O que é ser líder na gestão de pessoas
Em tempos de cortes e mudanças, o que faz as pessoas permanecerem nas empresas? O que faz com que elas estejam engajadas? Saber o que é ser líder e qual papel do líder é a peça chave para as empresas garantirem equipes eficazes, mesmo nas piores épocas de crise.
Nunca as lideranças foram tão importantes para a sobrevivência e o sucesso das empresas. Hoje os profissionais não hesitam em pedir demissão, caso não se sintam bem no ambiente de trabalho. Sem contar que a maior causa de mudança de emprego, disparadamente, tem relação com os superiores. Incrivelmente, as pessoas pedem mais demissão por conta da relação ruim que têm com seus chefes, do que por conta de aumento de salário.
“Um líder não existe sem conseguir desenvolver as melhores pessoas sob ele” – Ram Charan
Esses fatos geram uma boa reflexão! Parece, inclusive, que há alguns aspectos em comum nos bons líderes.
Quanto ao que não se deve fazer, escrevi também sobre isso, caso queira ler mais no artigo “Líderes Corajosos.”
Acredito que tudo começa pelo fato de culturalmente as empresas não desenvolverem um programa de banco de talentos. Antes de assumirem um cargo de liderança, as pessoas deveriam ser preparadas para tamanha mudança.
Preparo que só traz benefícios
Os benefícios dessa visão estratégica são muitos, segundo CHARAN, R., DROTTER, S. & NOEL, J. (2001) em The Leadership Pipeline – How to Build the Leadership-Powered Company :
1. Ajuda a planejar a sucessão e o desenvolvimento da liderança.
2. Promove a conscientização dos colaboradores sobre as lacunas em seu desempenho.
3. Ajuda o RH a direcionar o desenvolvimento das pessoas mais efetivamente.
4. Permite que as promoções possam ser mais bem avaliadas.
5. Ajuda a selecionar potenciais líderes com foco nas habilidades exigidas em cada nível de gestão.
6. Possibilita um diagnóstico capaz de corrigir situações inapropriadas à estratégia do negócio e descartar pessoas incompatíveis ao nível de liderança em que atuam.
7. Imprime continuidade à trajetória profissional das pessoas, dando tempo para que absorvam valores e adquiram as habilidades necessárias de cada etapa.
8. Reduz o tempo necessário para preparar indivíduos da organização.
Afinal, o que é ser líder?
Segundo Peter Drucker, os líderes eficazes sabem quatro coisas simples:
- A única definição de líder é alguém que possui Seguidores.
- Um líder eficaz é alguém cujos seguidores fazem as coisas certas. Popularidade não é liderança. Resultados sim.
- Os líderes são bastante visíveis. Portanto servem de Exemplo.
- Liderança não quer dizer posição, privilégios, títulos ou dinheiro. Significa Responsabilidade.
No entanto, não é o que se vê na maioria das empresas. Por isso, é importante que cada pessoa interessada no papel do líder, busque desenvolver habilidades essenciais para a função de liderança. Aqui vou destacar pelo menos três dimensões: aplicação de tempo, valores profissionais e habilidades.
Tempo
O papel do líder é entender que sua agenda deve contemplar espaço para seu principal cliente: o colaborador
Antes de ser líder, a divisão do tempo era a seguinte:
- Disciplina diária (chegada e saída);
- Cumprir prazos;
- Participar de reuniões;
- Administrar o próprio tempo.
Depois que foi promovido para uma função de liderança, a dimensão da divisão do tempo direciona a forma como esse líder vai trabalhar:
- Tempo para planejamento;
- Tempo solicitado aos subordinados;
- Tempo demandado dos subordinados;
- Agenda do superior;
- Agenda corporativa;
- Agenda de pares;
- Tempo para projetos integrados;
- Tempo para fornecedores;
- Tempo para clientes internos e externos;
- Tempo para viagens;
- Tempo para benchmarking.
De repente líder
É de extrema importância entender que parte da agenda deve ser distribuída para o papel de gerente (burocracias, estratégias, relatórios, reuniões). Outra parte, não menos importante, deve ser para a equipe. E é essa a parte que chamamos de agenda do líder.
Sei que deve estar pensando na sua falta de tempo no dia a dia. Mas o fato é que os presidentes de multinacionais que atendo em coaching são pessoas com muitas atribuições. Muitas vezes ele respondem a um ou mais países e ainda assim dão conta do processo todo. Mas para chegar nesse nível de excelência é necessário aprender a ser muito produtivo e ter uma visão bem importante sobre o que é prioridade e produtividade. Essa é uma das habilidades profissionais mais buscadas hoje em dia.
As pessoas não estão preparadas para essa mudança. Não entendem qual o papel do líder e, muito menos, o que é ser líder. E o que ocorre, de fato, é que não sabem gerir o tempo para atender tantas demandas. E, no desespero, muitos líderes acabam fazendo mais do mesmo: ou não delegam e ficam super atribulados e com dificuldades para executar tudo que precisa ser feito; ou “delargam”, não fazem follow-up e, no final, esperam que tudo esteja pronto como em um passe de mágica.
Valores
Os princípios servem como bússola para dar o norte nos momentos mais difíceis.
O que as pessoas consideram importante é o que vai direcionar o foco de onde a energia é empregada.
Antes de ser líder, a pessoa provavelmente regia seu trabalho a partir dos seguintes valores:
- “Dou conta sozinho”;
- Ser seguidor;
- Obter resultado por meio do domínio profissional;
- Área específica;
- Trabalho de qualidade;
- Sucesso pessoal;
- Aceitação dos valores da empresa.
Mas quando a pessoa passa para o nível de liderança, esses valores mudam:
- “A equipe dá conta”;
- Obter resultados por meio de outros;
- Influenciar seguidores;
- Liderar de fato;
- Acreditar no potencial humano;
- Sucesso dos subordinados;
- Sucesso da área;
- Integridade visível e exemplar.
Quando os valores e princípios não estão claros, fica difícil nortear as tomadas de decisão. Até porque na maioria das vezes não existem respostas prontas para os problemas de cada dia. Se o líder não for regido por princípios bem definidos, a chance de ele passar por cima de tudo e de todos para conseguir resultados é enorme. É o que chamo de gerente “empilha cadáveres” para conseguir o que quer. Não podemos desconsiderar que a equipe percebe a índole e que tipo de princípios e valores aquele líder tem. Se ele fala mal de outras pessoas da equipe ou da empresa, se critica os clientes, se é beligerante, se dá um jeitinho esperto para se dar bem e resolver um problema… Tudo isso é perceptível e irá depor contra ele.
O papel do líder é identificar os níveis de maturidade
Ser líder envolve gostar de pessoas, ter paciência para lidar com as diferenças e entender que cada membro da equipe tem um nível de maturidade.
Por exemplo, quando uma pessoa da equipe tem uma maturidade de bebê para a função, o líder deve ter tempo e habilidade para ensinar tudo que for necessário.
Quando o colaborador tem maturidade de uma criança para a função, é papel do líder treinar, desenvolver o que for preciso.
Se a pessoa está com maturidade de adolescente para a função, então precisa implementar um sistema de liberdade vigiada, em que dá um pouco de espaço, mas não perde de vista o acompanhamento dos indicadores.
Por último, quando o líder tem na equipe uma pessoa cuja maturidade é de adulto, daí sim ele pode delegar e esperar que dê tudo certo.
Entender e gostar de praticar esse tipo de liderança situacional precisa fazer parte dos valores e princípios de um líder na gestão de pessoas.
Habilidades
Novas capacidades requeridas para realizar novas atividades são essenciais na liderança. Muitos conhecimentos, habilidades, atitudes e talentos são necessários para uma desenvoltura desejada. São eles que determinam os aspectos do papel do líder e o que é ser líder, de fato.
Ser um líder na gestão de pessoas exige preparo, dedicação e tempo empreendido em estratégia. Sobretudo no cuidado do exemplo que dá aos outros. Afinal, as pessoas copiam as atitudes e comportamentos de um líder mais do que aquilo que ele diz.
Se ainda você ainda não é líder ou está iniciando um processo de liderança, aqui mostro alguns caminhos que levam ao conhecimento. Assuma que a responsabilidade de ser um grande líder é sua!
Estilos de liderança
Existem vários estilos de liderança que devem ser levados em consideração, segundo – Daniel Goleman HBR 2000, em Inteligência Emocional.:
Coercivo – exige obediência imediata;
Mensagem – faça o que eu digo;
Competência de IE (inteligência emocional) – motivado para conseguir, iniciativa, autocontrole;
Quando usar – momentos de crise, funcionários problemáticos;
Impacto no clima – negativo.
Mobilizador – mobiliza pessoas em direção à visão;
Mensagem – venham comigo;
Competência de IE – autoconfiança, empatia, gerador de mudanças;
Quando usar – quando a mudança requer uma nova visão, uma direção mais clara;
Impacto no clima – o mais positivo.
Afiliativo – cria harmonia e ligação emocional;
Mensagem – as pessoas em primeiro lugar;
Competência de IE – empatia, relacionamentos, comunicação;
Quando usar – curar rixas em times, motivar em momentos de estresse;
Impacto no clima – positivo.
Democrático – cria consenso através de participação;
Mensagem – o que você acha?;
Competência de IE – colaboração, liderança de time, comunicação;
Quando usar – para conseguir consenso, influência, para ter mais input;
Impacto no clima – positivo.
Marca-passo – impõe padrão alto de performance;
Mensagem – faça o que eu faço, agora;
Competência de IE – motivado para conseguir, iniciativa;
Quando usar – para ter resultados rápidos de uma equipe altamente motivada e competente;
Impacto no clima – negativo.
Treinador – desenvolve pessoas para o futuro;
Mensagem – experimente isso;
Competência do IE – desenvolve os outros, empatia e autoconsciência;
Quando usar – para ajudar o funcionário a melhorar a performance ou a desenvolver qualidades a longo prazo;
Impacto no clima – positivo.
Liderança situacional
O estilo a ser utilizado varia de acordo com a necessidade do momento, por isso chamamos de liderança situacional. Essa percepção aguçada e discernidora é que vai ajudar o líder a entender que ritmo deverá adotar.
São três habilidades necessárias para um líder situacional:
- diagnóstico: o desejo e a capacidade de analisar uma situação e avaliar as necessidades de desenvolvimento dos colaboradores a fim de decidir qual estilo de liderança é o mais apropriado para o objetivo ou tarefa.
- flexibilidade: a capacidade de utilizar com segurança uma variedade de estilos de liderança
- parceria para desempenho: obter consenso com as pessoas em relação ao estilo de liderança necessário para atingir objetivos individuais e da empresa.
Semelhante ao tempero, dosar o estilo vai ajudar a realçar o que cada time tem de melhor. Porém, se um estilo for usado em demasia, o time pode sair de controle…
A tarefa de liderar não é nada fácil. Por isso é que até mesmo executivos promissores falham em suas lideranças. Uma pesquisa feita por Mc Call e Lombardo revela as principais características que devem ser evitadas por aqueles que desejam ocupar papéis de liderança.
Veja quais são os problemas mais comuns relacionados aos líderes encontrados na pesquisa:
- Intimidam, são ríspidos;
- São frios e arrogantes;
- Traem a confiança de seus subordinados ou pares;
- São ambiciosos demais;
- Têm problemas específicos de performance;
- São incapazes de pensar estrategicamente;
- São incapazes de delegar ou trabalhar em equipe;
- Têm dificuldade de se adaptar ao chefe.
Se questione sempre
Então quero propor alguns questionamentos que podem ser úteis para aqueles que desejam ser líderes inspiradores e eficazes. Faça sempre as seguintes perguntas pra você mesmo:
- Qual a marca que estou deixando no meu trabalho?
- Como serei lembrado?
- Do que tenho orgulho no que faço?
- Por que muitos querem trabalhar comigo?
- Qual minha contribuição atual para melhoria da empresa/sociedade ?
Esses questionamentos podem ajudar muito a identificar o papel do líder, a entender o que é ser líder, a desenhar um norte e a construir marca de liderança.
Para finalizar, lembro que algumas coisas podem motivar muito as pessoas de uma equipe, segundo DEAN Spitzer – Supermotivation 1995:
- Faça o trabalho mais ativo;
- Tenha momentos de diversão no trabalho;
- Adicione variedade no trabalho;
- Peça input aos funcionários na área em que eles tenham mais conhecimento (aumenta a autoestima);
- Deixe-os fazer escolhas com frequência;
- Deixe-os se responsabilizarem pelo trabalho que fazem;
- Ofereça oportunidades de liderança;
- Sempre que possível, use o poder do trabalho em equipe;
- Deixe os funcionários usarem suas qualidades / talentos;
- Ofereça muitas oportunidades de aprendizado de alta qualidade;
- Tolere erros;
- Ofereça medidas de desempenho frequentes, objetivas e não ameaçadoras;
- Encoraje-os a definir metas que são importantes para eles;
- Crie ambiente onde todos os funcionários queiram melhorar tudo – inclusive eles mesmos;
- Desafie os funcionários a expandirem seus limites;
- Ofereça encorajamento abundante;
- Crie um clima de apreciação;
- Instale um profundo senso de apreciação pelo significado de seus esforços.
Plano de ação
Agora minha sugestão é que faça um plano de ação para sua gestão esse ano. Inclua tudo que considerar relevante, exclua aquilo que estiver fora do contexto, simplifique, foque no essencial, valorize os talentos seus e de sua equipe. Seja aquele tipo de líder que todo mundo deseja ter um dia na carreira.
Para se apronfudar um pouco mais nas questões de liderança e influência, deixo aqui a sugestão de alguns episódios do meu Podcast Escola de Carreira.
Abraço afetuoso,
Adriana
P.s: Lembre-se que existem várias maneiras de se manter atualizado com os conteúdos que crio.
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Process Engineer at Volvo Trucks
6 aParabéns pelo artigo. Muito bom e esclarecedor.