É possível pensar em Educação 4.0 se ainda estamos na 1.0?
Estamos vivenciando a Quarta Revolução Industrial. A humanidade está se transformando rapidamente e o futuro, que antes parecia tão distante, está invadindo nossas casas em uma velocidade assustadora.
Através dos benefícios da vertiginosa evolução tecnológica que acontece diante de nossos olhos, podemos nos conectar facilmente com familiares e amigos do outro lado do mundo, conhecer virtualmente uma cidade tão sonhada ou ainda desfrutar das comodidades trazidas por máquinas inteligentes.
Boa parte deste arcabouço tecnológico pode servir como ferramental para evoluirmos também na educação. As facilidades de acesso à informação e a tantos outros recursos para turbinar as salas de aula.
Mas não é isso que estamos vendo na prática!
Então falta tecnologia em nossas escolas?
As famosas TICs (Tecnologias de Informação e Comunicação), formam talvez primeiro conceito formal de aplicação de tecnologia como meio para ajudar o processo de ensino-aprendizagem, e estão aí disponíveis e sendo ensinadas nos cursos de graduação em Pedagogia há pelo menos 15 anos e foram amplamente utilizadas na estruturação do Ensino à Distância no país.
Mas, apesar do incentivo para construção de salas de informática desde o final dos anos 1990, (apenas para citar esse exemplo de política de entrega de tecnologia sem nenhum tipo de suporte ao professor ao projeto pedagógico) no Brasil ainda precisamos construir cerca de 130 mil bibliotecas até o ano de 2020 buscando cumprir a Lei 12.244, que exige um acervo de pelo menos um livro por aluno em cada instituição de ensino, segundo fontes do próprio Censo Estudantil de 2014 a 2016, já que 65% das escolas hoje sequer possuem tais estruturas!
Apesar disso, a Educação 4.0 não é apenas tecnologia, ela traz um mindset de colaboração e uma melhoria para os ambientes para que possam potencializar o processo de ensino-aprendizagem, permitindo que o professor e o aluno tenham mais tempo para discussões profundas por intermédio do desenvolvimento prático de habilidades, já que a base fundamental de conhecimento está pública e de fácil acesso, desde que o ferramental esteja disponível. Então:
- Como implementar Flipped Classroom se boa parte dos nossos alunos chegam na 3ª série sem saber ler e escrever fluentemente?
- Como implementar o conceito de Learning by Doing ou Metodologias Ativas através de projetos se boa parte dos nossos professores não possuem suporte e um descente plano de carreira?
- Como lecionar Empreendedorismo se ainda não lecionamos Educação Financeira básica?
Retomando o cerne da questão, sobre a busca incessante da inovação no ambiente escolar, é evidente que as instituições privadas largam na frente (um passo, vai!). Com poderio financeiro, conseguem aglutinar profissionais com carga horária dedicada para construção de um projeto pedagógico sólido envolvendo corretamente o ferramental tecnológico, garantindo uma série de outras metodologias que compreendem na desconstrução dos modelos falidos de educação, criados há décadas (ou séculos) e que não agregam mais ao aluno contemporâneo.
Agora, se tratando de escolas públicas:
Cerca de 38% dos professores não lecionam em disciplinas ou conteúdos de sua formação e ainda 12% sequer tem formação no Ensino Superior. Fonte: Censo Estudantil 2015
Então falta investimento público em nossas escolas?
Você sabia que o nosso país destina 5,6% do seu PIB para Educação e que este percentual é superior a uma série de países ficando acima da média da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico), formada por 35 países incluindo os EUA, Japão e Alemanha?
O que falta é capacidade de gestão e cuidado com o dinheiro público. A distribuição deste investimento anualmente não chega até as escolas, seja em infraestrutura, seja em folha de pagamento aos professores ou ainda na montagem de projeto pedagógico coerente.
Afinal é possível pensarmos nas vantagens da Educação 4.0 hoje no Brasil?
Eu sou um entusiasta e um otimista de carteirinha quando se trata de Educação. Trabalhei por 12 anos neste setor e sou apaixonado pelo tema. Assim como boa parte da população, acredito piamente que o futuro do país gira em torno da reconstrução da educação pública e privada, já que estamos atrasados neste quesito como sociedade.
Não é feio sonhar, o futuro é agora e a transformação do mundo está nos dando um tapa na cara, mas é necessário que antes de pensarmos em Educação 4.0, ou ainda que pensemos nela, precisamos atingir os patamares 1.0, 2.0 e 3.0 de forma consistente.
Precisamos de mais engajamento da iniciativa privada, precisamos de união do Estado com a sociedade e precisamos ainda mais de profissionais que desçam da estratosfera intelectual e atuem efetivamente para um país melhor!
Diante dos fatos que descrevi ao longo deste artigo, prova-se que temos capacidade intelectual e de investimento para mudar a situação periclitante que vemos no Brasil através de um Plano Nacional de Educação sólido, estruturado, bem gerenciado e com metas factíveis.
Um Plano Nacional não de um governo, mas no sentido de NAÇÃO!
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Advogado
6 aExcelente abordagem e artigo bem definido. É Inexorável perquirir o escopo CERTO, Existem Recursos, Existem Métodos (Gilberto Freyre), entretanto os Desvios de Recursos e as Aplicação Equivocadas dos Métodos. Tenho "O filho - Primogênito" e esta geração bem estimulada REALIZA 5.0, Oportunidades e Gestores Certos Já FAZEM a Diferença. Vamos Repensar/Realizar, pois o tempo "Não Para", enquanto nos maravilhamostra com outras "Culturas", perdemos de vista o essencial - A Nossa Própria História. FATO: A Moeda do Euro/Real ("Semelhantes!???") e o Dolar/Libra. Quando pequeno, lá se vão, 40 anos distinguimos as Cédula pelos vultos históricos impressos nas Cédulas e Hoje: Só a "Gueicha da República". ENTENDEU O ESCOPO?!!!
Supervisora de Arte, Editoração e Produção Digital
6 aEberson, gostei muito do artigo, infelizmente estamos diante de uma problema enorme e com ações muito desconexas para a sua solução. Acredito também que a única salvação de nosso país será através da educação de qualidade e com medidas efetivas para todos terem a oportunidade do aprendizado.
Analista de Suporte a Sistemas
6 aInfelizmente até que seja alcançada ao menos a educação 2.0, desafios imensos devem ser vencidos.
Diretor de Operações na ZOPU Bitrix24 GOLD Partner | Ajudando empresas a se organizarem para crescer | O cara do CRM
6 aOlá Eberson, muito bacana seu artigo e perspectivas. Sou profissional da indústria mas já tive uma breve experiência no setor de educação. Em ambas as áreas notei o mesmo grave problema de alocação de recursos humanos reduzindo a produtividade de todo o sistema. Pessoas que tinham todos os atributos para serem líderes desempenhando papéis operacionais enquanto pessoas com habilidades medianas crescendo dentro do sistema devido a apadrinhamentos. O tapinha nas costas infelizmente ainda é uma habilidade muito visada por nós. Afora isso eu acho que o setor educacional requer um pouco mais de atenção porque ele sofre do mal da retroalimentação de ideias. A pessoa entra no setor, vive as experiências, vê o que está errado mas não consegue enxergar nas ferramentas disponíveis um vislumbre de como mudar essa situação. Porém nosso ethos acadêmico possui alguns dogmas que nos impede de eliminar a causa desses problemas então boa parte de nossas "soluções" são paliativas justamente por serem quase sempre "uma nova visão de um velho conceito", ignorando que enquanto não abraçarmos novos conceitos, sem medo de aplicar ideias estrangeiras ou de derrubar velhos ídolos, estaremos presos na educação do século XIX.