Agile: Processos versus Princípios. O que deve prevalecer?

Agile: Processos versus Princípios. O que deve prevalecer?

Há mais de 22 anos, em fevereiro de 2001, o Agile Manifesto era assinado por desenvolvedores e engenheiros de software na forma de declaração, com o objetivo de otimizar processos e simplificar a rotina de trabalho para esses profissionais.

A implementação dessas ideias foi bem-sucedida durante a época, a ponto da declaração atravessar mais de duas décadas dentro de corporações, viabilizando projetos inovadores e ambiciosos, sem mencionar o alívio na carga de tarefas para os desenvolvedores de software.

No entanto, é notável que alguns princípios do Agile Manifesto acabaram por ficar no meio do caminho, à medida que processos foram priorizados em detrimento dos valores da declaração. 

O efeito desse cenário trouxe um resultado oposto do que foi proposto inicialmente, trazendo mais complexidades para o desenvolvimento de sistemas. Por que isso aconteceu? É essa discussão que quero promover com esse artigo.

Boa leitura!

Quais são os pilares e princípios do Agile Manifesto?

É no mínimo irônico que o primeiro pilar do Agile Manifesto seja “priorizar indivíduos e interações” enquanto, na realidade, é exatamente o contrário do que encontramos em muitos ambientes corporativos.

A documentação de processos, a colaboração com os consumidores finais durante o desenvolvimento e a adaptabilidade de planos juntam-se ao elemento anteriormente supracitado, somando os quatro pilares do Agile Manifesto. Bem como nota-se com o primeiro pilar, os outros três também parecem ter caído no esquecimento.

Isso vem acontecendo porque os princípios Agile estão ficando em segundo plano, dando espaço para processos burocráticos e complexos que não agregam valor ao desenvolvimento de novos produtos.

Nesse sentido, é importante lembrar que esses quatro pilares precisam de sustentação, sendo que a base para tal pode ser encontrada no próprio manifesto Agile, na forma de 12 princípios.

Visto que tais ideias estão ficando apenas no campo teórico, acho importante recordar o que o documento original trouxe, de forma muito resumida:

  1. A prioridade é sempre satisfazer o cliente final por meio de produtos de excelência.
  2. Estar sempre atento e aberto às mudanças, mesmo DURANTE e DEPOIS do plano inicial ter sido definido.
  3. Realizar entregas constantemente, tornando o progresso visível e mensurável.
  4. Evidenciar a colaboração entre a área administrativa e de desenvolvimento.
  5. Engajar e motivar os desenvolvedores é outro ponto essencial para implementar a metodologia Agile. Para isso, é necessário dar confiança, ferramentas e voz a eles.
  6. Adotar uma comunicação aberta e frequente com os profissionais, com alguns encontros presenciais.
  7. Usar os próprios sistemas desenvolvidos como régua para o progresso.
  8. Os processos devem escalar de forma sustentável e constante, com alinhamento entre financiadores, desenvolvedores e público.
  9. Atenção aos critérios técnicos e design também compõem os princípios Agile.
  10. A simplicidade precisa ser a palavra de ordem no desenvolvimento de sistemas.
  11. Times autônomos são os responsáveis pelas melhores arquiteturas, protótipos e design.
  12. Debater formas de melhorar a eficiência operacional necessita ser uma prática constante no desenvolvimento de novos produtos.

Enquanto enumerei os princípios básicos do Agile Manifesto, acredito já ser possível identificar em quais pontos há os maiores atritos:

  • A dificuldade em traçar planos alternativos durante o desenvolvimento de sistemas. 
  • O excesso de burocracia em rotinas de trabalho. 
  • A falta de interesse em ouvir o usuário final. 
  • A complexidade em fluxos de tarefas. 
  • A dificuldade ou a demora em identificar discrepâncias e ineficiências no desenvolvimento de projetos.
  • A falta de alinhamento entre stakeholders e desenvolvedores.
  • A ausência de atenção quando os desenvolvedores fazem suas considerações.
  • O receio em mudar e aceitar o novo.
  • A rigidez para implementar mudanças ou a falta de flexibilidade para alterar rotinas.
  • A vontade de implementar “quick fixes” no lugar de melhorias permanentes.

Esses são alguns pontos que afastam uma companhia do Agile Manifesto, mas que estão demasiadamente presentes no universo corporativo, justamente porque processos sem propósito são priorizados, em vez dos princípios.

Se quisermos continuar abertos à inovação, isso precisa mudar. A seguir, explico o porquê de pensar assim.

Por que acredito que os princípios devem prevalecer sobre os processos?

O Agile Manifesto foi assinado por 17 desenvolvedores justamente para acelerar o processo de inovação em corporações, bem como aumentar a qualidade do produto final.

Processos por si só são incapazes de atingir tal meta, e o mesmo vale para tecnologias. Se os responsáveis pelo projeto seguirem apenas os processos, sem entender os princípios por trás do Agile, tudo perde o propósito e a essência. Ou seja, não será possível a adaptação à mudanças ou o aproveitamento máximo dos benefícios do método e ferramentas disponíveis. 

Por outro lado, se a equipe compreender e aplicar os princípios Agile de maneira consistente, ela será capaz de se adaptar a diferentes processos e situações para alcançar resultados ágeis. 

Precisamos retomar a essência dos princípios Agile. Não permita que a rigidez de processos anule uma metodologia que tem o potencial de abrir as portas para a inovação.



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