Não é segredo que Silvio Santos tinha pouco apreço pelo jornalismo. Tanto que, há alguns anos, disse que preferia colocar no ar um episódio do humorístico mexicano “Chaves” (foto) ao invés de um telejornal.
Desde que faleceu, Silvio Santos se tornou o grande assunto da nação, recebendo as merecidas homenagens. Nesse espaço, já expliquei por que nunca mais haverá alguém como ele, e o que podemos aprender com seu legado.
Como qualquer ser humano, o gênio da televisão não era perfeito. Investir pouco em jornalismo era, para mim, seu pecado.
Ele tinha seus motivos. Produzir jornalismo de qualidade custa muito dinheiro! E o retorno pode ser proporcionalmente baixo, apesar de elevar a reputação de uma emissora, o que eventualmente lhe rende dividendos.
Silvio Santos era um fenômeno do entretenimento popular e um gestor focado nos lucros. Foi responsável pela popularização por aqui de “Chaves”. Mesmo reprisado exaustivamente, a série atinge uma audiência considerável. Com um investimento baixo no seu licenciamento, o SBT consegue bons anunciantes.
Para quem se preocupa apenas com lucro, simplicidade operacional e apelo popular, faz sentido privilegiar “Chaves” a um telejornal. Esse era o raciocínio de Silvio Santos.
Então por que isso era um problema?
Silvio Santos foi um dos maiores formadores de opinião do país. Portanto, um comentário como esse desmerece a importância do trabalho jornalístico para uma parcela significativa da população, o que prejudica seriamente a cidadania: um povo desinformado é facilmente manipulável.
Além disso, ele era proprietário de uma grande emissora, com enorme audiência. Ao rebaixar o jornalismo em sua grade, privou seu público de um serviço essencial para o desenvolvimento do indivíduo e da nação. Vale lembrar que a lei determina que emissoras de rádio e de TV destinem pelo menos 5% de sua programação para algum serviço noticioso. Isso significa que uma emissora que transmite nas 24 horas deve reservar pelo menos 72 minutos para notícias diariamente.
Além disso, Silvio Santos sempre cultivou a proximidade com todos os governos, a um ponto de bajulação. Dizia que o presidente era seu “patrão”. E mais de uma vez, isso conflitou com os jornalistas que desejavam fazer uma cobertura isenta.
Quando uma grande emissora, como o SBT, não assume essa responsabilidade, contribui para a despolitização e a alienação do povo. Isso leva a esse cenário de radicalização que rachou o país ao meio.
É pouco provável que o SBT mude essa política com a morte e Silvio Santos. Seu brilhantismo uniu o país em torno do entretenimento e criou uma eficiente máquina de negócios.
Dessa forma, caberá a outros atores da sociedade investirem na informação e na formação dos cidadãos. Enquanto isso, o SBT garantirá as risadas com o “Chaves”.
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