#68: voos além do visível 🌌
Hoje temos por aqui: um mergulho na explosão da ayahuasca no Brasil; jovens que furtam lojas em busca de likes; sonhos impossíveis vendidos por coaches, a despedida de Antônio Cicero; e muito +!
O que explica a explosão do uso da Ayahuasca no Brasil
Neste mês, a TV alemã Deutsche Welle lançou em português o documentário "Por que tem tanta gente tomando ayahuasca no Brasil?". A produção, disponível no Youtube, traça a história da popularização do chá no Brasil desde a construção da Transamazônica, destacando o impacto das religiões ayahuasqueiras e as pesquisas científicas recentes.
O Centro Avançado de Medicina Psicodélica (CAMP), consultado pelo documentário, estuda os efeitos medicinais da substância em tratamentos para depressão, ansiedade, transtorno de estresse pós-traumático e dependência de drogas como cocaína e tabaco.
De acordo com o neurologista Drauzio Araújo, da UFRN, o Brasil, apesar de possuir uma política antidrogas conservadora, é também um país profundamente espiritualizado e com grande diversidade religiosa. Essa combinação explica a legalização do uso da ayahuasca em cerimônias religiosas.
A popularização, no entanto, vai além dos círculos religiosos. Redes sociais, a nova onda do chamado xamanismo urbano e o fácil acesso à ayahuasca em sites de e-commerce têm impulsionado o consumo, mas não sem gerar controvérsias.
Se por um lado a ayahuasca - produzida a partir da combinação das plantas chacrona e jagube - é celebrada como um remédio poderoso para doenças mentais e como uma ferramenta para o autoconhecimento, por outro, ela também carrega riscos significativos.
Durante o ritual, os participantes podem sofrer efeitos adversos como náusea, vômitos e diarreia, que são interpretados como parte do processo de purificação, mas há também casos de psicoses, surtos psicóticos e até suicídios associados ao consumo.
O aumento do interesse pela ayahuasca é evidenciado no gráfico de buscas do Google, cujo pico mais significativo ocorreu em março de 2016 após a morte de Rian Brito, neto do humorista Chico Anysio.
O jovem morreu afogado após, supostamente, ter tido um surto psicótico provocado pelo uso do chá. Sua mãe, Brita Brazil, coletou centenas de relatos de outros casos, reunindo histórias perturbadoras que vão desde o abuso religioso a traumas psicológicos e mortes acidentais, que ela transformou em livro. Vídeos no Youtube sobre esse e outros casos colecionam histórias pessoais nos comentários (link, link).
Com a crescente popularização, surgem também preocupações com a ética e a segurança nos rituais ayahuasqueiros. Grupos como o Mov Aya – Movimento Nacional de Combate ao Abuso no Meio Ayahuasqueiro têm ganhado voz nas redes sociais, denunciando líderes que exploram financeiramente ou abusam de participantes. Ao mesmo tempo, alertam que o proibicionismo pode afetar negativamente as tradições indígenas e religiosas, que fazem uso da ayahuasca há séculos.
A defesa de um uso responsável e a preservação das tradições são pontos centrais no debate. Muitos acreditam que é preciso haver maior regulamentação dos rituais e supervisão para evitar que charlatões se aproveitem da crescente demanda, como ilustrado no documentário The Last Shaman, que aborda o comércio da ayahuasca na Amazônia e os riscos de sua exploração comercial.
Outras produções como A Indústria da Cura e Antares de La Luz, ambas da Netflix, e Espaço Além - Marina Abramovic e o Brasil, também abordam as complexidades que o tema apresenta e podem ajudar pessoas interessadas a tomar decisões sobre participar ou não de rituais com o uso do chá.
Vendendo sonhos, comprando dívidas: a realidade que os coaches não mostram
Uma vida de luxo e ostentação por meio da criação de conteúdo virou o sonho de muitos. A professora Rosana Pinheiro-Machado, da Universidade de Dublin, pesquisou o fenômeno e revela que 25 milhões de brasileiros estão tentando a sorte nas redes sociais.
Mas enquanto figuras como Pablo Marçal faturam alto, há quem venda o carro ou use o FGTS para pagar mentorias de R$ 50 mil, acreditando que mudará de vida. A realidade, no entanto, é ainda mais dura do que isso. A maioria desses aspirantes é formada por mulheres, muitas da periferia, que enfrentam dificuldades para se adequar aos padrões exigidos.
Patrícia Botafogo, do viral “Que Xou da Xuxa é esse?”, é um exemplo . Ela ganhou mais de 100 mil seguidores e fez até uma publi, mas segue "se preparando" para ser influenciadora.
Segundo matéria de Mônica Bergamo, na Folha, ela chegou a perder seis quilos com este objetivo. Patrícia é professora, mas dedica a vida ao cuidado com o filho, que é autista e precisa de tratamentos específicos. Mostrando a casa simples onde vive, ela destaca que a fama não se transformou em dinheiro.
Assim como Patrícia, muitos descobrem que o caminho entre viralizar e ter sucesso financeiro não é tão direto. E, apesar de todo o glamour prometido, o mercado está saturado e desregulado, com influenciadores vendendo a ideia de sucesso como um produto – algo que, para muitos, não vai se concretizar.
No fim das contas, parece que esse delírio coletivo também serve para aliviar a realidade de tanta gente que pena para pagar suas contas básicas.
No Instagram, o Coach de Fracassos traz reflexões e memes como questionamento às promessas de sucesso vendidas por falsos mentores.
Notícias da semana sobre o comportamento digital de jovens e crianças
As idiossincrasias da Geração Z continuam a fascinar e a desconcertar. Ao mesmo tempo que esses jovens abraçam a era digital, rejeitam práticas tradicionais e moldam comportamentos únicos, suas ações revelam novos desafios. A última semana trouxe à tona alguns desses hábitos e tendências:
A "moda" das redes sociais de furtar lojas, a "cleptomania" - ou roubo mesmo, a depender do caso -, está preocupando especialistas. Jovens compartilham orgulhosamente suas "aquisições" ilegais, como maquiagens e produtos de skincare, banalizando o crime em busca de validação virtual.
Outro fenômeno curioso é o "Feed Zero", uma nova tendência em que usuários da Geração Z mantêm perfis sem postagens públicas, como forma de evitar a exposição constante. Paralelamente, vemos o crescimento de um consumo de nicho nas redes sociais: comprar alimentos de luxo virou tendência, reforçando a busca por status e diferenciação através de produtos exclusivos.
Além disso, um pesquisa do Ipsos encomendada pelo Nubank revelou que um em cada quatro jovens de 18 a 25 anos nunca sacou dinheiro em um caixa eletrônico, e quase 40% não visitaram agências bancárias nos últimos seis meses. Esse distanciamento das formas tradicionais de consumo mostra como essa geração está cada vez mais imersa no digital.
Agora sobre crianças e adolescentes, também saiu nesta semana a pesquisa TIC Kids Online Brasil 2014, que há 12 anos estuda o consumo digital da população de 9 a 17 anos de idade. Esta edição mostrou que 95% deste recorte acessam a internet no Brasil, e 80% têm perfil em ao menos uma rede social.
O último vôo do poeta
A morte do poeta, compositor e acadêmico Antonio Cicero, aos 79 anos, provocou uma onda de comoção e homenagens nas redes sociais, especialmente entre grandes nomes da música e literatura brasileiras.
Cicero, que sofria de Alzheimer, optou por realizar o suicídio assistido em uma clínica na Suíça, onde a prática é legal, e deixou uma carta emocionada e poética que surpreendeu amigos e familiares.
Apesar de ser um membro da Academia Brasileira de Letras (ABL) desde 2017 e um nome respeitado no meio intelectual, Cicero era menos conhecido do que os intérpretes de suas músicas. Sua obra, porém, estava profundamente enraizada na cultura pop brasileira, com mais de 130 canções registradas.
Ele foi o letrista de hits como Fullgás, um dos maiores sucessos de sua irmã Marina Lima, e O Último Romântico, em parceria com Lulu Santos. Também colaborou com diversos outros artistas, como Claudio Zoli, Adriana Calcanhotto, João Bosco e Orlando Morais.
A decisão de Cicero, tomada de forma consciente e planejada, foi apoiada por seu companheiro de longa data, Marcelo Pies, mas pegou muitos de surpresa. Sua irmã Marina e outros amigos íntimos souberam apenas um dia antes da realização do procedimento, e expressaram sua tristeza e admiração pela coerência e lucidez do poeta. Caetano Veloso publicou “Cicero foi meu melhor amigo, a pessoa mais correta que conheci”.
A carta de despedida de Cicero, divulgada por veículos de notícias e compartilhada nas redes sociais, tocou muitas pessoas, mas também gerou discussões. Alguns viram na divulgação pública um possível incentivo ao suicídio, enquanto outros enxergaram na decisão do poeta uma afirmação de seu desejo de ter uma morte digna.
O nome de Antonio Cicero rapidamente figurou entre os termos mais buscados no Google, com grande parte do público descobrindo mais sobre sua vida e legado musical, que atravessou gerações e transcende o erudito e o popular. Seu adeus, da mesma forma que sua vida, foi marcado por lucidez e dignidade, despertando reflexões sobre o direito à escolha de uma morte assistida e o enfrentamento de doenças degenerativas com controle sobre o próprio destino.
Ouça a playlist Antonio Cicero no Spotify e surpreenda-se com as canções que ele escreveu, das quais tantas, provavelmente, você já ouviu e até cantarolou.
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