Fundos de infraestrutura: oportunidades e desafios diante do atual cenário
Diante de um cenário de alta da taxa básica de juros e restrição do lastro para CRI, CRA, LCI e LCA, anunciadas no começo deste ano pelo Conselho Monetário Nacional, os fundos de infraestrutura vêm se destacando no mercado. Em agosto deste ano, a área de research da XP divulgou um estudo que revelou que esses fundos cresceram 202% no número de cotistas nos últimos doze meses, e de 126% no patrimônio dos fundos de infraestrutura listados, atingindo mais de R$ 12 bilhões.
Com esse período de grandes oportunidades para o ativo, o BTG Pactual captou, em equity, R$ 1,6 bilhão para o Fundo Infraestrutura III e R$ 1,3 bilhão para uma transação de linha de transmissão. No segmento de crédito, o banco anunciou o lançamento de três novos fundos de infraestrutura, com a expectativa de captar R$ 1,5 bilhão.
Para entender melhor os motivos do crescimento, os desafios e perspectivas para essa classe de ativos, a ABVCAP conversou com Daniel Epstein, sócio e responsável pelos investimentos em infraestrutura da área de Capital Privado, que engloba as estratégias de Private Equity, Infraestrutura, Venture Capital e Investimentos de Impacto do BTG Pactual, e com Túlio Machado, head de investimentos em infraestrutura da XP Asset.
Cenário favorável e oportunidade nos fundos de investimentos em infraestrutura
No Brasil, há diversas oportunidades para investimentos em infraestrutura em razão de grandes projetos, que se somam a processos de concessões e privatizações. O país também tem um arcabouço regulatório robusto e regras bem definidas, como defende Túlio Machado. “Obviamente sempre há algum tipo de volatilidade em relação à questão regulatória, mas o país caminha para uma estabilidade jurídica. Isso é uma somatória bem positiva. São oportunidades de investimentos que existem em um país com demandas e carências, mas ao mesmo tempo com um ambiente regulatório estável”, afirma.
Outro fator que cria oportunidades aos fundos de infraestrutura é o patamar dos juros. “O nível atual dos juros se traduz num cenário de custo de capital e dívida mais elevado, impactando diretamente na expectativa de valuation das companhias bem como dos retornos exigidos nos leilões. Participantes de mercado mais alavancados que dependem de captações de equity tendem a ser mais conservadores nas precificações. Além disso, vemos players estratégicos se juntando aos fundos, elevando os retornos dos projetos, dado o “piso” dos players financeiros. Diante desse contexto, gestores capitalizados vão se beneficiar e “surfar” um mercado menos competitivo com um potencial de ganho adicional numa eventual queda da taxa de juros.”, explica Daniel Epstein.
Os desafios para os fundos de infraestrutura
Apesar do juro caro beneficiar a classe de ativos, ele também pode ser desafiador. Túlio explica que as gestoras podem encontrar uma dificuldade maior para captação já que o investidor pode optar por investimentos em renda fixa e, além disso, se o custo do projeto for muito alto, pode inviabilizar o investimento. “Diante do cenário atual de juros, em que o custo fica mais caro, nós precisamos ficar mais seletivos também, estudar melhor os projetos e investir naqueles que realmente valem a pena. Isso é um trabalho constante por aqui”, explica.
Daniel enfatiza que a concorrência com players estratégicos sempre será um desafio e a volatilidade nos mercados para precificação dos ativos. "O player estratégico se beneficia do conceito de uma plataforma e estabilidade do portfólio, o que implica num custo de capital menor, porém, cada situação é única, e há oportunidades pelo momento de mercado ou visão de risco que permitem fundos a terem competitividade. No entanto, é preciso ter cuidado na precificação, principalmente em função da volatilidade de insumos (commodities) e condições macroeconômicas.
Os principais setores dos fundos de infraestrutura
Dentro dos fundos de infraestrutura, alguns chamam mais atenção dos gestores por serem mais estratégicos e por oferecerem melhores oportunidades. O BTG Pactual, por exemplo, foca em energia elétrica, rodovias, saneamento básico e transportes, considerados mais resilientes independente do cenário macroeconômico. “Dentro do setor de energia elétrica, a transmissão é o nosso grande foco. Ganhamos três lotes no leilão de março e estamos analisando a participação nos próximos leilões. Também planejamos participar de leilões no setor de rodovias e estamos com oportunidades de concessões no setor de saneamento” explica Daniel.
A XP Asset olha mais para o setor elétrico por ser bem conhecido e relevante para o mercado. “É um segmento que acompanhamos muito e que tem muitas oportunidades, principalmente por conta dos leilões. Também temos o segmento de transportes no nosso portfólio, com projetos de operações em portos e aeroportos”, afirma Túlio.
Em meio ao cenário que apresentava uma queda nas taxas de juros e que agora prevê uma alta por conta da inflação, os próximos meses exigirão cautela e avaliação dos riscos dos ativos, priorizando retornos mais elevados
Para Daniel, o cenário pode ajudar ainda mais a categoria. “Estamos no período de investimentos do nosso fundo de Infraestrutura e o cenário é propício para alocação de capital, seja pela competição menor em alguns setores e/ou a possibilidade de ganhos adicionais caso haja uma melhora no cenário macro.” pontua o sócio do BTG.
O head de investimentos em infraestrutura da XP Asset aposta fortemente nos estudos dos projetos e aproveitar o momento para colocar o capital para trabalhar. “Temos apetite por alocar os nossos recursos e vamos continuar a estudar e buscar projetos que façam sentido para a nossa carteira e para os nossos clientes. Então, apesar de termos um cenário macro mais desafiador, vemos vantagem nisso. Com um mercado de capitais mais fechado, sem IPOs e menos follow-ons, os fundos que estão captados começam a fazer boas aquisições. Portanto, é um momento em que podemos fazer M&As”, conclui Túlio.
Avanços na promoção da diversidade de gênero na indústria de Private Equit e Venture Capital
Em setembro, o Sprint Challenge, a etapa final do Projeto ONE, foi concluído com sucesso. Nesta última fase, oferecida pela Heidrick & Struggles, parte dos participantes que passaram pelo treinamento oferecido pela International Finance Corporation (IFC) em agosto foram desafiados a desenvolver um plano estratégico para promover a diversidade de gênero na indústria de Private Equity e Venture Capital do Brasil. Foram 4 dias intensos de discussões, coleta de dados e dinâmicas enriquecedoras. Ao final, os participantes elaboraram e apresentaram plano inicial aos embaixadores e ao Steering Committee do Projeto ONE. Agora, os participantes do Projeto ONE estão se organizando em um Grupo de Trabalho dedicado a aprimorar o plano e estabelecer os próximos passos. A ABVCAP, IFC e Heidrick & Struggles continuarão acompanhando de perto os desenvolvimentos de todos os envolvidos.
Participação da Presidente da ABVCAP no webinar da Preqin
A presidente da ABVCAP, Priscila Rodrigues, participou do webinar “The Rise of Private Capital in Latin America”, realizado pela Preqin. Durante a conversa, ela e outros especialistas discutiram sobre os mais recentes dados de ativos alternativos e os principais fatores que têm impacto significativo na América Latina. O webinar também contou com a participação de Carla Canu, Country Head Peru and Columbia do Compass Group, Renato Mazzola, Managing Partner do BTG Pactual, Paulina Nucamendi, VP Alternative Investments da Afore Sura e Philippe Stiernon, Founder, CEO & Managing Partner da ROAM Capital.