#05/07 - A Armadilha do Controle

#05/07 - A Armadilha do Controle

Nos momentos em que não somos mais capazes de mudar a situação, somos então desafiados a mudar a nós mesmos
- Viktor Frankl”

Um cliente decidiu fechar definitivamente o escritório de sua cidade: todos (100+ profissionais) em home office! Penso na mudança que isto acarreta à vida pessoal e profissional das pessoas.

Esta é apenas mais uma das mudanças que se tornaram constantes em nossas vidas. Quando pensamos que nossas carreiras e negócios estão entrando em velocidade de cruzeiro, surgem outras mudanças, tão ou mais intensas que as anteriores.

Esta é a angústia dos que estão presos na armadilha do controle[1] – cujo arquétipo é o micromanager. Contrariamente ao senso comum, ele não está preocupado com pessoas (até porque sua preocupação com a individualidade dos colegas é bem menor do que a preocupação com os objetivos que tem em mente); o que a ele mais importa é assegurar que o trabalho saia exatamente como antecipadamente deseja.

Como em ambientes complexos e incertos os efeitos de nossas ações não podem ser garantidos, os sujeitos à armadilha do controle estão pouco adaptados ao trabalho e aos negócios. Não é possível controlar a incerteza nem aguardar o melhor momento, da mesma forma que um surfista controla as ondas do mar e não pode esperar a melhor onda, pois tem tempo limite na disputa. É ilusão desastrosa acreditar que podemos controlar como reagirão pessoas, o ambiente, o mercado, os consumidores, o futuro. Os sujeitos à armadilha do controle viverão em frustração e possivelmente terão uma carreira limitada.

Se não podemos controlar o futuro, podemos tentar influenciá-lo por meio de movimentos na direção dos nossos objetivos, aprendendo com as respostas às nossas ações. Fazemos isso em reuniões e comunicados, quando lançamos ideias e avaliamos as reações, e quando lançamos produtos piloto em mercados específicos, para avaliar quão bem-sucedidos serão. 

Na incerteza, quando não há como antecipar o efeito e o impacto das nossas ações, há um aprendizado que precisa ser assimilado passo a passo e por isso, clareza nos objetivos e nos passos que damos em direção a eles é fundamental – ou obteremos a resposta certa para a pergunta errada.

Qual é realmente o meu objetivo: que benefícios ou, inversamente, que dor quero evitar)? 

Como medir o sucesso? 

Em minha experiência, alguns executivos tinham objetivos que chamo de “enunciados e não praticados”. Não tinham compromisso claro com seus objetivos e por isso tinham dificuldades em enunciar e praticar novas crenças e hábitos profissionais que poderiam conduzi-los ao objetivo que enunciavam.

É fácil (e comum) acreditar que ter o controle e manter o contexto como está é uma alternativa confortável, pois não corremos o risco do inesperado. Mas, particularmente no contexto atual, isto é uma ilusão perigosa, pois nos veremos em risco ao menor tremor no ambiente. Antecipar o movimento nos dá tempo para progredir com cautela, aprendendo no caminhar. 

Uma vez clarificados os objetivos, podemos nos fazer as seguintes perguntas, que são talvez as mais comuns em processos de coaching:

Qual o maior passo que posso dar em direção aos meus objetivos, e que não me leve a uma posição de risco da qual não possa retornar?

Como espero que estes passos me aproximem do objetivo? São os mais eficazes ?

Não se trata de cautela excessiva, mas reconhecer que a entrada em um novo contexto precisa de aprendizado: - acontece com um supervisor recém promovido procurando seu líder para sugerir mudanças, um gerente compartilhando frustrações importantes com seu novo líder, ou um executivo procurando patrocinadores para se colocar como candidato à posição de CxO em uma situação competitiva... Há um aprendizado importante sempre que o efeito da nossa ação não puder ser puder antecipado.

Não há como controlar o sistema à nossa volta ou assegurar antecipadamente o sucesso que procuramos - podemos apenas aprender por meio de movimentos bem calculados e nos aproximarmos um pouco mais do que desejamos que aconteça. Esse é preço de lidar com o incerto, o complexo e o incontrolável, bem melhor do que ir “com tudo” em uma situação imprevisível. 

Abandonar a armadilha do controle demanda desenvolver a habilidade de refletir: - o que desejo e que passos eficazes posso dar e, então, agir de acordo com o que se propôs a fazer.





[1] Berger, J.G. (2019). Unlocking Leadership Mindtraps. Stanford Briefs

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