virou-se para os pais e disse que estava “se desculpando por tudo o que vocês passaram".

Mark Zuckerberg, diretor executivo da Meta, vira-se e dirige-se a familiares de vítimas de abuso infantil on-line numa audiência do Comité Judicial do Senado em Washington, 31 de janeiro de 2024 — Foto: Kenny Holston/The New York Times
Mark Zuckerberg, diretor executivo da Meta, vira-se e dirige-se a familiares de vítimas de abuso infantil on-line numa audiência do Comité Judicial do Senado em Washington, 31 de janeiro de 2024 — Foto: Kenny Holston/The New York Times

Todd Minor, membro do ParentsSOS que estava presente, disse que o pedido de desculpas soou vazio. Seu filho Matthew, de 12 anos, morreu em 2019 depois de participar, segundo Minor, de um “desafio do apagão” no TikTok, no qual as pessoas se sufocam.

— Precisamos do KOSA. É simples assim — reforça Minor, de 48 anos.

Os pais então se reuniram com o líder da maioria no Senado, Chuck Schumer, que prometeu levar o KOSA a uma votação no plenário até 20 de junho, de acordo com Deb Schmill e outros presentes nas reuniões.

Em abril, a Câmara apresentou um projeto de lei complementar.

Molak, de 61 anos, residente de San Antonio, se reuniu com o deputado Randy Weber, do Texas, no mês passado para falar sobre seu filho David.

— Por que eu não estou neste projeto de lei? Vamos entrar nisso! — disse Weber, membro do Comitê de Energia e Comércio da Câmara, à sua equipe durante a reunião, segundo Molak.

O escritório de Weber não respondeu a um pedido de comentário.

Mas o progresso nesse comitê paralisou este mês. A versão do projeto de lei no Senado ainda enfrenta oposição.

Na semana passada, Deb e três dos outros pais voltaram ao Capitólio novamente

— Eu preciso me manter ocupada, continuar tentando — afirma Deb.

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