A Aprendizagem Ativa

A Aprendizagem Ativa

Participei de muitos treinamentos na minha vida profissional, principalmente quando era colaborador de grandes empresas. Em 20% desses treinamentos, tive experiências maravilhosas. Algumas até de transformação de vida, de escolha de novos rumos, como ocorreu comigo no fim de 2007 após um treinamento que participei em Cartagena, Colômbia, decidi mudar radicalmente minha vida e começar a trabalhar de forma independente. Melhor decisão que já tomei.

Entretanto, em 80% dos casos, foram experiências ruins ou péssimas. Em todas as interações promovidas pela empresa - e treinamento é uma dessas interações - o colaborador sente que está sendo avaliado de alguma maneira e, por isso, as avaliações devolutivas muitas vezes não refletem o verdadeiro sentimento com relação ao treinamento.

Eu mesmo passei por várias situações em que tinha que executar atividades ridículas, que acabam expondo as pessoas sem um objetivo de aprendizagem claro e na avaliação final acabei avaliando como bom, simplesmente para evitar ter que fazer uma D.R. (assim chamávamos quando a pessoa do RH chamava para questionar nossa avaliação, comparando a uma discussão de relação entre um casal). A verdadeira percepção era compartilhada no day after entre os colegas, nos corredores e no café.

Em outras situações, eu saía de um treinamento cansado, sonolento, achando que havia sido chato e eu havia perdido meu tempo, enquanto que outros colegas saíam do evento babando de contentamento, tecendo elogios mil. E em outros casos o inverso também ocorreu, eu saí satisfeitíssimo enquanto que outros colegas achavam que haviam perdido tempo.

E quando se fazia a multiplicação interna, então? Um colaborador participava de um treinamento em um lugar legal, onde todo mundo queria ir, mas por uma questão de custos a empresa só mandava um e ele tinha que reproduzir o conteúdo para o resto da equipe quando retornava. Na grande maioria das vezes era exatamente isso que se fazia - reproduzir o conteúdo, porém sem efeito nenhum de aplicação.

Em 2008 eu tive meu primeiro contato com a ANDRAGOGIA - a arte e ciência da aprendizagem do adulto por meio da literatura de Malcom Knowles primeiramente, com quem aprendi sobre o Ciclo de Aprendizagem de Kolb (David Kolb, um estudioso norte-americano cujas publicações focam a aprendizagem por experiência centrada no aprendiz). Com Kolb aprendi os diferentes estilos de aprendizagem e as fichas começaram a cair. Naqueles casos em que havia diferenças na satisfação dos participantes ao término de um treinamento é porque eles se identificavam com o estilo de aprendizagem do facilitador. Aprendi que ensinamos da mesma forma que aprendemos.

Também aprendi com Carl Rogers, psicólogo norte-americano que aborda a psicologia educacional, que eu não consigo ensinar alguma coisa a alguém a não ser que a pessoa queira aprender, e o papel do facilitador da aprendizagem é motivar o aprendiz a querer.

Aprendi também que não importa se for treinamento técnico ou comportamental, a forma como o conteúdo é passado é fundamental para a aprendizagem. Cumprir todo o ciclo de aprendizagem para que todos os participantes sejam envolvidos no processo é fundamental. Promover momentos de reflexão, observação, conceituação abstrata e experiência concreta fará com que todos os participantes sejam engajados no processo da aprendizagem.

Aprendi com Harold Stolovitch e Erica Keeps, autores de Informar Não É Treinamento, conceitos de neurocognição e sobre como preparar sessões de treinamento espetaculares.

Ainda tenho muito a aprender, o caminho é longo, mas com aquilo que já possuo consigo realizar sessões de treinamento dinâmicas e eficazes, nas quais há mudança de comportamento, aplicação de novas habilidades e adoção de atitudes correspondentes ao assunto ministrado.

São minhas práticas em sala de aula:

Respeito - o respeito aos participantes é fundamental para criar um ambiente adequado à aprendizagem. Por respeitá-los, nunca os deixo expostos, sempre solicito voluntários para responder a perguntas ou participar de alguma atividade. Sempre os deixo confortáveis e o não participar de alguma atividade proposta é uma opção. Nunca proponho alguma atividade infantil ou ridícula. Sempre, todas as atividades, são relacionadas à aplicação prática de novas habilidades, como dinâmicas, role-plays, debates e apresentações em grupo. Isso gera confiança e faz baixar a guarda. O resultado? Todos participam de bom grado.

Contrato inicial com relação aos objetivos do treinamento - estabeleço inicialmente as expectativas e firmo um contrato com o grupo, com relação aos objetivos a serem alcançados e porque isso é importante para aquele grupo. Isso gera engajamento do grupo durante toda a sessão.

Estabeleço a base lógica - um dos princípios da aprendizagem de adultos é que eles necessitam saber por que devem aprender alguma coisa antes de se lançarem no processo de aprendizagem, e então eles se tornam responsáveis por esse processo. É necessário haver uma conexão com a sua necessidade e eles precisam ver uma aplicação prática para aquilo.

Utilizo as experiências prévias do grupo como recurso - os adultos trazem para dentro da sala uma bagagem muito rica. Antes de abordar um assunto, costumo explorar, por meio de perguntas, o que o grupo já conhece a respeito do tema. Em várias ocasiões, alguns participantes chegaram a colocar tudo aquilo que eu abordaria de maneira expositiva. Porém, dessa forma torna-se muito mais eficaz, pois as pessoas aprendem muito mais com seus pares.

Dessa maneira, a aprendizagem torna-se ativa - o aprendiz é protagonista no seu processo de aprendizagem e não mais passiva, esperando de braços cruzados que alguém lhe traga o conteúdo que necessita.

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