Ação por espasmo: o grande mal das empresas hoje (e sempre)
No universo empresarial, poucos hábitos são tão prejudiciais quanto a "ação por espasmo". Sempre dialoguei com os meus clientes sobre a importância de priorizar o olhar e a ação preditivos aos reativos. Quando operamos tão somente sob demanda, decisões são tomadas de maneira abrupta, sem planejamento ou consistência, impulsionadas por crises imediatas ou eventos isolados. Nossas empresas, e organizações como um todo, precisam atentar para esse aspecto que pode ser nevrálgico e um limitador para histórias de sucesso. Ao invés de uma gestão estratégica, focada em metas de longo prazo e construção sólida, temos visto crescer o número de gestores que adotam o método sob demanda, sem perceber que isso nada mais é que espasmo e não denota planejamento e nem eficiência e eficácia.
Não dá para viver como se estivesse sempre apagando incêndios, correndo de um problema a outro sem considerar os impactos futuros de suas escolhas. E, sim, acreditem, é melhor parar tudo que estiver fazendo e organizar a casa do que viver uma rotina dita “produtiva” em caos. Falar sobre gestão por espasmo é o mesmo que delinear uma série de problemas estruturais. Quando uma empresa opera sem planejamento, há uma erosão gradual da confiança interna e externa. Equipes passam a trabalhar com prazos apertados e sem clareza de direção, o que gera ansiedade, estresse e até desmotivação. A falta de previsibilidade mina o engajamento dos colaboradores, que não conseguem se sentir parte de um propósito maior ou de uma estratégia bem desenhada. Eu chamo isso de dano de reatividade descontrolada.
Fato é que decisões reativas são, em geral, menos pensadas e avaliam menos os riscos. A falta de reflexão pode implicar em investimentos mal alocados, produtos mal desenvolvidos e estratégias de marketing sem o mínimo de direção. Ao final, a empresa gasta mais tempo e recursos remediando erros do que investindo em inovação ou aperfeiçoamento de processos. Isso corrói a lucratividade a longo prazo e prejudica a capacidade de crescimento sustentável.
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No âmbito interno as consequências são ainda mais complexas e afetam fortemente a cultura organizacional. Sem planejamento ou previsibilidade, os colaboradores perdem a confiança em seus líderes. Não sabem em que projetos se focar, sentem-se desorientados e, muitas vezes, vêem seu trabalho sendo descartado ou desvalorizado. Outro impacto importante é a dificuldade em promover uma cultura de inovação. Em ambientes onde o planejamento é fraco, a inovação raramente floresce. O espaço para ideias criativas é sufocado por questões emergenciais e o foco em soluções de curto prazo impede o surgimento de projetos que demandam uma visão estratégica mais ampla. Assim, empresas reativas tendem a ficar para trás em termos de competitividade e capacidade de adaptação real às mudanças do mercado.
Empresas bem-sucedidas, por outro lado, operam com base em um planejamento estratégico sólido. Precisamos, urgentemente, deixar de ter medo do planejamento enquanto ferramenta. Muitas empresas acham que se trata de um instrumento que engessa ou limita, mas isso é um equívoco! É o planejamento que permite que a organização tenha uma visão clara de onde quer chegar e crie um plano detalhado de como alcançar seus objetivos. Mesmo que imprevistos aconteçam – e eles sempre vão acontecer – uma empresa com planejamento estará melhor preparada para lidar com as adversidades de forma estratégica.
Não queira nem pensar no custo de operar no caos. Não escolha pagar esse preço. "O planejamento de longo prazo não lida com decisões futuras, mas com o futuro das decisões presentes", já lecionava Peter Drucker. Pensemos sobre. Está mais do que na hora de romper o ciclo vicioso da reatividade e construir um caminho sólido (de verdade).