Abrace seu "lay-off" | Episódio 1: Lidando com seu novo momento

Dicas para profissionais de tecnologia que foram desligados em massa e estão em busca por recolocação

Tudo ficou claro naquele instante. No exato momento em que consolava por vídeo uma amiga aos prantos que havia acabado de ser demitida, meu novo gestor me perguntou no chat se eu tinha uns minutos para "falar rapidinho". Seria a minha vez? Podia ter me esquivado e ganhado tempo... mas pedi apenas 10 minutos. Suficiente para respirar e refletir. Listei mentalmente tudo o que gostaria de perguntar e de dizer caso acontecesse realmente o que eu tinha imaginado e fui para a forca ingressando na "salinha virtual de abate". Cumpri todo o meu checklist mental sem sair com nenhuma pendência na cabeça e segui para me dar um momentinho de comfort food indo almoçar num lugar que amo acompanhada de um bom suco de maracujá pra acalmar os ânimos.

Obviamente não foi fácil como descrevi. 2022 tinha começado intenso, com plot twists todo mês. Alguns tristes, com a saída inesperada de colegas. E outros que tinham me deixado a poucos passos da área que eu desejava trabalhar desde que entrei naquela empresa. Estava tudo certo pra minha transferência. Algo que eu tinha planejado e investido em 6 meses de conversas internas, apresentação de portfólio e negociações. Eu estava bem animada quando veio o plot twist advanced: o famigerado "lay-off" me jogou a léguas de distância do meu objetivo. Foi duro! Nadar, nadar e morrer na praia depois de quase 3 anos. Tive que assumir que talvez tivesse que percorrer todo aquele caminho de novo até chegar próximo daquela conquista novamente.

Nos 58 dias seguintes, vivi um intensivão de busca por recolocação. Participei de 32 processos seletivos formais (aqueles em que cheguei ao menos na primeira entrevista) e tive 76 conversas entre entrevistas por telefone, vídeo, apresentação de case e propostas finais. Tudo isso sem contar as abordagens iniciadas pelo Linkedin e direcionadas por WhatsApp para alinhamento de expectativas, que não se encaixaram muito no que eu desejava. Sim, eu planilhei tudo e posso até dizer que tenho estatísticas. Com certeza aprendi bastante sobre processos seletivos, perfis de empresa e mercado. Dividi essa experiência com um grupo profissional incrível que me apoiou nessa jornada e que também me incentivou a escrever sobre isso. Então estou aqui pra compartilhar um pouco de "auto-ajuda", um pouco de dicas práticas... E como tem assunto a beça, resolvi dividir em "3 episódios":

1. Lidando com o novo momento

2. Decidindo sobre seu futuro

3. Correndo atrás do seu futuro

Nesse primeiro artigo vou falar um pouco sobre como lidar com a demissão de forma menos dolorosa e mais produtiva.

Não olhe para trás

Algumas pessoas ficam com a autoestima profissional muito abalada, mesmo em casos de demissão em massa. Ficam se perguntando porque foram as escolhidas e colocando em dúvida suas entregas e sua competência. Não entre nessa! Você precisa estar confiante para entrar em processos seletivos. O mais importante é se concentrar em você e no que deseja para o seu futuro.

Nem sempre as empresas tem critérios justos ao fazer cortes. Alguns gestores passam noites em claro tendo que decidir se demitem um jovem talento elegível à promoção ou um sênior não tão fora da curva com a esposa grávida. Outros tomam decisões estritamente orientadas a custos, sem olhar desempenho. Sem avaliar se o profissional mais caro entrega o dobro do mais barato. Alguns tomam decisões erradas e, passado algum tempo, se declaram arrependidos das escolhas que fizeram (sim, eu vivi pra ver isso acontecer!).

Tudo isso fala das estratégias das empresas e sobre como gestores tomam decisões, sejam elas boas ou ruins. Mas não fala necessariamente sobre você.

Olhe para trás

Sim, é isso mesmo que você leu. A ideia aqui é que você busque entender o que afinal fala sobre você. Faça um balanço da sua jornada na última empresa. Aproveite e recapitule tudo o que entregou. E não falo só de resultados inerentes ao seu cargo. Mas também do que você agregou para o time e para empresa: melhoria de processos, mentorias, aulas, eventos, fóruns, guildas, etc. Peça recomendações sinceras no seu Linkedin e faça bom proveito dessa informação. Liste tudo o que rolou de bom. Isso vai te ajudar a vender melhor o seu peixe numa entrevista e a aperfeiçoar seu currículo.

E claro, você também precisa ter a maturidade para se auto avaliar com honestidade. Se você acredita ter sido um caso em que entrou para a lista de corte por algumas falhas ou por desempenho inferior ao dos colegas, não se chicoteie. Mas não tape o sol com a peneira. Repasse os feedbacks formais ou informais que teve, entenda as suas dificuldades e veja em quais pontos você pode melhorar.

Drible o desconforto do luto

Situações de demissão trazem diferentes sentimentos e reações emocionais. Avalie o que te afeta e crie mecanismos para evitar se abater. Se você precisa estar no Linkedin para buscar recolocação e se sente mal ao ver a empresa que te demitiu postando vagas, deixe de seguir a empresa. Se notícias com declarações corporativas descuidadas te afeta, evite ler. Se a promoção dos ex-colegas parece incoerente com o discurso de corte de custos, deixe de segui-los, ao menos por um tempo. Se continuar no grupo informal de WhatsApp do time te deixa desconfortável, dê um tempo, silencie o grupo ou saia, se preferir. As pessoas vão entender. Evite ler e interagir com posts de linkediners que querem lacrar por aí resumindo os demitidos como iludidos com mesas de pingue-pongue ou criticando quem faz post de fechamento de ciclo. Só você sabe como foi sua jornada e porque escolheu estar naquela empresa. Tenho certeza que não foi por causa de um escritório com piscina de bolinhas.

Resolva logo as burocracias demissionais

Decida logo se quer manter o plano de saúde, se houver possibilidade. Não é bom estar descoberto, mesmo que seja por poucas semanas. Murphy está por aí e problemas de saúde surgem quando a gente menos espera. Se não puder manter o plano, cheque até quando tem direito a usar e corra pra fazer as consultas e exames que precisa.

Se informe sobre os prazos obrigatórios e cobre a empresa caso ela não entregue a documentação da rescisão no prazo ou os valores recebidos não estejam corretos. Pode acreditar: vi colegas que não receberam documentos de rescisão por mais de um mês e que tiveram 3 ou 4 e-mails totalmente ignorados após o desligamento. Infelizmente algumas empresas mudam completamente o tratamento dado ao profissional quando ele passa a ser um ex-empregado. Mas lembre que é seu direito e você pode exigir.

Com a documentação em mãos, dê entrada imediata no seguro-desemprego. Mesmo que você esteja num mercado aquecido e que fique pouco tempo sem trabalho, uma nova admissão pode levar um mês. As empresas tem janelas de entrada e burocracias admissionais. Ainda que tenha recebido a rescisão, por que não receber o que é seu direito pelo período "between jobs"? Você pode usar esse valor para cobrir algumas despesas, investir na sua atualização ou em equipamentos para um novo home-office. Não abra mão disso!

E lembre de pegar o comprovante de rendimentos para declaração do imposto de renda, pois, se deixar para ver no próximo ano, isso pode virar uma novela.

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Em breve, episódio 2: Decidindo sobre seu futuro.