Dilema contemporâneo
Vivemos um verdadeiro dilema contemporâneo que tem feito com que executivos e pensadores do mundo inteiro se debrucem sobre temas até então tidos como controláveis e que apontam mais e mais com sinais de completa discordância e falta de consenso dos caminhos a tomar ou das consequências que estes dilemas de fato nos desafiam.
O modo como lidamos com as pessoas mudou
Ao passo que nos conectamos encurtando distâncias, o mundo tem se tornado mais e mais isolado. A falta ou diminuição da interação humana tem criado um efeito estrondoso na forma com que o ser humano se relaciona um com os outros e como tem abordado de forma rápida os assuntos como se a vida pudesse ser um twitter com 140 caracteres. Esse efeito tem tornado as discussões recheadas de conteúdos tipo “SMS” sem muito aprofundamento. Essa tendência tem um efeito devastador.
A relação com o trabalho está sendo alterada
Em retórica e aparentemente na contra mão das relações entre pessoas, um novo modelo chamado de colaborativo tem se “imposto” como se fosse uma alternativa a necessidade humana que vem gritando no interior de todos nós mas que efetivamente se tornou uma espiral entre o velho e novo modelo de gestão pela simples falta de método e aplicabilidade do que viria a ser colaborativo.
O fato é que existem empresas com esse modelo que nada mais são que um espelho de suas lideranças, longe de ser um modelo estruturado que possa ser facilmente replicado com outras culturas organizacionais. Sendo isso um fato estaríamos longe do que podemos chamar de holocracia e tantos outros nomes atribuídos a este movimento, que como falei, são espelhos de estilos de liderança, mesmos entre eles, com diferenças e divergências de estilos enormes entre si.
Tecnologia, trabalho e renda
A tecnologia vem andando a passos largos nos últimos anos trazendo benefícios imensuráveis em várias áreas. Por outro lado, se pudesse fazer uma analogia aqui, diria que seria algo como encontrar uma vantagem enorme ao desmatar uma área tornando-a produtiva sem ter realizado um estudo detalhado de seus impactos no futuro. Se por um lado a tecnologia vem realmente promovendo mudanças significativas na sociedade, por mais que pesquise não encontro estudos que descrevam com credibilidade seus impactos na mão de obra e renda das pessoas. Muito pelo contrário, existem movimentos tecnológicos que eliminam a mão de obra e em via contrária alimentam muito pouco a cadeia de geração individual de receita. Se aqui cabe um complemento a analogia anterior, seria como realizar o estudo de impacto mas sem plantar a mesma proporção de árvores derrubadas e ainda não levando-se em consideração o tempo que elas precisariam para crescer.
Envelhecimento da população
A população mundial está envelhecendo e as ofertas de empregabilidade ou de empreendedorismo para uma larga fatia desta população são praticamente inexistentes. Se os parques industriais e até de serviços estão se automatizando, robotizando e ganhando novos contornos de produção e escala, fazendo com que os preços sejam menores e de maior acesso a todos, teoricamente, como vender essa produção se a proporção de renda não acompanha esse crescimento? Em última instância, vender para quem se o dinheiro para adquirir os produtos for escasso ou inexistente?
IoT – Internet da Coisas
Até 2020, nada menos que 21 bilhões de dispositivos de Internet das Coisas estarão em uso no mundo controlando de abertura de casas a máquinas de café, de agendas pessoais a automóveis. Tal revolução, ao passo que cria comodidades e aumenta tempo e controle das coisas exigirão controle de redes e acesso, irão aumentar tráfego e necessidades de banda e estarão sujeitos a riscos enormes no que diz respeito a segurança e privacidade. Usando uma analogia novamente é como um vírus que supostamente poderia curar um câncer mas que ao mesmo tempo poderá, se não pensado de forma mais ampla, ter um efeito colateral maior do que o bem previamente desenhado.
Evolução estudada, analisada e ponderada
São tantos temas atuais que nos rodeiam, e tantos fóruns discutindo estas questões, muito mais de forma paliativa que propriamente séria e aprofundada que podem nos levar a reflexão de qual pílula desejamos tomar, a vermelha onde as coisas continuem da forma como estão sendo conduzidas ou a azul, onde o imaginário dá espaço as questões reais enfrentando de frente todas seus impactos e tomando medidas para que tudo aconteça de forma a gerar o menor impacto em todas as instâncias.
Todas as grandes evoluções humanas vem acompanhadas deste dilema. Se em 1807 alguém tivesse pensado nos impactos que combustíveis fósseis teriam em nossa vida, ou a industrialização de alimentos em nossa saúde, talvez estes impactos hoje não nos custariam trilhões de dólares, não existiriam, e pior, talvez ainda não sejam suficientes para resolver o problema.
O fato é que pouco se vem estudando sobre os impactos que estamos introduzindo na sociedade de uma forma geral, sejam eles tecnológicos, sociais ou comportamentais. Não temos ideia dos impactos de muitas coisas que hoje consideramos “legais” terão na vida das pessoas em menos de 30 anos, o que temos são indicativos e, infelizmente, os indicativos são alarmantes e não chegam nem perto de produzir soluções para mitigar esses possíveis impactos.
Olhar para o futuro é como olhar através de uma janela de oportunidades que deve sempre ser vista sobre dois opostos que buscam o equilíbrio. Consciência e discernimento ainda são faculdades inerentes do ser humano, basta que as usemos com sabedoria para conviver com harmonia com tudo o que podemos criar para que possamos tirar o melhor proveito de nossa genealidade.