A indicação do diretor de Participações da Previ, Fernando Melgarejo, para ser diretor financeiro de Magda Chambriard na Petrobras, foi o último movimento visível de uma estratégia pela qual o fundo de pensão dos funcionários do Banco do Brasil vem ocupando cada vez mais espaços importantes para os objetivos de Lula 3.0.
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Além da petroleira, um diretor da Previ passou a integrar o conselho da Vibra (ex-BR Distribuidora) no final de abril, depois que o fundo de pensão comprou ações e aumentou sua participação de 3% para 6,38%. O fundo chegou a tentar um acordo com os outros investidores para ter mais um conselheiro, mas não conseguiu votos suficientes.
A entrada da Previ no conselho da Vibra foi vista por analistas de mercado e pelos próprios sócios como uma jogada afinada com o interesse do governo de recuperar a influência que deixou de ter em 2021, quando a Petrobras vendeu suas últimas ações da empresa.
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Lula sempre foi contra a privatização da companhia, que agora além de ser privada se tornou uma corporation – empresa de controle pulverizado, em que nenhum acionista dá as cartas sozinho.
O governo Lula em imagens
É o que acontece na Vale, em que a Previ tem 14,3%, juntando participações diretas e indiretas, e dois de 11 conselheiros – o ex-presidente da Previ Daniel Stieler, que é também presidente do conselho da Vale, e o atual presidente da Previ, João Fukunaga.
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Segundo integrantes da cúpula da mineradora e do governo, os dois agiriam em consonância ou sob a influência do ex-presidente do Sindicato dos Bancários de São Paulo João Vaccari Neto, que chegou a ter conversas de bastidores com acionistas para discutir a indicação de um CEO.
Tesoureiro do PT entre 2010, quando também coordenou as finanças da campanha de Dilma Rousseff à Presidência da República, e 2015, quando foi preso pela Operação Lava-Jato, Vaccari foi denunciado por corrupção passiva, lavagem de dinheiro e formação de quadrilha por operar esquema de arrecadação de propina para o partido no que ficou conhecido como o escândalo do Petrolão.
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Ele chegou a ser condenado a 24 anos de prisão e cumpriu quatro deles no Paraná, mas deixou a prisão em 2019 no regime semiaberto e teve a condenação cancelada pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Edson Fachin, que considerou a Justiça Federal paranaense incompetente para julgar seu caso.
A influência sobre as nomeações de Lula neste terceiro mandato começou a ser notada com a escolha de Fukunaga, próximo a Vaccari, para presidir a Previ (a indicação do presidente e dos diretores de participações e investimentos do fundo é prerrogativa do Banco do Brasil, que é controlado pelo governo).
Desde então, o nome do ex-tesoureiro é mencionado nos bastidores toda vez que se discute alguma indicação importante do fundo ou do governo para companhias estratégicas.
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Pressão por Mantega
Em janeiro passado, o presidente da República tentou emplacar no conselho ou como CEO da Vale o ex-ministro Guido Mantega, mas a iniciativa foi rechaçada pelos outros acionistas, como o empresário Rubens Ometto, que tem 2% da mineradora.
O governo então tentou convencer Ometto a fechar um acordo em torno da indicação de Paulo Caffarelli, ex-presidente do Banco do Brasil e da Cielo que também contava com o aval de Vaccari. Até agora, nada feito. O processo de escolha do CEO foi tumultuado por conflitos internos e adiamentos e ainda não acabou.
O próprio presidente da Previ, João Fukunaga, teve a indicação contestada quando assumiu o comando do fundo, que administra uma carteira de R$ 300 bilhões e 200 mil participantes. Ele chegou inclusive a ser afastado por liminar judicial, já derrubada, por não ter a experiência de três anos exigida por lei para ocupar o cargo.
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Fukunaga, que é professor de história, servidor do Banco do Brasil e sindicalista, admite ser amigo de Vaccari – "ele foi meu presidente", disse em conversa pelo telefone, referindo-se ao Sindicato dos Bancários –, mas nega que o ex-tesoureiro influencie na Previ e nas indicações para as empresas de que o fundo participa.
Fukunaga, porém, admite que segue a mesma linha de Lula em vários assuntos. "Sou crítico ao modelo de corporation, nunca escondi isso. Para não acontecer o que aconteceu na BRF, na Americanas, na Vale… A própria Vibra está meio à deriva", disse ele, que com a presença nos conselhos da Vale e do Aeroporto de Guarulhos acumula uma remuneração total de cerca de R$ 180 mil, incluindo o salário na Previ.
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Fukunaga diz que a Previ brigou para fazer parte do conselho da Vibra porque "a empresa estava tomando um rumo com que a gente não concordava em termos de sustentabilidade", referindo-se à escolha de Fabio Schvartsman para o conselho.
Schvartsman foi presidente da Vale na época do rompimento da barragem de Brumadinho (MG), em 2019, e responde a processos pelas mortes causadas pelo desastre.
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Fukunaga diz que a Previ é investidor de longo prazo e que a Vibra é "super rentável", daí o interesse em aumentar a participação e a influência na companhia.
Quanto à indicação de Melgarejo para a Petrobras, Fukunaga afirma que não teve a ver com ele ou com Vaccari, e sim com a presidente do Banco do Brasil, Tarciana Medeiros, que teria recomendado o executivo para a nova CEO, Magda Chambriard.