Abril x Empiricus x NY Times

Abril x Empiricus x NY Times

Semana passada, recebi a notícia das demissões em massa na Abril e do encerramento de vários títulos, como quem recebe a notícia da morte de um tio que está doente há anos. Com tristeza enorme, mas sem surpresa.

Cresci lendo revistas e fascículos da Abril. Mal havia aprendido a ler e torrava a paciência do jornaleiro, querendo saber quando chegaria o fascículo de "Os Bichos", ou, um pouco mais tarde, a edição da "Quatro Rodas"... as revistas da Disney, a Playboy, a Superinteressante, as páginas amarelas da Veja, a Exame... A Abril, creio que até o ano 2.000, era um exemplo de império inabalável. Eu não conseguiria imaginar o Brasil sem aquela empresa.

O problema, é que o tempo passa e o mundo muda. Cada vez mais, conteúdo de altíssima qualidade passou a ser disponível por baixo custo, ou gratuitamente. O impacto das novas tecnologias de comunicação foi brutal. Quem iria pagar por informação, em um mundo onde há tanta informação gratuita? A Abril não soube responder a esta pergunta.

Mas então, será que o jornalismo acabou? Tenho certeza que não. Hoje mesmo, aqui no Brasil, muita gente está pagando caro por informação de qualidade... Um exemplo de enorme sucesso editorial é a Empiricus. Dezenas de milhares de assinantes pagando caro por informação especializada.

Garanto que os fanáticos por automóveis também pagariam por uma Quatro Rodas de altíssima qualidade, as pessoas que gostam de moda pagariam por uma publicação que oferecesse alto valor em troca do dinheiro e construtoras, arquitetos e pessoas que querem comprar imóveis teriam o mesmo interesse. Claramente, existe uma saída para o jornalismo no andar de cima: publicações de altíssimo nível, feitas para nichos, oferecendo o que não existe de graça na internet: opinião especializada e curadoria de informações. Ao invés de demitir os jornalistas experientes e caros, contratar especialistas e sofisticar a análise parece ser uma saída.

Por outro lado, o balanço do NYTimes mostra que há também uma saída no andar de baixo: assinaturas baratas, propaganda extremamente bem direcionada e a oportunidade de oferecer ao anunciante o contato diário com um leitor que se conhece profundamente... Por que a assinatura digital não pode custar muito mais barato, quase nada mesmo? A oportunidade de ter um leitor vindo ao seu site todos os dias, com seus hábitos de leitura e interesses monitorados detalhadamente, possibilita chances incríveis de geração de caixa.

O jornalismo livre, forte e independente é fundamental para o Estado de Direito. Para que ele exista, precisamos criar novos modelos para financiá-lo. Esta é uma questão urgente. A derrocada da Abril deve ser um ponto de virada: não dá mais pra pensar o jornalismo com o foi até agora, mas é indispensável que ele siga sendo pensado.

Elder Braga

Sócio na Mammana Grubba, Sacilotto e Braga, Advogados na Mammana, Grubba, Sacilotto e Braga Advogados

6 a

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