80% alignment. 100% commitment.

Como executivos, em quantas reuniões participamos aonde a tomada de decisão não chegava e o processo de brainstorming se estendia demasiadamente?

Nas redes sociais e WhatsApp estamos vivendo a mesma coisa numa proporção maior por conta do número de pessoas envolvidas e com o bias de que a percepção que isso nos dá é positiva. O ser humano é opinativo por natureza: daí vem um driver fundamental de nossos avanços como espécie! O conceito de democracia reforçou o direito a sermos de tal forma em ato e não só em potência.

Apesar disso, em momento de crise temos que ser menos democráticos e mais diretivos.

A primeira onda de tsunami de impacto social pelo contágio nas populações de risco está preste a bater. Neste momento o governo tomou uma atitude: isolamento social horizontal. Isso tem seus pontos de inflexão, assim como qualquer outra opção que possa ser colocada na mesa. Por exemplo, o conceito de lockdown vertical e fascinante! A meu ver o empreendedor de sucesso Tellis explicou isso de forma brilhante num vídeo que viralizou rapidamente. Existem argumentações racionais fortes para isolar socialmente apenas a população a risco deixando que os outros continuem produzindo e consumindo, assim limitando o impacto na economia do já frágil tecido de pequenas e médias empresas.

Mas o que parece ideal no papel soa utópico de um ponto de vista prático. A experiência ensina que o povo, não só o brasileiro, não tenha disciplina suficiente para um lockdown vertical. Se a ideia fosse implementada, quantos dariam um “jeitinho”? O mesmo que se da em muitos outros aspectos em nossos dias a dia.

Ainda mais em tempos de crise, é preciso decidir por uma linha de ação - por imperfeita que essa seja. Quem tem que fazer isso é quem está na posição ideal em termos de acesso à informação e governança: os governantes que elegemos! 

Como toda decisão estratégica, alguns ficarão insatisfeitos. Mas é preciso amadurecer a forma como damos opiniões para não polarizar e ficar compactos! É importante seguir uma regra que pegamos emprestada do mundo militar pela qual se implementam operações complexas: "80% alignment, 100% commitment". Ou seja, apesar de não concordarmos todos com uma determinada decisão, sejamos eficientes na execução dela. E confiemos que os que foram designados para tomar esta decisão estejam considerando todas as opções pelos melhores critérios.

O pior de um ponto de vista médico e social está por vir e precisamos fazer tudo em nossas mãos para achatar a curva de contágio, tecnicamente chamado de achatamento epidemiológico. Nossos sistemas de saúde não podem absorver muitos doentes ao mesmo tempo! Ao fazer isso, harmonizaremos a imunologia natural que seguirá quando ao longo dos próximos meses a maioria contrairá a infeção.

Ironia da sorte será que ao termos sucesso nisso, o impacto social será menor do esperado e quem não concordou com isolamento horizontal poderá falar que foi criado um forte impacto econômico sem justificativa. Será o momento de crescermos como democracia e sustentarmos nossas escolhas: alguém vai decidir por nós, isso acontece constantemente e ainda mais em tempos de crise. A melhor hora para ser opinativo será nas próximas eleições.

A segunda onda que impactara é aquela de recessão econômica. Temos que nos preparar para este segundo momento cientes que Brasil não tem tecido sócio-econômico que Europa ou Estados Unidos para arcar com os custos de um lockdown horizontal por longos períodos. Mas este segundo problema que se apresentará, terá por natureza soluções mais elásticas que o primeiro até chegar ao mesmo impacto social que todos em nossa sana consciência de seres humanos queremos evitar: mortes que poderiam ser evitadas! Sejam estas por coronavírus, falta de capacidade de atendimento ou efeitos cascadas que se gerarão em função de uma nova crise econômica.

O ser humano e as nações se formam nas dificuldades. Temos uma chance para avançar esta jovem e dinâmica democracia brasileira aprendendo a executar uma decisão de isolamento horizontal com a qual em muitos não concordam, enquanto continuamos a opinar de forma madura nos meios adequados.