ADOLESCENTE UMA JÓIA A SER LAPIDADA
“Crianças são como borboletas ao vento...algumas voam rápido, outras voam pausadamente, mas todas voam do seu melhor jeito. Cada uma é diferente, linda e especial.”
Começo esse artigo com esse pensamento que nos faz refletir e aprender a respeitar as diferenças entre cada ser humano e seu desenvolvimento, que é único e tem seus dons e talentos especiais, bastando investir no autoconhecimento para despertar essas habilidades adormecidas e se tornar uma joia rara e muito valiosa.
A adolescência é uma fase ímpar de nossa vida, que se bem estimulada pode nos trazer grandes recompensas futuras.
Segundo o psiquiatra americano Daniel Siegel, um dos grandes estudiosos desta fase, precisamos mudar a maneira de enxergar a adolescência. Ela não é um período de loucura ou imaturidade. É o momento em que ganhamos a consciência de quem somos e do que podemos ser.
Para entendermos a adolescência é fundamental conhecermos os processos de desenvolvimento do nosso cérebro e suas consequências.
Muitas vezes os adolescentes pensam e sentem como os adultos. Mas não raro se comportam como crianças. A explicação é neurobiológica: algumas regiões cerebrais responsáveis pela autorregulação amadurecem mais tardiamente.
Os hormônios, são o bode expiatório invisível que explicaria o comportamento dos jovens. Essa afirmação, segundo a neurocientista Suzana Herculano-Houzel, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, na verdade, indica pouco conhecimento sobre o assunto. Existe apenas um hormônio importante na adolescência, o sexual, e por si só ele não explica outros comportamentos típicos da faixa etária, como a sociabilidade e a propensão ao risco. Quem comanda as mudanças da adolescência, inclusive a produção do hormônio sexual, é o cérebro, explica.
É evidente que um adolescente tem o cérebro imaturo, já que, por definição, ele ainda não é um adulto. Mas o corpo desenvolvido, já parecido com o do adulto, acaba gerando nos mais velhos a expectativa de um comportamento mais maduro, o que se torna fonte permanente de frustração. A maturação do cérebro humano segue pela adolescência e pode continuar até a idade adulta.
Entre os doze e os 24 anos ocorre a diminuição da produção de neurônios e das conexões cerebrais – as que ficam se tornam mais fortes e produtivas. Quanto mais usamos algumas conexões, melhores e mais complexas elas se tornam. Por isso, as experiências que temos durante a adolescência, nossos hábitos e sensações moldam o adulto que seremos.
Daniel Siegel ainda diz que há quatro aspectos que chama de ‘essência da adolescência’: entusiasmo emocional, entrosamento social, busca de novidades e criatividade. Nascemos com potenciais que podem ou não se realizar. E eles só irão se tornar concretos a partir das mudanças vividas pela mente adolescente.
Há outro dado nesse complexo processo: a maturação do cérebro não se dá de maneira homogênea, mas em ritmos diferentes em cada região. A última parte do cérebro a amadurecer – o córtex pré-frontal – é justamente a região onde se processam comportamentos tipicamente de adultos, como capacidade de planejamento, concentração, inibição de impulsos e empatia.
Ao contrário da criança, que tende a ser alegre, o adolescente é mais irritadiço e nega ou questiona o que vem antes dele. Como o cérebro ainda está se consolidando, as oscilações de humor são comuns, assim como o comportamento reativo. Eles começam a olhar o mundo de forma mais profunda, mas o lado emocional não está totalmente amadurecido. Daí surgem embates com os adultos e com a família. Além disso, eles são mais impulsivos, reativos e intensos. Percebem as incongruências, mas não sabem como lidar com elas.
Se, por um lado, a maturidade emocional do adolescente oscila, é nessa fase também que ele passa a possuir ferramentas que o preparam para a vida adulta. Surge a capacidade de tomar decisões, julgar e planejar.
Os adolescentes possuem um terço dos receptores para dopamina, responsável pelo bem-estar. Por isso, precisam de experiências mais intensas, que estimulam mais a liberação da substância, para sentir prazer. Essa mudança, por si só, é a principal responsável pela maioria dos comportamentos típicos do adolescente, como a busca de novidades, os excessos (como ouvir música alta) e o comportamento de risco, que também gera euforia e produção de dopamina. E tudo isso não é ruim, pois a procura pelo prazer é o que move o adolescente a descobrir coisas novas e a buscar independência.
O encontro de um cérebro em formação com o comportamento de risco, como consumo de álcool e de drogas, é o ponto de maior vulnerabilidade. O risco de dependência é maior porque o jovem está numa fase de experimentação. Dependências adquiridas podem permanecer durante a vida adulta. As descobertas sobre esse período da vida ajudam a lançar um olhar novo sobre o adolescente e a reconhecê-lo como alguém que não está pronto e que, por isso, precisa ser acolhido e orientado.
Por volta dos 15 anos, registra-se o pico de atividade dos neurônios-espelho, células ativadas pela observação do comportamento de outras pessoas e que levam à sua repetição”, diz o neurologista Erasmo Barbante Casella, do Hospital Albert Einstein e do Instituto da Criança da Universidade de São Paulo. Esse é um dos motivos pelos quais os jovens adotam gestos e roupas similares. Além disso, há a grande necessidade de ser aceito pelos amigos e o peso terrível da rejeição. “É uma fase na qual a identidade não está absolutamente constituída, e o grupo acaba sendo o meio para experimentar e também uma lente pela qual o adolescente lê o mundo”, diz a psicóloga Joana Novaes, da PUC-Rio de Janeiro. Estudos apontam que há também uma grande quantidade de oxitocina, hormônio relacionado às ligações sociais e formação de vínculos, circulando no organismo, o que favoreceria a tendência de andar em turma.
O neurologista procura orientar os pais a prestar mais atenção às companhias dos filhos, pois existe realmente uma tendência a copiar comportamentos. E os pais precisam interferir nisso”, diz o especialista.
Os adolescentes são levados a impressionar os amigos, em busca de aprovação, enquanto também vão se tornando mais independentes dos pais.”
Devemos engajar os adolescentes em atividades que exigem criatividade para aprenderem a planejar e lidar com situações inesperadas.
Um terceiro comportamento gerado pela remodelação cerebral é a super-racionalidade. Ela é a capacidade de pensar apenas em termos literais, concretos, sem olhar para o contexto. Com esse tipo de pensamento, o jovem pode ser levado a considerar apenas os benefícios de suas ações e não pensar no lado negativo.
O córtex orbito-frontal somente amadurece no final da adolescência e possivelmente permite, só então, o raciocínio consequente, ou seja, o comportamento responsável, que leva em consideração as consequências possíveis dos próprios atos antes da ação. Até então, adolescentes não sabem pensar sozinhos nas possíveis consequências ruins dos seus atos. O circuito social somente amadurece no final da adolescência, quando permite que o adolescente se torne uma pessoa sociável, empática, solidária, capaz de se colocar no lugar dos outros e usar esta informação na hora de agir.
“Adoram quebrar regras” - O cérebro adolescente está aprendendo a tomar decisões, e isso envolve saber até onde é possível empurrar limites e ignorar regras. Isso é particularmente importante quando se lembra que várias regras da infância eram arbitrárias, estipuladas pelos pais segundo seus valores particulares. O adolescente está descobrindo seus próprios valores para tomar decisões, então quebrar regras é uma maneira de saber se aquilo é realmente uma regra sensata, ou apenas uma arbitrariedade ignorável.
“Querem distância dos pais” - Além de serem parte do 'mundo velho' da infância que perde a capacidade de ativar o sistema de recompensa, pais geralmente cometem o erro de querer continuar a tomar todas as decisões pelos filhos adolescentes. A distância dos pais pode ser apenas um efeito colateral da necessidade do novo (novos ambientes, novas amizades, novas atividades), combinada ou não a uma necessidade de espaço para aprender a tomar decisões.
Gostam de adrenalina - velocidade, rock pesado, raves, esportes radicais, porém há alternativas menos arriscadas que podemos incentivá-los a participarem, por exemplo: academias, esportes menos radicais e estímulos intelectuais como música, cinema e literatura.
Por causa das transformações no cérebro, adolescentes vivem graaaaandes paixões. Eles entendem melhor e mais rápido do que os pais como usar equipamentos novos, em parte pelo prazer de usar suas recém-descobertas habilidades de raciocínio lógico e intelectuais. É uma fase de grandes descobertas literárias, musicais, políticas e intelectuais de uma maneira geral, quando as mentes começam a se encher de novas ideias. O fascínio recém-descoberto pelo abstrato leva o jovem não só a descobrir filosofias, como também a criar a sua própria. E aqui os adolescentes levam uma enorme vantagem sobre adultos: livres ainda de grandes responsabilidades sobre os ombros, eles têm tempo só para curtir isso tudo.
Todas essas atitudes geradas pelas mudanças cerebrais – impulsividade, rebeldia, intensidade – são necessárias para que os jovens saiam de seu círculo familiar e conheçam o mundo. Nesta fase refletir com ele sobre valores gera muito mais resultado do que seguir com proibições.
Viver com paixão, estar rodeado de amigos, ir atrás de novas ideias e experiências e manter o cérebro sempre criativo são experiências que os adolescentes vivem intensamente e são elas que, quando adultos, mantêm a mente em boa forma. O cérebro é maleável, muda durante toda a nossa vida, e pode ser moldado por novas experiências. Podemos, intencionalmente, procurar essas vivências e afetar positivamente o desenvolvimento cerebral.
Quando o adulto entende melhor o “mundo” em que o adolescente está inserido, torna-se mais fácil desenvolver um relacionamento de respeito e parceria com este jovem cheio de energia e grandes propósitos ainda adormecidos.
E nunca é demais lembrar que devemos tomar todo o cuidado com as palavras que proferimos aos jovens nesta fase, porque elas podem sair de nossa boca levadas ao vento nos momentos de raiva, mas calam fundo na alma dos adolescentes que são extremamente vulneráveis a opinião dos adultos, podendo interferir fortemente em sua autoestima.
Venha conhecer mais sobre os adolescentes e suas potencialidades, participe da palestra “Tenho um adolescente em casa como ajuda-lo em suas escolhas?” que ministraremos no dia 28/02 de 19:00 as 21:00 h em Uberlândia.
Entre em contato para saber mais detalhes:
Lilian Novaes (Escolhas Coaching) (34) 9 9687-8700
Izis Donato (Reaprender) (34) 9 9779-5755