2021: retrospecto é negativo

2021: retrospecto é negativo

Apesar da retomada econômica, avanço de reformas e bons resultados das contas públicas, a inflação e a mudança das regras fiscais marcam 2021.

28 dezembro 2021


A inflação afetou de modo importante a forma como se vê a economia em 2021. Apesar de boas notícias trazidas pelo crescimento, reformas e ajuste das contas públicas, a alta de preços e as mudanças das regras fiscais em um cenário de apreensão com 2022 trazem uma sensação de frustração quando se olha o ano que passou.

O crescimento econômico foi a surpresa positiva de 2021, mesmo com a acomodação em curso no segundo semestre. Em janeiro, a mediana das expectativas indicava um crescimento ao redor de 3,5%, refletindo o temor com o fim dos programas de ajuda. As avaliações mais negativas apontavam para números próximos a 2,0%.

O resultado, no entanto, deverá se aproximar de 4,5% a despeito dos vários choques na indústria e na agricultura. O mercado de trabalho segue avançando bem no emprego formal e informal.

O mesmo vale para as contas públicas. A desconfiança em relação à capacidade de ajuste após o déficit primário do governo central ter alcançado 10% do PIB em 2020 estimulava projeções mais negativas. As estimativas iniciais para 2021 eram de um déficit de 3,0%. Com o controle de despesas e o bom desempenho da receita, porém, é possível um número negativo ao redor de 1,0%.

Do ponto de vista político, o ambiente extremamente instável, ruidoso e tenso que acompanhou a segunda onda da pandemia e as discussões orçamentárias não impediu a continuidade da agenda de reformas. Apesar de reformas mais amplas não terem avançado, como a tributária e a administrativa, mudanças importantes como a autonomia do Banco Central e novos marcos regulatórios do câmbio, gás, ferrovias e navegação foram aprovados. O programa de concessões caminhou em áreas como petróleo, telefonia, rodovias, portos e aeroportos.

O grande destaque negativo do ano foi a inflação. Embora parte relevante do choque inflacionário seja global e influenciado por problemas climáticos locais, o fato de o IPCA ter voltado ao patamar de 11%, como em 2015, trouxe danos econômicos e políticos.

Na economia, a aceleração dos preços afetou renda e confiança, fazendo o crescimento perder fôlego. Politicamente, além das incertezas agudas vividas no primeiro trimestre em relação à agenda econômica, a inflação reduziu o capital político do governo e o tornou vulnerável às pressões populistas por maiores gastos públicos.

Com isso, as visões mais pessimistas em relação à sustentação das regras fiscais se confirmaram, reduzindo a previsibilidade das despesas e fazendo com que o risco soberano subisse a partir de julho. O dólar consolidou-se em um patamar mais elevado colocou pressão adicional na curva de juros. Este novo equilíbrio macroeconômico, marcado por mais juros e menos crescimento, elevou as dúvidas em relação à dinâmica de dívida.

As críticas ao Banco Central também estiveram presentes. Apesar de a reação da autoridade monetária mostrar maturidade institucional ao aceitar os custos econômicos e sociais para controlar a inflação em um período eleitoral, a avaliação é que a condução de política assumiu riscos excessivos em um ambiente atipicamente instável.

Ao final, o aumento generalizado de preços abriu espaço para o diagnóstico de que a gestão econômica, guiada pelo cálculo político de curto prazo, contribuiu para uma nova crise de confiança, apagando a percepção de ganhos em outras áreas.

A leitura de 2021 pode também estar sendo contaminada pelo cenário do próximo ano. A combinação de mudanças na liquidez global com discussões eleitorais locais amplia as incertezas. É provável que, mais uma vez, as turbulências deixem em segundo plano possíveis boas notícias, como o crescimento global e a capacidade de o País controlar a inflação.

Este contexto de baixa previsibilidade deve fazer com que os modelos estatísticos continuem ajudando pouco a gerar consensos e a aumentar a confiança no futuro. Foi o caso durante a pandemia e deve ser também o padrão de 2022.

A lista de preocupações, portanto, parece superar a de boas notícias. Embora o crescimento e os números fiscais não tenham confirmado o pessimismo inicial, a inflação acabou concretizando o temor com uma postura populista na gestão econômica. O que fica, portanto, é a sensação de o País ter tido mais um ano ruim.

Suzana Oliveira

Analista de Operações | Comercial Corporate/Middle Office | Operações Bancárias Atacado | Serviços Financeiros | Fundos de Investimento | Gestão de Contratos | BackOffice

2 a

Apesar do crescimento e tanto desenvolvimento como nunca antes visto, as previsões ainda são tão pessimistas?

Excelente texto Padova! Abs

Eduardo Vargas

Economista, Ultramaratonista, Capital RS

3 a

Excelente leitura do ano de 2021!

Fica em casa ! A economia a gente vê depois !

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