Abrir ou fechar portas...
A importância de realizarmos as escolhas com coerência e profundidade são sábias quando permitem que as PORTAS, na verdade os caminhos, possam ser refeitos e muitas vezes desfeitos para que um novo caminho alternativo surja e acelere um processo interior de felicidade e realização entre pessoas e grupo profissional onde você atua. Hoje selecionei um artigo muito interessante que demonstra as dificuldades impostas pelas escolhas nem sempre baseadas na felicidade pessoal. Vamos a ele...
Passamos boa parte da vida acreditando que tudo que nos fará feliz é abrir portas, não importa quais sejam elas. Ansiamos por tanta coisa: queremos ser bem sucedidos no trabalho, atrair promoções e remunerações melhores. Queremos encontrar o amor de nossas vidas, perder alguns quilos, encontrar os amigos mais legais e estar sempre cercados deles. Desejamos ser plenamente felizes em todos os segundos que nos restam, fomos acostumados que o bom era sempre abrir, não fechar. E nessa busca, faremos o impossível para conseguir uma dessas chaves, a chave que resolverá todos os problemas de nossas vidas.
Chaves capazes de destravar todas as portas que ao nosso ver nos impedem de sermos realmente ser felizes. E se a benção estiver justamente no fechar algumas portas? Você mesmo!
Girar a chave para fechar uma porta pode doer, mas é preciso para que você mesmo se proteja do que não dá mais para insistir.
Durante anos suportou as piadinhas daquela pessoa, porque acreditava que era impossível reclamar, porque que fizesse isso um mal estar seria gerado ao ser sincero. Durante meses, suportou os pedidos descabidos de um chefe que cada vez mais tratava de arrumar um jeito de pisotear mais um pouco. Por semanas e semanas, acreditou nas desculpas daquele que achava ser o seu grande amor, mas cuja fala não passava de promessa e nunca vinha acompanhada de atitudes reais, mesmo que ele pregasse isso aos quatro cantos.
Passou a vida aguentando todo tipo de coisa, e tentava ficar calado, porque acreditava que assim estava sendo boa pessoa. Engoliu a seco, tentou ser paciente, criou um pouco mais de fé, arrumou um jeito de confiar mais um pouquinho naquela pessoa, na resolução da situação.
Então, chegou o dia em que simplesmente nada mais pode descer goela abaixo.
Parecia que a garganta estava seca, porque realmente era difícil suportar mais uma dose, ainda que pequena, daquilo que por tanto tempo aguentou e que agora lhe parecia fatal. "O veneno está na dose", não é o que diziam? Talvez tivesse chegado o dia em que a soma de todas aquelas gotas tivesse se tornado letal. E esse veneno podia ser a cura ou o fim de uma vez por todas. Podia ser o que lhe abriria os olhos sobre o que estava permitindo consigo mesmo.
A verdade é que não estava pronto para isso, para fechar. Talvez até achasse que deveria passar mais uns bons meses aguentando e logo a notícia boa viria. Como assim fecharia aquela porta? Aquela que finalmente parecia estar se abrindo? Você é louco de querer fechar portas? Está tão perto de dar certo!
Como é que ia encontrar coragem para dizer na cara algumas verdades, para dizer não, para resistir a mais uma dose? Estava acostumado a ser nutrido por muitas daquelas que pareciam verdades. Logo percebeu que o sabor que sentia devorando tudo aquilo já não existia mais. Era como se tivesse pegado uma gripe, daquelas que por um ou dois dias levam o paladar e então a comida perde a graça, o sentido. Repentinamente sentia que havia chegado ao limite, que não dava mais para suportar nem mais um dia daquela enrolação que lhe tirava um pouco de sua conquistada e suada liberdade.
Era mais um dia normal e até existia esperança naquele coração. Não se sabia de onde conseguia tirar tanto, mas lá estava ela vivendo mais um dia. Parece que finalmente as peças estavam se encaixando e que faltavam poucas opções de chaves para tentar abrir aquela tão sonhada porta. Finalmente tudo que havia suportado havia valido a pena, estava realmente perto de chegar ao que um dia tanto sonhou.
Acordou, colocou sua melhor roupa, vestiu-se com um sorriso enorme, tirado lá do fundo da alma, de uma alma cansada de persistir. Era o dia em que finalmente só lhe restava uma chave. "É claro que era aquela que abriria a porta tão sonhada", pensava. Não havia mesmo como dar errado, todos diziam.
Inseriu pacientemente a chave pelo buraco da fechadura. A ansiedade havia ido embora repentinamente, porque sabia que sua espera havia acabado. Se acalmou. Ajeitou a gola da blusa. Raspou a garganta para si mesmo, baixinho. Olhou fixamente para aquela chave enquanto a virava calma e seguramente, sentindo que finalmente aquilo estava funcionando, que a chave era a certa. Mal podia esperar para ver o que existia do outro lado daquela porta.
Assim que virou a chave encontrou uma parede em branco.
A decepção veio no mesmo instante. Toda aquela espera havia sido em vão. Quase toda uma vida (ou boa parte dela) havia sido gasta tentando abrir aquela porta. Como assim não havia nada do lado de lá?
Frustrada, decidiu que era preciso ela mesma fechar o que havia aberto. Não serviria para ela, nem para ninguém uma porta tão sonhada, mas que assim que aberta era repleta de nada, pintado de cor branca. Sequer dava para dar um passo, porque não existia profundidade por ali. Então, entendeu que era sim preciso fechá-la e jogar a chave fora.
E foi assim que entendeu que gastou boa parte da vida desejando o que estava do lado de fora. Buscando pela chave certa. Esperando pelo dia em que finalmente seria feliz, enquanto era magoada mais um pouco, lentamente. Foi nesse dia que percebeu que focou tanto no sonho e na promessa, que se esqueceu de viver o que existia ao seu redor.
Tomou cada um de seus dias esperando pela data em que tudo estaria perfeito e que a porta seria aberta. E gastou tanto tempo com isso, que só percebeu quando girou a maçaneta e viu o fundo branco sem profundidade: era apenas mais uma folha em branco esperando para ser desenhada. A mesma folha que já era lhe dada todos os dias ao acordar, sem precisar ansiar pelo dia em que encontraria a chave certa.
A verdade é que todo o tempo esteve em suas mãos o poder de fazer diferente, mas durante muito tempo acreditou que a decisão estava nas mãos do outro, do destino, da porta aberta. Finalmente havia aprendido que às vezes, é preciso que você mesmo feche algumas portas.
Texto adaptado de Flavia Gamonar, escritora e coautora do bestseller Disruptalks.