088. Estratégia digital com paixão com Luiza Brasil

088. Estratégia digital com paixão com Luiza Brasil

A semana foi corrida e não deu tempo de ouvir o episódio do #DeCaronaNaCarreira? Não tem problema! Aqui eu trago meu trecho favorito do papo incrível com a Luiza Brasil, jornalista, digital influencer e criadora do Mequetrefismos.

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Thaís Roque: Você já pensava assim estrategicamente?

Luiza Brasil: Já pensava assim.

TR: Chocada.

LB: Exato. Porque é bem interessante quando a gente pensa mesmo em jornada, não é? E no momento que eu estava, em 2006 eu entrei na faculdade, 2007 ali, 2008 foi quando eu comecei a pensar em entrar no mercado de trabalho. Tinha um drama acontecendo no jornalismo que era a queda do diploma, e a gente não sabia o que ia acontecer com o jornalismo. Eu falei: “Gente, eu preciso entender que, olha: um, eu quero ser jornalista; dois, o quê que eu posso fazer para reinventar essa profissão; três, tem uma coisa acontecendo aí, que eu não sei o quê que é, mas me soa interessante que é a rede social acontecendo, a blogosfera ganhando mais força.” E, enfim, os grandes portais da época também eram outros veículos muito fortes para além da televisão. Que antigamente a gente tinha televisão, rádio, televisão e rádio impresso, não é? E o digital começou a ganhar força ali, falei: “Opa, é para esse lado aqui que eu vou, porque esse lado aqui vai precisar de gente nova, vai precisar de outras bagagens, outros repertórios.”

TR: Nossa, inteligente.

LB: Então eu sempre fiquei ali ligada no que era, no que para o por vir, não no que já para o acontecendo, sabe?

TR: Não, porque eu fiquei impressionada com a linearidade da sua história. Eu fiquei, assim, eu achei você muito focada. E porque em 2008 nem se monetizava o digital, o digital era um espaço que as pessoas chegavam um pouco tímidas, foi o surgimento do Instagram, não existiam posts profissionais, não existia essa coisa de você ser a sua própria marca, não existia nada disso. E você já sacou logo de cara que era um meio que dava para ganhar dinheiro ou isso demorou também?

LB: Olha, Thaís, foi algo muito intuitivo, tá? E eu sempre gosto de trazer esse lugar intuitivo da nossa carreira. Porque às vezes a gente fica focada ali querendo ser estrategista demais também num ponto em que você se robotiza porque aquilo dali é futuro e você acaba só pensando nessa equação muito objetiva. Do tipo: “Eu quero fazer aquilo dali porque aquilo dali ganha dinheiro, aquilo dali é a chave do sucesso.” E no meu caso foi muito intuitivo, por que que foi intuitivo? Eu comecei a trabalhar com pesquisa de tendência no digital, porque é aquilo que a gente já falou aqui, a internet é uma coisa da nossa geração que começa muito analogicamente falando, não é? A gente pegou a época da conexão dial-up, dos chats, enfim, outro momento da internet que não tem nada a ver com o que está acontecendo agora. Então, a gente passou intuitivamente a tatear esse espaço como possibilidade e como oportunidade, então assim, eu comecei trabalhando com pesquisa, não é? Trabalhando com a blogosfera sim, mas para marcas, para empresas de moda, enfim, para pessoas que queriam trabalhar o conteúdo digital, não enquanto marca própria. E aí continuei assim, trabalhei para agências de comunicação, agências de publicidade, até ir para São Paulo trabalhar no Shop2gether que era o início do varejo de moda de luxo eletrônico aqui no Brasil também, e eu comecei a estruturar no Shop2gether a parte de conteúdo digital. Então eu fui ali no momento a head de conteúdo, uma das primeiras de head de conteúdo no digital. E aí conheci Costanza Pascolato que foi aonde eu tive essa grande virada de chave fazendo a assessoria digital dela. E entendendo que eu passei com a Costanza, não é? A Costanza Pascolato no digital, colocá-la nesse espaço foi uma grande escola para mim, porque a gente edificou tudo, assim, do zero. Ela não tinha Instagram, ela não tinha blog, ela não Pinterest, ela não tinha Facebook. E como que é o desafio de colocar uma senhora, uma mulher que é muito inovadora, ela é muito para frente, ela é muito aberta, mas assim, uma pessoa extremamente zerada do digital. Como que é eu traduzi-la nesse digital? Então isso foi um desafio imenso para mim. E aí a partir desse desafio, dessa grande escola que foi Costanza Pascolato, eu comecei a entender: “Opa, tem outro espaço aqui.” Porque a gente precisa debater a falta de representatividade dentro da moda no Brasil. Então como que a gente faz isso? Quem são as pessoas que estão na estrutura, quem é a moda nesse lugar, quem está na engrenagem, quem produz? Quem são as pessoas pretas? Então a partir disso eu comecei a entender que tinha esse, enfim, essa possibilidade de falar algo diferente, ainda assim diferente da moda. E aí eu surgi com a minha marca pessoal em 2015.

TR: Isso que eu queria saber, porque você daí saiu do backstage, de ajudar marcas e a Costanza para você falar: “Olha, agora eu sou uma influenciadora.” A Thai de Melo Bufrem, ela veio aqui no podcast e ela falou uma coisa, que você não se torna influenciadora, você ganha esse título dos seguidores, os seguidores que decretam se você é ou não, não adianta você querer ser. Como que aconteceu isso para você, você concorda, você não concorda?

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LB: Eu concordo 100% com a Thai, e até escrevi sobre isso numa coluna minha da Glamour Brasil, na Caixa Preta que é o meu espacinho por lá, no impresso e no digital. E eu falei: “Gente, influenciar não é uma profissão, é uma consequência do que você faz. Influenciar é construção.” E eu digo muito isso por mim, eu acho que eu estou agora nesse momento do meu trabalho porque têm uma série de coisas que eu fiz ali. Primeiro, identificar uma futura necessidade de mercado e apostar nela, isso foi um ponto. No outro, foi realmente entender qual o meu ponto de troca com o mercado nesse momento? É saber do digital. E isso me fez me conectar com grandes nomes da moda, com grandes marcas porque era um mercado muito novo, ninguém conhecia, tudo era mato, como a gente diz. Então, eu fui ali como meu ponto de troca que era saber me especializar no digital, na comunicação digital para moda. Então nisso eu comecei a atingir grandes players de mercado, grandes marcas de moda num período em que isso era muito novo. E aí depois com tudo isso eu fui realmente conhecendo o mercado, me conectando com as pessoas, construindo reputação e autoridade. Então eu acredito que esse lugar de influenciadora dentro do espaço de moda ele acontece não porque eu me coloco nessa profissão: “Ai, eu sou influencer de moda.” Não, porque eu construí aí um legado para conquistar uma autoridade, enfim, sem falsas modéstias.

TR: Não, você está aqui como uma especialista na sua área. Então assim, a gente quer ouvir porque você chegou numa posição de sucesso, você está num lugar de sucesso. Amore, você foi para o Paris Fashion Week e tirou foto com Olivier Rousteing da Balmain, vamos combinar? Assim, aquela foto milhões, maravilhosa. Muita gente elogiou, inclusive a sua visão do Paris Fashion Week, a gente está aqui ouvindo o podcast hoje porque você é uma mulher de sucesso, ponto, sem falsas modéstias, entendeu? Então, por isso que eu te pergunto, assim, sobre o seu lugar de influência, como que você começou, como que você via esse lugar, no começo?

LB: Ah, eu enxergava como exatamente a consequência de um trabalho, sabe? Eu sempre quis que fosse isso. Eu não quis entrar, virar influencer ou blogueira, que antigamente falava-se muito esse termo, blogueira, só para falar sobre look, consumo e algo inacessível. Não, eu queria falar sobre os bastidores do mercado, me conectar com as pessoas, conversar, estabelecer trocas, conversas, apontar tendências. E também provocar e questionar pontos da moda que me incomodavam. Então eu acho que com isso, ter esse lugar de uma opinião que se amplifica e ganha cada vez mais notoriedade, seja para um público, seja também para o mercado. Porque assim, quem está na minha audiência que é extremamente qualitativa, tem um público que gosta de moda, que admira, mas sobretudo são grandes heads, não é? CEOs dos grandes conglomerados de moda me seguem. Os grandes nomes, também, que ajudam a amplificar a imagem de moda no Brasil, que são as mulheres da mídia como Taís Araújo, a Iza, não é? Principalmente mulheres pretas elas também me acompanham. Então assim, acho que amplificar a mensagem de moda para um lugar diferente, isso que foi a grande virada de chave da minha carreira e da minha trajetória enquanto comunicadora no digital. E aí o digital foi muito generoso comigo porque também agora me promove novos espaços que não são dentro desse território online que é a TV, que hoje em dia eu sou comentarista de, geralmente faço comentários nas grandes premiações, red carperts ou, enfim, eventos. E também um impresso, que eu tenho a minha coluna, a Caixa Preta na Glamour, que está indo para o seu quinto ano e que me enche de alegrias.

TR: Nenhum momento, no começo, você desanimou? Porque assim, não devia rolar job todo mês, não devia, como que é, como que foi, assim, até hoje você é uma profissional muito, assim, tem uma carreira muito solidificada. Mas e no começo, como que era?

LB: Olha, vou te falar que nem é só do começo não, não é? Eu digo, inclusive, nos dias de hoje. Têm dias que você acorda falando: “Meu deus, o quê que eu estou fazendo? Será que é isso mesmo? Faz sentido?”, não é? Eu às vezes acordo me questionando. Porque assim, a gente sabe que qualquer mercado de trabalho tem muitos desafios. Só que para eu conseguir vencer alguns deles, até o momento, eu pensei em coisas que me importavam muito: uma, ter estrutura financeira para conseguir me manter. Eu acho que foi o ponto principal porque eu sendo uma pessoa totalmente endividada no sentido de criar custos, sei lá, ir para uma Fashion Week, que isso é um custo, não é? Criar custos maiores do que de fato eu recebo, isso para mim não faz sentido porque eu não tenho investidor, eu sou investidora da minha própria carreira. Então comecei, o ponto um foi entender esse lugar financeiro, então para isso o que aconteceu? Eu não me dediquei e caí de cabeça na minha construção de marca pessoal, eu trabalhei por muitos anos, eu digo: “Gente, por muitos anos, dentro de catorze anos e até 2019, de 2008 a 2019 eu trabalhei para outras empresas também, trabalhei para outros nomes, fazia muita consultoria, muita pesquisa, muito freela na área de comunicação e moda.” Então de 2020 para cá que eu consegui dar esse passo, dar essa autonomia para dedicar meramente à Luiza Brasil e ao Mequetrefismos. Então acho que o primeiro passo, até mesmo para você ganhar força de mercado e conseguir também bancar os seus investimentos, é trabalhar e conciliar uma parte do tempo. De repente no começo oitenta-vinte, oitenta com seus trabalhos fixos que te ajudam a monetizar e vinte com o seu sonho, aí depois você vai vendo que deu certo, diminui para setenta-trinta, sessenta-quarenta. Aí de repente quando você já vê já virou, virou metade, metade, depois você vai reduzindo. Eu acho que tem toda uma questão de transitoriedade, que a gente pode pensar para ficarmos mais seguros, sabe? Eu, pelo menos, penso muito nisso.

TR: É o que a gente fala aqui no podcast da dupla jornada. Que então muitas vezes, por exemplo, eu entrevistei a Ingrid Silva e ela falou que ela trabalhou acho que cinco anos em um restaurante como garçonete, enquanto ela fazia a Dance Theatre of Harlem, que ela dançava durante seis horas por dia e depois ela ainda ia para mais um turno no restaurante. Só em 2016 que ela falou que as coisas viraram porque ela começou uma campanha da Activia, daí as coisas funcionaram. Só que é muito importante a gente falar que muita gente faz dupla jornada, porque às vezes, olhando de fora, as pessoas não sabem que você já teve outros jobs, que você fazia consultoria. Inclusive é um braço da sua empresa fazer consultoria, até hoje, não é?

LB: Sim, isso que eu ia falar, inclusive, gente. Luiza Brasil, Mequetrefismos, rede social, plataforma de comunicação, tudo isso é óbvio que é uma vitrine muito grande para um trabalho que eu também desenvolvo no backstage, eu atuo muito nos bastidores, eu faço muita consultoria, faço muita pesquisa. Trabalho em departamentos de cultura e comunicação dentro de marcas. Então assim, e essa atuação para mim, hoje em dia, é extremamente importante, tão importante quanto o que eu faço no digital, porque é aonde eu consigo mudar a mentalidade de algumas empresas. Então isso é importante, sabe, a gente entender jornadas até pensar nessas frentes de trabalho como um lugar de segurança para a gente. Porque se algo desanda em um espaço, você aí tem algo que te ajuda aí a não cair totalmente, sabe?

TR: É. A Jana Rosa, vou mandar um beijo para ela que ela é nossa amiga, eu sei que ela é sua amiga também, Jana, maravilhosa.

LB: Amo muito a Jana.

TR: Acho que ela vai ouvir esse podcast. Ela falou para mim uma vez: “Não deixa tudo, todos os ovos em uma cesta só.” Ela falou: “Você tem que ter várias frentes de negócio. Thaís, cria newsletter, Thaís, cria um monte de coisa.” Porque assim, ela falou: “Você não sabe, você não pode depender do Spotify ou de algum lugar de podcast.”, ela falou: “Você não pode ficar na mão de uma marca só.” E isso foi, assim, caiu uma ficha para mim porque ela tinha total razão.” Ela falou: “Não, você tem que ter vários projetos acontecendo ao mesmo tempo.” Então, eu acho importante, eu ia te perguntar assim, que dica você daria para quem quer se tornar influenciador? Porque uma pesquisa da WGSN falou que 84% das pessoas seriam influenciadores se eles tivessem a chance. E o quê que você falaria?

LB: Eu começaria, na verdade, com uma pergunta, uma provocação. Para você ser influenciador, quando você desliga a chavinha da internet, sei lá, se o titio Mark decidir desligar o Instagram ali, o Meta, o grupo Meta, quem é você na fila do pão? Então é sobre você construir uma reputação fora do digital também, sabe? E construir lugares fora, nesse espaço antes de achar que o digital é tudo para você, antes de achar que a influência ali no Instagram é o todo. Não, essa influência é que nem o iceberg, é o que você vê do mar para fora, porque por dentro você já edificou uma rocha, sabe? De construção de trabalho, de networking, de contatos, de oportunidades, de experiências de trabalho. Então acho muito importante a gente pensar que a gente precisa sim trazer essa bagagem, quer dizer, levar essa bagagem que a gente acha, porque o digital é uma grande vitrine de ego, de vaidades. Que, assim, não estou julgando porque, de fato, estou aqui e acho muito importante porque ali é um amplificador de muitas vozes e deu muita possibilidade e acesso para muita gente. Só que a gente precisa realmente entender que essa construção não começa do digital, ela vem de um pouquinho mais de baixo e a gente precisa entender mais sobre os nossos mercados. Estudar, gente, é muito importante a gente estudar, a gente se preparar. E no mundo que a gente, sim, somos cada vez mais multitarefas, mais precisamos nos especializar em algo, que isso é o que traz a gente, traz a nossa força enquanto marca pessoal, não é? Porque influência é sobre marca pessoal. 

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O papo com a Luiza foi maravilhoso! Eu amei esse episódio! Vambora ouvir ele completo? Os links estão lá nos comentários!

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