É possível motivar sua equipe (sem falsidades) – comece por você
Em tempos de crise, é comum a empresa forçar uma cultura de “mil maravilhas”, fazendo-a parecer inabalável aos movimentos de mercado. Vamos discutir os problemas dessa postura e descobrir formas autênticas de motivar seus colaboradores.
Os dois tipos de estrada
Mas antes, quero te convidar para uma viagem de carro, ok? Imagine a estrada que você mais gosta de dirigir, a que você prefere para ir a determinado lugar. Apesar de ter outras possibilidades, você escolheu essa estrada por alguns motivos:
Agora que já pensou na estrada que você mais ama, quero que procure um lugar seguro nessa estrada para estacionar seu carro. Sim, você vai deixá-lo em algum lugar, bem guardado e ao descer do carro, notará que no chão, bem do lado, tem um facão. Ele agora é seu.
Olhe para o lado direito da estrada e veja um matagal enorme, alto, de perder de vista. Meu convite agora é para que você pegue esse facão e se embrenhe no mato para abrir caminho. Os desafios prováveis serão:
As estradas e a nossa mente
Esse cenário que desenhei para você serve para entender como funciona nossa mente. Imagine que aprendemos a pensar de certa forma sobre vários assuntos. Lemos coisas a respeito, ouvimos pessoas falarem nas igrejas, nas escolas, na própria família, tudo do mesmo jeito – crença empilhada sobre crença.
De tanto ouvir, você pavimenta uma “estrada” na sua mente. As sinapses são construídas. Isso fica tão forte que, quando qualquer pessoa ou evento remotamente traz um assunto à tona, rapidamente sua mente acessa esse caminho mais fácil a uma resposta ou conclusão. Dessa forma, seu cérebro economiza energia e tem acesso mais rápido às informações.
O problema é que o fato de uma “estrada-sinapse” estar construída e fortalecida em nossa mente, não significa que esse tipo de pensamento que você tem é o melhor.
Dá para desfazer uma crença ruim cristalizada?
Posso citar um exemplo meu aqui das muitas vezes que fui assaltada em São Paulo e de quando passei por um sequestro. Cada um desses eventos geraram um medo absurdo. Cheguei a ter crises de pânico, tamanha a minha dificuldade em lidar com essa pavimentada estrada. O esquema funciona da seguinte maneira:
Quando algo dá errado ou quando sou avisada de um problema, meu corpo todo é banhado por uma sensação de formigamento, em seguida meus músculos ficam tensos. Pronto! Já estou em estado de alerta e estresse!
A história que meu cérebro conhece é a de que sofri muita violência e sempre foi horrível essa sensação. Dessa forma, se algo ruim acontece agora, mesmo que seja insignificante, a estrada pavimentada das minhas sinapses é acessada instantaneamente. É um caminho que já conheço, sei como começa e como termina. O pedágio caro que pago nessa estrada é que, por acreditar nessa história que meu cérebro insiste em repetir, mantenho fortalecido o círculo vicioso do medo. E ele me leva ao estresse, à retração e até a doenças emocionais e físicas.
Uma nova estrada dá trabalho, mas a recompensa é a liberdade.
Histórias que contamos para nós mesmos
Então é muito importante pensarmos em que histórias estamos contando para nós mesmos. Estamos fixados no passado, nos dramas, nas falcatruas que nos fizeram? Se isso acontecer, nossa mente mesmo tendo possibilidade de escolher caminhos diferentes, até melhores, optará por ir por um lugar que ela já conhece.
Muitas vezes é necessário pegar um facão e abrir caminho no meio do mato. Essa é a capacidade que temos de contar uma nova história e fazer uma nova sinapse. Mas como ela é nova, se eu não percorrer esse novo caminho mais vezes, passado algum tempo, o caminho estará todo tomado de mato novamente.
Para que esse novo caminho se torne uma estrada pavimentada, terei que passar ali por diversas vezes. Muito mais do que pela estrada antiga, ou não conseguirei me libertar dos pensamentos ruins, de fracasso, incapacidade, medo, solidão.
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Vai dar um trabalhão imenso! Literalmente temos que forçar nossa mente a prestar atenção a uma nova história, que nos motiva e faz ir além. No meu caso, muitas coisas dão início ao meu pensamento de medo. No entanto, quando me recuso a seguir por essa estrada pavimentada, passo a mão no facão e arregaço as mangas, para abrir caminho em um novo jeito de pensar sobre o assunto.
Me lembro de que fui capaz de sair de todas as enrascadas que vivi, que sobrevivi à violência, que tive ideias ótimas para ultrapassar obstáculos. E pouco a pouco, o caminho novo vai se fortalecendo e meu medo se dissipando.
Nessa nova estrada não há pedágios. E o resultado é a liberdade de poder escolher em quais histórias você vai focar sua atenção. E isso não tem preço nessa vida!
A anatomia da motivação
Quando falamos em motivar pessoas, temos que lembrar o seguinte:
“Nossa mente humana é desenhada para pensar em termos de narrativas, de sequências de eventos com dinâmica e lógica interna que lhes dê a aparência de um todo integrado. Esse aspecto se relacionaria com o fato de que uma grande parte da motivação humana vem da nossa condição de vivermos uma história, a história da nossa vida, que nós contamos para nós mesmos e que cria um contexto de motivação. E isso vale para motivar terceiros – é um expediente que se valem grandes líderes, e muitas vezes também grandes contadores de histórias, que fomentam a confiança em nações, empresas e instituições.” – Akerlof e Shiller, citado por Vera Rita de Mello Ferreira, in A cabeça do investidor: conheça suas emoções para investir melhor (Évora, 2011).
Por isso, a pergunta: “que histórias anda contando para si mesmo?” é muito importante. Dependendo do tipo de história, você destina sua mente para uma crença já cristalizada. E aí nem com picareta a gente consegue fazer um sujeito mudar de ideia.
Meu convite aqui como coach é que, antes de querer motivar qualquer pessoa, comece por você. Escolha histórias possíveis e que te estimulem. Conte-as para si mesmo até o caminho ficar bem marcado e não nascer mais mato nele. Caso apareça uma erva daninha aqui ou acolá, vai lá e arranca. Não deixe que crenças antigas e gosmentas impeçam você de avançar por um novo e bom caminho.
O mais importante é motivar você mesmo
Tenho visto muita gente em um movimento “eu posso mudar o mundo”, mas nem sequer arrumam a própria cama. São pessoas que acham que com soluções baratas e frases prontas ouvidas num seminário qualquer, ou lida em livros rasos, vão sair por aí como se estivessem exorcizando demônios dos outros.
Bons líderes são autênticos contam histórias a partir de suas próprias experiências positivas, sem invalidar o outro. Para ilustrar, deixo aqui um vídeo do TED de Simon Sinek. Vale muito a pena assistir!
E se desejar saber mais sobre motivação indico Daniel Pink e Motivação 3.0.
Sou capaz de controlar apenas aquilo de que tenhoconsciência. Aquilo sobre o que não estou consciente me controla. Tornar-me consciente me dá poder”. John Whitmore, Coaching for Performance
Motivar é mais profundo e difícil de se fazer do que pregam por aí. Muito cuidado para não caia em um engodo. Abra seus próprios caminhos, construa suas estradas, pavimente suas ideias novas e bem alicerçadas, liberte-se de seus preconceitos. Lidere pelo exemplo, reveja sempre as histórias que conta a si mesmo e aos outros.
Faz sentido para você? Então compartilha com quem acha que poderá tirar proveito desse tema.
Abraço afetuoso,
Adriana
Sócio na LongVision
6 aLegal Adri! Gostei desta reflexão "Então é muito importante pensarmos em que histórias estamos contando para nós mesmos. Estamos fixados no passado, nos dramas, nas falcatruas que nos fizeram? Se isso acontecer, nossa mente mesmo tendo possibilidade de escolher caminhos diferentes, até melhores, optará por ir por um lugar que ela já conhece" Um abraço!