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Por — Rio de Janeiro

Após o o governo brasileiro determinar a suspensão da recém-anunciada nova política da Meta (dona do Facebook e do Instagram) sobre coleta de dados de seus usuários para o treinamento de ferramentas de inteligência artificial (IA), a big tech afirmou, em nota, que decisão é um "retrocesso" e que "atrasa a chegada de benefícios da IA para as pessoas no Brasil". A decisão foi antecipada pelo blog do colunista Lauro Jardim.

A suspensão do uso de informações disponíveis nas redes sociais para treinamento de IA foi determinada pela Autoridade Nacional de Proteção de Dados (ANPD), que está sob o guarda-chuva do Ministério da Justiça. Caso a Meta não siga a decisão será aplicada uma multa diária de R$ 50 mil.

"Isso é um retrocesso para a inovação e a competividade no desenvolvimento de IA, e atrasa a chegada de benefícios da IA para as pessoas no Brasil", informou a Meta na nota.

"Treinamento de IA não é algo único dos nossos serviços, e somos mais transparentes do que muitos participantes nessa indústria que têm usado conteúdos públicos para treinar seus modelos e produtos", completou.

A companhia disse ainda que "cumpre com as leis de privacidade e regulações no Brasil" e que vai continuar a trabalhar com a ANPD "para endereçar suas dúvidas".

A coleta de dados para o treinamento de IA foi anunciada pela Meta em 16 de junho e já estava em vigor no Facebook, Instagram e Messenger.

Com os conteúdos publicados nessas plataformas, a empresa de Mark Zuckerberg tinha a intenção de treinar e aperfeiçoar recursos de IA generativa — a que é capaz de criar textos, fotos e vídeos, por exemplo.

Decisão preventiva

O procedimento foi instaurado, mas a tramitação não foi completa. Por isso, a suspensão da nova política é considerada uma medida preventiva. Para a autoridade, há "riscos de dano grave e de difícil reparação aos usuários".

Segundo o órgão, faltam informações adequadas e necessárias aos usuários a respeito da nova medida, e sobram obstáculos para que eles possam se opor à utilização dos dados em questão. É possível negar esse uso, mas isso não é facilitado pelas plataformas.

Pesou também para a decisão, aprovada pelo conselho diretor da ANPD, o fato de que a nova política entregaria à IA milhões de informações cedidas à Meta anos atrás, quando a inovação sequer existia. A preocupação com fotos e vídeos de crianças e adolescentes foi outro fator considerado. De maneira geral, o entendimento foi que as intenções da empresa ferem a Lei Geral da Proteção de Dados (LGPD).

O que diz o Idec?

O Instituto de Defesa de Consumidores (Idec) foi uma das entidades que acionou a ANPD com o pedido de suspensão de coleta de dados para essa finalidade. Para o instituto, a decisão preventiva é "fundamental frente aos riscos de dano grave e irreparável aos cidadãos".

"A apuração tem que continuar, para que uma decisão definitiva confirme a suspensão permanente do tratamento de dados de usuários brasileiros para o treinamento de ferramentas de IA da Meta. Nesse sentido, é fundamental que a ANPD mantenha a mesma postura diligente durante toda sua condução no caso, e, por isso, a atuação e pressão pública do Idec continuará", publicou a entidade em nota.

De acordo com Marina Fernandes, pesquisadora do programa de Telecomunicações e Direitos Digitais do Idec, o instituto acredita que a prática da Meta é ilícita no tratamento de dados pessoais por três razões principais. A primeira é a falta de informações claras, precisas e facilmente acessíveis aos usuários sobre essa mudança na política de privacidade.

— Na União Europeia, por exemplo, a Meta informou aos usuários que estava alterando sua política e o que essa alteração significava. No Brasil, não há qualquer tipo de comunicação. Essa informação só está disponível na política e, mesmo assim, ela é insuficiente dada a profundidade desse tratamento de dados — explicou a pesquisadora.

A segunda razão é a inadequação à Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD), que contraria o uso de dados sensíveis dos usuários, como fotos, legendas, vídeos, que podem conter seus rostos, cor de pele, religião, posicionamento político, entre outros. Além disso, de acordo com a representante do Idec, a política da bigtech também não prevê a legítima expectativa dos titulares e apresenta limitações ao exercício do direito de oposição.

— Uma pessoa que tem sua conta no Instagram ou Facebook não deduz que estão utilizando seus dados para treinar a IA. E ainda são colocados nove passos não intuitivos para esse usuário se opor ao tratamento de seus dados, quando, na verdade, a Meta deveria facilitar esse direito de oposição. E ela faz isso justamente com o objetivo de que as pessoas não se oponham, para coletar a maior quantidade de dados possível — considerou Fernandes.

A pesquisadora acrescenta ainda que não é a primeira vez que a empresa altera sua política de privacidade contrariando os direitos dos titulares, o que considerou uma "prática recorrente e inadmissível".

— Ao insinuar que a suspensão da política atrasa benefícios ao público, a Meta busca se esquivar do dever de se adequar à LGPD, legislação que não pode ser vista como um obstáculo para a inovação, mas sim como uma garantia e efetivação de direitos que são sistematicamente violados pelas plataformas. O que se extrai da leitura da política de privacidade da Meta é um abuso e uma exploração unilateral sem as efetivas contraprestações para os consumidores — concluiu.

O que mudou na coleta de informação?

A mudança de política de privacidade foi anunciada no dia 16 de junho e surgiu em um momento em que a gigante de tecnologia busca expandir o recurso "IA da Meta", que acrescenta um robô de IA generativa nas redes WhatsApp, Instagram e Facebook, para permitir que usuários façam perguntas e interajam com o sistema diretamente de seus apps. A princípio, a ferramenta começaria a chegar no Brasil, gradualmente, agora em julho.

Assim, dados de seus usuários disponíveis on-line e também “informações compartilhadas em seus produtos e serviços”, como postagens, fotos e legendas que constam de conteúdos públicos, estavam sendo utilizados para o treinamento dessas ferramentas de IA generativa.

“Como é necessária uma quantidade grande de dados para treinar modelos eficazes, uma combinação de fontes é usada para treinamento”, afirma a empresa, ressaltando que o conteúdo de mensagens privadas não é utilizado.

O que diz a lei no Brasil?

No Brasil, em razão da Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD), a companhia fornece a possibilidade do “direito a objeção”, ou seja, do dono do perfil optar por não ter suas informações públicas usadas para o treinamento das IAs. O processo pode ser feito diretamente nas redes sociais.

É possível bloquear o acesso a dados?

Para se opor a essa coleta de informações é preciso preencher um formulário disponível na página de política de privacidade da empresa. O usuário, então, precisa selecionar o país de residência e incluir o endereço de e-mail. Depois, ainda é necessário explicar o motivo do pedido. A Meta diz que é possível fornecer qualquer informação adicional que o usuário avalie que vai ajudá-la a analisar a objeção.

O bloqueio é imediato?

A solicitação ainda irá passar por uma avaliação da empresa. “Analisaremos as solicitações de objeção de acordo com as leis de proteção de dados relevantes. Se a sua solicitação for atendida, ela será aplicada a partir do momento que for aceita”, afirma a Meta.

Como fazer o bloqueio no Instagram?

O processo também pode ser feito diretamente pela conta no Instagram. Veja o passo a passo abaixo a ser seguido na rede social:

  • Entre no perfil e acesse os três traços que ficam no canto superior direito da tela;
  • Role até o fim da página e clique no ícone “Sobre”;
  • Escolha a opção “Política de Privacidade”;
  • Acesse o ícone de três traços ao lado da lupa, no canto superior direito;
  • Selecione a opção “Outras políticas e artigos”;
  • Desça até o título “Como a Meta usa informações para recursos e modelos de IA generativa”;
  • No texto do item “Política de Privacidade”, vá até o intertítulo “Privacidade e IA generativa” e clique na opção de “direito de oposição”;
  • Preencha o formulário e justifique a decisão.

Como funciona no exterior?

Na União Europeia, diferentemente do que aconteceu no Brasil, os usuários foram notificados da alteração na política de privacidade, o que gerou reação por parte das autoridades de dados do bloco econômico.

No dia 14 de junho, após um pedido da Comissão de Proteção de Dados (DPC, na sigla em inglês) da Irlanda, a empresa informou que iria adiar o início dos treinamentos de IA com informações dos usuários europeus.

A alteração tem gerado reações de usuários nos Estados Unidos, como de artistas que estão deixando o Instagram, por exemplo, para impedir que IA seja treinada a partir de seus trabalhos autorais. A ausência de legislação de dados rígida no país, no entanto, faz com que não haja opção de se opor ao treinamento. A única saída, por lá, é transformar a conta do usuário nas redes sociais da companhia em uma conta privada.

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