ADVOCACIA e a FAMÍLIA. Existe um mundo que só quer te manipular.

ADVOCACIA e a FAMÍLIA. Existe um mundo que só quer te manipular.

No meu aprendizado de quase 26 anos de advocacia, percebi o quanto nós focamos o profissional e relegamos o familiar do lado pessoal a segundo plano. 

Em certos momentos da vida certamente nós, advogados, sejamos associados, profissionais liberais, sócios, temos necessidades de darmos enfoque e dedicação maiores à nossa carreira. Mas por tudo que passei, e vou tentar narrar brevemente, vou explicar o quanto isso pode ser prejudicial para algo que, a longo prazo é muito mais importante: família, amigos e tudo aquilo que representa o essencial. 

Profissionais bem sucedidos não necessariamente trabalham 14 horas por dia e vivem obcecados com seus smartphones, tablets, e querendo aparecer em eventos. 

Profissionais bem sucedidos são aqueles que conseguem trazer um equilíbrio entre o profissional, o familiar e o pessoal. 

O que isso tem de importância para nós advogados, juízes, promotores? Essa carência de querer ser o melhor faz parte de um contexto da sociedade consumista onde o aparecer é mais importante que o sentir e ter. É fato que todos querem ser bem sucedidos profissionalmente, mas a que custo? A um custo de perder contato com o crescimento dos nossos filhos? Ao custo de esquecermos que nossa mãe, que talvez já em idade avançada, requeira muito mais cuidados do que aqueles que dedicamos aos casos sob nosso patrocínio? Ao custo de relegar um irmão doente a uma situação de ausência? Ao custo de pensar que nosso marido/esposa esteja querendo nossa presença? Ao custo de querermos deixar nossos filhos? Não creio. 

Hoje enxergo o bom profissional como aquele capaz de dentro de um horário razoável estabelecer uma dinâmica que não relegue a família a segundo plano. O que seremos depois de alcançar todos os brilhos, as glorias, o reconhecimento?

Isso me parece muito a situação de certos magistrados, e com ou sem bengala, vivem de um sonho que já não existe mais, eles deixaram de ter poder e passaram a ser meros artífices de uma situação ou de uma prerrogativa que se deixou de ter relevância. E aos advogados, com mais ênfase, toda dedicação para reconhecimento e tudo, com horas e horas de estudo, de titulações, menções em revistas nacionais/internacionais como os melhores, o que isso vai significar quando você olhar para o seu filho e ele sequer te reconhecer, quando você ver sua mãe já claudicante sem seu apoio, ou quando você enterrar seu pai sem ter tido a oportunidade de falar que você o amava. Com isso vários escritórios, cujo prazer quase sodomiza, é que o bom profissional é aquele que trabalha 14-15 horas. Quem trabalha efetivamente 14-15 horas? É uma pergunta tão absurda! Domenico de Masi possui estudo a respeito de situação diversa, ócio produtivo.

Nós que trabalhamos com o intelectual, não conseguiremos nunca estabelecer uma condição de 14-15 horas de um trabalho intelectual efetivo, eficaz, nesse longuíssimo período. Enfim, profissionais que não conseguem, focados, diretamente trabalhar das 9h-18h não são profissionais eficientes, na realidade eu diria que são absolutamente incompetentes. 

Essa massividade imposta em especial para os grandes escritórios, da necessidade da pessoa estar disponível 24 horas, não é só contra producentes, mas é pior. Representa uma dinâmica sadista de gestores incapacitados que não são líderes, tirando áreas especificas, tais como M&A das quais o fuso horário talvez seja dependente, em especial a aquelas que trabalham com o contencioso, relegar prazos para última hora, fazer impressão de prazos no ultimo dia, ter como necessário discutir em horários inadequados. 

Quais administradores não possuem essa visão? São aqueles que querem ter controle absoluto da vida alheia, e vida própria não tem nenhuma. Isso colocado, é simplesmente elementar quantos casamentos, relacionamentos entre pais e filhos são simplesmente deixados a segundo plano por conta de pessoas carentes ou inaptas a terem uma vida pessoal/familiar e desejam despejar toda energia que possuem no profissional. É triste saber que esses profissionais são os menos aptos a serem efetivamente não juristas, mas cascas ocas de pseudo profissionais bem sucedidos. 

Hoje eu falo isso com total liberdade por ter incidido no mesmo erro, não por quere-lo, mas por ter aprendido que o fundamental é ter o equilíbrio. Posso ter perdido a minha esposa, mãe dos meus três primeiros filhos, e inclusive a mãe da minha quarta filha - tudo era obsessão. 

Então aos obsessivos eu indico a vocês a começarem a pensar o quão importante é ter momentos com a família, com os amigos onde vocês podem exercer até mesmo projetos intelectuais e ideias criativas além do escritório. 

Existe um mundo além do escritório, e esse mundo talvez propicie a vocês profissionais dignos, capazes, momentos criativos que transformarão ideias banais em geniais.

Meu propósito é compartilhar conhecimento e preservar a saúde.



Patricia PANISA

Professora de Direito de Famílias e Sucessões e de Direito Civil. Advogada

6 a

Penso como vc! É esse tipo de compartilhamento de experiências que, particularmente, gostaria de encontrar mais vezes nesta rede...

Belíssimo texto! Embora já falei para você o que eu penso!

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