Câncer ou bilhete premiado da “Mega-Sena” mal utilizado?
Ainda me causa um pouco de perplexidade ler matérias/artigos como esse do link anexo. Tentar atribuir uma eventual derrocada socioeconômica de uma cidade exclusivamente em razão do ciclo de vida natural de uma atividade minerária parece-me simplista, míope e desconexo da realidade.
A própria matéria ressalta que a mineradora é a maior empregadora do município, a empresa com maior contribuição para o orçamento da cidade e o principal vetor de fomento ao comércio local. Mesmo assim, atribui a ela a derrocada de outras atividades econômicas existentes na cidade na década de 1940! Indaga-se: quantos outros alambiques e fábricas têxteis fecharam no país nos últimos 40 anos sem que houvesse qualquer atividade minerária minimamente próxima? Dica: há exemplos fartos na região da Zona da Mata de Minas Gerais.
Ao invés de buscar vilanizar a mineradora por ter se tornado excessivamente relevante para a atividade econômica do município, talvez fosse mais assertivo questionar o porquê das contínuas e vultosas contribuições ao orçamento da cidade não terem sido melhor geridas pelos governos municipais que se revezaram nos últimos 80 anos à frente da gestão municipal. Ao fazer esse exercício, talvez se chegasse a um entendimento de que a atividade mineral não foi ou é um câncer que, por si só, destruiu as boas atividades econômicas ora existentes, mas, possivelmente, um bilhete premiado da “Mega-Sena” que foi mal administrado.
Caso o prêmio do bilhete tivesse sido melhor administrado, teria sido possível melhorar ainda mais a infraestrutura da cidade, atrair novas empresas e setores econômicos, diversificar a atividade econômica em todo o município e, com isso, reduzir drasticamente os impactos do eventual encerramento das atividades de extração mineral. Não haveria, assim, nenhuma bomba relógio ou risco de implosão da cidade, como alega existir a matéria.
Importante dizer que não se trata de utopia. O município de São Gonçalo do Rio Abaixo tem se mostrado um ótimo exemplo de gestão e utilização do potencial econômico advindo da atividade minerária. Finalista em 6 das 8 categorias da 2ª edição do “Prêmio Municípios Mineradores – Qualidade da governança pública em municípios com mineração”, idealizado pelo Ministério de Minas e Energia e realizado pelo IBRAM (Instituto Brasileiro de Mineração) e pela Agenda Pública, o município sagrou-se vencedor em 2 categorias: meio ambiente e educação. Mas, mais importante, para além do reconhecimento por meio da premiação, o município tem buscado diversificar sua atividade econômica, de maneira a reduzir a sua dependência da atividade de extração mineral existente no município que, inevitavelmente, um dia chegará ao fim.
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