É VERDADE QUE USAMOS APENAS 10% DO NOSSO CÉREBRO PARA MEMORIZAR COISAS?
Não. Não é verdade. Esta porcentagem é uma tolice e não existe estatísticas ou fita métrica magica que admitam um outro percentual qualquer para nossa capacidade de memorização. Usamos mais ou menos nossa mente de acordo com a natureza das relações que temos com as pessoas e as coisas, conforme nossas ações e desafios impostos pela evolução, pela sobrevivência e por múltiplas interações, mas jamais podemos acreditar que, usando apenas uma parte, deixamos uma certa “reserva” à espera de milagres futuros.
Essa história de 10% que se encalacrou em nossa cultura, transformando-se em dúvida cruel ou certeza definitiva, nada mais é que uma interpretação infeliz feita por um cientista britânico de nome Karl Lashley, há cerca de cinquenta anos.
Lashley treinou ratos famintos para correrem por uma gaiola-labirinto montada em seu laboratório, em troca de uma recompensa sobre a forma de um alimento desejado. Depois, operou várias vezes os infelizes bichinhos, removendo partes cada vez maiores de seu córtex cerebral, pretendendo determinar o momento em que os ratos não mais podiam “lembrar” a saída. Para sua surpresa, percebeu que, mesmo depois de remover cerca de 90% do córtex, os ratinhos achavam a saída e a comida. Sabendo que existe similaridade entre os cérebros de homens e de ratos, talvez por isso, que muitos agem como estes, concluiu erradamente que apenas 10% do cérebro era necessário para a memória funcionar.
O que Lashley não percebeu, ou talvez não sabia, era que a mente não possui apenas uma memória e que existem muitas representações diferentes da mesma, abrigadas em partes diferentes do cérebro. Nossa mente cuida de gravar também “na nuvem” o que no hardware se registrou. Os Lashley, como qualquer ser humano, mesmo com parte do cérebro destruído, podiam, por exemplo, perder a memória da visão, mas guardavam suas memórias olfativas, auditivas e até mesmo táteis para achar a comida. A mente de ratos e de homens é esperta e diversificada e em uma ação relativa simples a fantástica coleção de neurônios, explodindo incontáveis sinapses, acordando inúmeras sensações, estimulando múltiplas inteligências.
O essencial é mais que claro: não é saber quanto usamos da mente e de uma de suas mais fantásticas funções que é a memoria, mas principalmente como a usamos.
- * Trecho do meu livro "Na sala de aula", Editora: Editora Vozes; Idioma: Português.
Acesse: www.celsoantunes.com.br
Professor da UFRGS | Universidade Federal do Rio Grande do Sul | Departamento de Geografia | Programa de Pós-Graduação em Geografia
4 aGrande Prof. Celso Antunes! Referência em nossos fazeres e saberes!