30 anos e uma carreira.
Foto: https://flic.kr/p/p4y5XU

30 anos e uma carreira.

“Se você não sabe para onde vai, qualquer caminho serve”. Essa frase, retirada de um conto infantil escrito em 1865, talvez seja o resumo da minha vida. Talvez ela também represente muito para outras pessoas, além de mim e da Alice (no País das Maravilhas). Talvez ela seja importante para você.

Morar no Brasil ou conquistar o mundo. Escolher entre ser médico, artista ou padre. Investir ou viajar. Viver no hoje ou planejar o amanhã. Casar ou comprar uma bicicleta. Ser ou não ser, eis a questão. São alguns dos dilemas que passamos ao longo de nossas vidas e que podem gerar profunda ansiedade e dúvidas.

Recentemente completei 30 anos. Sem crise, é verdade, mas não sem repensar tudo que aconteceu ao longo desse período. Até porque nascer no ano de 1987 me classifica como um típico Geração Y – não em tudo, mas em partes, assumo – o que traz algumas consequências que precisam ser acompanhadas de perto para não me tornar alguém que não me orgulharei de ter sido um dia.

Importante reforçar que não sou do tipo de pessoa que atribui toda a responsabilidade pelos próprios atos à elementos isolados (geração, signo, classe social, etnia, nacionalidade, etc.), embora cada pequeno fator ambiental pode, sim, influenciar e muito nossa construção como pessoa. Vemos indivíduos “Y” nascidos em todas as épocas desde que o mundo é mundo e outros que nasceram entre 1979 e 1993 e não são nada “Millennials”. Sem generalizações, por favor!

Posso falar de mim. Desde pequeno tive acesso às informações de forma atualizada, fossem elas pela TV, jornais, ou internet discada (ahhhhh, que dádiva esperar meia noite para escutar o chiado horroroso barulhinho de conexão do provedor IG... era como música, exceto pelo fato de que acordava a casa inteira). Graças aos esforços dos meus pais tive uma educação de qualidade que me permitiu desenvolver conhecimentos e habilidades muito importantes hoje em dia. Hereditariamente ou não, sempre fui muito curioso, falante, sociável e um pouco avoado.

Isso tudo (ou só o fato de ser um Geração Y) me permitiu ser um sonhador. Por algum motivo eu tinha certeza que iria dar certo, mesmo não tendo a menor ideia do que isso representava, nem tampouco como eu chegaria lá. Mas até quando dura um sonho?

O 30º aniversário me mostrou que eu ainda estava longe de onde planejava estar nessa idade. Falar isso em um momento que o país vive uma crise política, econômica e moral enorme soa quase como ingratidão, mas olhar minha carreira gerou uma inquietude, combinada com um sentimento de culpa por querer mais.

Curiosamente, olhando em retrospectiva, eu havia feito mais nos últimos 5 anos pela minha carreira do que nos outros 25 somados e se eu perguntasse para qualquer pessoa ao meu redor como me enxergava profissionalmente, a resposta seria positiva. Ainda assim parecia ter algo errado. Muito errado.

Acordava constantemente me perguntando se eu deveria mudar de emprego, de profissão (de novo, já que fiz isso com o Direito anos atrás) e até de país! Antes de dormir ficava rolando na cama de um lado para o outro, criando teorias e soluções brilhantes para meus problemas, mas, ao repassá-las pela manhã, enquanto me arrumava para o trabalho, elas se tornavam estúpidas e inviáveis. Era um turbilhão de pensamentos desordenados que me fazia patinar ainda mais e derrubava meu desempenho em qualquer área da vida.

Mesmo sendo Coach de Carreira há mais de 2 anos, desde minha formação não havia me permitido vivenciar um processo inteiro – do começo ao fim – para lidar com meus dilemas profissionais. Resolvi dar uma chance... e aprendi muita coisa com isso...

Sobre a frase que iniciei esse texto – “se você não sabe para onde vai, qualquer caminho serve” – durante anos achei que se tratada de uma sentença. Bem preto no branco, sabe? Do tipo que ou você sabe exatamente para onde vai, ou não vale de nada. O efeito dessa crença era terrível, porque eu me sentia um incompetente na arte de planejar, uma vez que não conseguia saber sequer o que queria comer no jantar, imagina onde eu estava indo na vida.

Aprendi que não era bem assim e, embora você não deva deixar sua vida à deriva, o destino é apenas um norte, enquanto a jornada precisa ser vivenciada com atenção e alegria diariamente. Tudo na vida que é rígido demais se quebra na primeira tentativa de se moldar – e viver é se adaptar ao que vai surgindo.

O que você faria se, andando pelas ruas, encontrasse uma lâmpada mágica e dela saísse um gênio que permitisse pedir uma única QUALQUER COISA? A minha reação imediata seria perguntar “sério que eu só tenho UM pedido?!”.

Escolher dói.

O pior é que você nunca se acostuma e nunca se livra de tomar decisões que preferia não fazer. Isso acontece porque, embora o ser humano seja programado para evitar qualquer tipo de perda, escolher algo sempre representa abrir mão de todo o resto. Escolher vai contra nossa natureza. Ou seja, por um bem maior (ou pressão externa) você prioriza o que parece mais importante e, automaticamente, estará deixando de lado todo o resto, mesmo que seu esforço seguinte seja uma busca incessante (e inútil) para não perder definitivamente o que não foi sua prioridade no momento passado.

Parece cruel, eu sei, mas olhe ao seu redor. Você consegue estar em dois lugares (de verdade e não só fisicamente) ao mesmo tempo? Consegue gastar seus recursos (dinheiro, atenção, tempo, energia) em muitas coisas com a mesma qualidade? Consegue equilibrar, por muito tempo e sem ficar doente, o melhor de dois mundos em qualquer âmbito da sua vida?

Se a resposta foi “sim”, te convido a ler esse texto novamente daqui a 6 meses, 1 ano, ou quando as coisas ficarem difíceis.

Não há vergonha em pedir ajuda, mesmo que pareça bobo. Sempre me considerei autossuficiente e dispensei qualquer tipo de conselho, recomendação, ou crítica sobre o que eu acreditava ser certo. Hoje, entendendo meus valores e minhas motivações, sei que sozinho não chegarei longe e muito menos aproveitarei a jornada como gostaria. Parece subjetivo, mas eu prometo que faz sentido a partir do momento que você encontra alguém que, profissionalmente ou não, "compra" a responsabilidade tirar seus sonhos do papel junto com você. Para cada pessoa esse ponto se materializa de uma forma diferente e comigo ficou muito claro no #DesafioEuFaçoMeuMundo, em que compartilhei 365 vídeos diários no Youtube para mostrar para mim mesmo que posso ser uma pessoa com iniciativa E acabativa.

Já vi muita gente ser bem-sucedida na missão de separar milimetricamente sua vida profissional e pessoal. Eu não consigo. Não consigo e não quero. Acredito que nós somos nossas carreiras. Isso não quer dizer que você vai levar seus problemas de trabalho para a mesa de jantar, ou que descontará em seus colegas de trabalho todos os problemas pessoais. Isso quer dizer menos ainda que você deve confundir seu tempo para cada atividade, transformando sua vida em um caos de prioridades. Ser sua carreira é apenas aceitar que você é uma única pessoa que escolheu (ou deveria escolher) um estilo de vida, profissão, círculo social e gasto energético de forma coerente com seus sonhos e crenças. Você é você em tempo integral.

Ainda assim, acredito que o maior aprendizado que trouxe do meu processo de autocoaching é que a fórmula mágica para o sucesso é uma receita individual e em dose única. Construída a cada objetivo traçado, experimentada a cada tentativa e erro, mas sempre orientada por uma estratégia consistente e que respeita sua essência, além de cada pequena particularidade que você se orgulha de ser, ter e fazer.

Claro que os três meses de encontros semanais, com duração de 1h, em que eu esquecia do mundo e me conectava com quem eu sou e com quem quero ser no próximo passo não caberiam em um único texto. Muita coisa precisa de uma conversa única e outras ainda estão em andamento, mas me dá sua opinião sobre esses 5 aprendizados. Eles fazem sentido para você? 


William Inácio

Sócio | Contaiffer Advogados Associados

5 a

Parabéns! Texto fantástico.

Entre para ver ou adicionar um comentário

Outras pessoas também visualizaram

Conferir tópicos