Cultura à la carte: restaurantes ampliam cardápio com palestras, exposições, lançamento de livros e confrarias

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Muito além de uma panetteria, a Padelli, em Ipanema, cede seu espaço para a realização de uma confraria de vinhos e para o encontro “Sexo filosófico”, que reúne mulheres com mais de 50 de anos para discutir temas como prazer e as transformações ligadas à fase madura. O grupo se reuniu no estabelecimento pela primeira vez na véspera do Dia dos Namorados, em 11 de junho. O próximo encontro será no dia 10 de julho, às 19h30, e terá como tema o orgasmo feminino, com palestra da psicóloga Luciene Dias.

— Nosso grupo já tem dois anos, e reunimos cerca de 60 mulheres a cada encontro. Nascemos na Barra, mas queríamos um espaço na Zona Sul para quem quisesse participar sem ter que atravessar o túnel. A Padelli nos acolheu. É um lugar aconchegante, com ótimas comidas e vinhos — destaca a esteticista Renata Gazotto, uma das idealizadoras do grupo.

Para o estabelecimento, a dobradinha é interessante, já que é uma das formas de ajudar na divulgação do espaço e do serviço e também de aumentar a receita em dias com menos movimento.

— É uma forma de apresentar a casa para novas pessoas, complementando a nossa gastronomia com conhecimento, diversão e cultura. Muitos chegam aqui para participar do evento e acabam se tornando clientes, e outros vêm pela comida e se surpreendem com a programação. Vamos inaugurar uma unidade na Avenida Atlântica e já vislumbramos uma agenda para a nova casa — diz o empresário Thácio Chaves.

Em Copacabana, o Parla! Trattoria também recebe palestras, feiras de vinhos, tardes de autógrafos, apresentações musicais e bate-papos filosóficos.

— Acho interessante frequentar ambientes que, além da gastronomia, ofereçam uma boa carta de vinhos e uma agenda de eventos ligados a esse universo. Assim, podemos interagir com pessoas que gostam de trocar conhecimentos e vivenciar boas experiências — diz a médica Betania Paes e Melo.

O restaurante receberá dia 18 uma feira de vinhos italianos com degustação, e, no dia 25, o evento “Viagem enogastronômica no universo de Frida Kahlo”, com a historiadora Ana Roldão e a consultora enogastronômica Marília Dias. A historiadora contará curiosidades da vida artística e amorosa da pintora, enquanto Marília apresentará um cardápio com elementos culinários da gastronomia mexicana que Frida apreciava.

— Quando você tem um ambiente agradável e comida de qualidade, é extremamente importante conectar-se com pessoas que têm o mesmo propósito. Eventos culturais, que trabalham o autoconhecimento, têm um público em comum que quer algo a mais, quer ser provocado, aprender — diz Marília.

Já o Verso Café Cultural, no Leblon, surgiu em 2023 já com o propósito de ser um espaço que unisse cultura, cafés especiais e comidas. A ideia nasceu das sócias Ana Castro e Elisa Castro.

— A etimologia da palavra cultura fala sobre o cultivo de alimentos, bem como o cultivo de conhecimento, por isso as duas se entrelaçam. O propósito do Verso Café Cultural é juntar a alimentação com arte e conhecimento — contextualiza Ana.

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O segundo andar do negócio, que ocupa um casarão tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico (Iphan), recebeu o nome de Sala Cultura. É lá que acontecem os eventos semanais, entre shows, cursos de história da arte, programação infantil, tardes de autógrafos, palestras, apresentações de coral e exposições de fotografia. Roberto Menescal, Ruy Castro e Cris Delanno estão entre os nomes que já passaram por lá.

Na agenda de julho, o talk show “Verso oferece um cafezinho com Patrícia Mellodi & convidados” será realizado às quintas-feiras, das 18h30 às 20h. Tem ainda o curso “História da arte vai ao cinema”, com Ana Cristina Nadruz; e a Oficina de Leitura e Escrita, com Marina Ivo.

— É um lugar onde me sinto em paz. Posso tomar um café e comer bolo, mas também subir e assistir a um debate ou show. São muitas opções na programação — garante a engenheira química Virgínia Martins da Matta

Em Ipanema, a Mercearia da Praça mantém uma adega subterrânea como um speakeasy, uma espécie de bar escondido. A decoração com luz baixa e mobiliário de madeira é para deixar o ambiente intimista. Lá, só entram 16 pessoas, que podem participar de jantares harmonizados e degustações com especialistas e produtores de vinho.

— Os eventos são muito exclusivos, e a proximidade com os produtores é incrível, ainda mais porque são poucas vagas e esgotam rapidamente —diz a advogada Márcia Medeiros.

A proposta é democratizar o vinho com bate-papos. Já passaram pelo local o enólogo português Paulo Laureano e outros de vinícolas como Esporão, Qualimpor e Quinta do Vallado.

— A ideia é promover encontros intimistas, e a nossa casa é uma espécie de Real Gabinete Português na cidade. Nada mais propício que o vinho para aproximar pessoas e proporcionar bons momentos —comenta o sócio Paulo Sauerbronn.

A Casa Camolese, no Jardim Botânico, acaba de lançar uma galeria com uma exposição de criptoarte, do artista Marlus Araújo, com curadoria de Liana Braz. A Galeria Digital Camolese nasceu para ocupar espaços não convencionais com projeções. A proposta é que a cada mês um novo artista leve o seu trabalho para o local.

— É uma arte que mistura criatividade, tecnologia e inovação numa comunidade artística que se organiza de forma descentralizada e colaborativa. As obras selecionadas têm em comum o formato criado especialmente para a galeria, com figuras abstratas feitas por partículas em movimento, evoluindo lentamente ao longo do tempo, numa experiência que só acontece no espaço da Casa Camolese — explica a curadora.

Marlus Araújo é designer, artista visual e programador criativo. Suas obras utilizam programação de algoritmos generativos para criação de peças visuais que remetem aos organismos naturais.

— “Mycelium studies” é uma série de experimentos em arte generativa desenvolvidos através do modelo de reação-difusão, também conhecido como “padrões de Turing”, que permite simular uma série de fenômenos naturais, desde as reações químicas até os processos de morfogênese biológica. As imagens remetem ao Micélio, a massa vegetativa ramificada de um fungo ou colônia bacteriana, responsável por carregar nutrientes e pelos processos de simbiose com outras espécies. As simulações orgânicas carregam meu interesse pessoal nas simbioses possíveis entre o orgânico e o eletrônico, passado e futuro, objetividade e subjetividade — detalha o artista.