Ainda a trofobiose da ALESP

           E a patota com o dinheiro público, por certo!

          “Às vezes a semente é boa, a terra é fértil, foi bem adubada, germina e começa a crescer, porém a geada é intensa e poderosa...”. (Laé de Souza, “A Morte”).

          Tomara que no presente episódio a geada aja de uma forma intensa que dizime esta lavoura! E os seus lavradores, claro!

           O hábito pode não fazer o monge nem o uso tolhe o abuso, mas a ocasião, certamente, faz o ladrão! Verdadeiramente.

      Algo que vem ocorrendo desde 2005, com reais características ilegais, disformes e imorais, sem, contudo e lamentavelmente, a intervenção do Tribunal de Contas do Estado de São Paulo ou do Ministério Público – do mesmo estado -, tão eficaz noutras demandas menores, bem se diga, não pode mesmo prosperar sob nenhum expediente.

          Mesmo que algum assecla do presidente da Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo, deveras beneficiado pelo mimo natalino, possa e tenha vindo afirmar o contrário, apregoando a sua suposta legalidade.

           Será que não haverá fim a essa tramoia do mimo natalino da mesa diretora da ALESP, cuja deferência e, óbvio, também a sua responsabilidade cabe exclusivamente ao seu presidente Cauê Macris! Há um fim para tudo. É o que se espera também para essa imoralidade. Com a punição dos seus responsáveis! Não só os obrigando à devolução dos mais de R$ 10 milhões desviados dos cofres da assembleia legislativa, mimoseando com pouco mais de R$ 3 mil os seus 3.266 servidores públicos. Isso sem nenhum critério ou avaliação prévia. É esperar para ver. Senão o destronamento e o fim dos seus articuladores, mesmo que não signifique o ocaso da sua vida.

        Quem esperava que um dia todos aqueles capitães, coronéis, generais, brigadeiros, almirantes e marechais, todos frutuosos, arrogantes e totalitários da ditadura militar pudessem morrer um dia?

          Não em alguma guerra, por certo! Patenteados nunca sucumbem numa guerra, mas apenas os ignorados e os nãos identificados, os buchas de canhão... Sim, os engalanados não podem nem devem morrer jamais, seguindo o jargão militar. Eles precisam estar vivos para orientar e comandar os cegos e contumazes obedientes, os quais, maioria das vezes, não lutam nunca a sua guerra particular, para morrer pela guerra dos fardados, a quem, depois da vitória, restará se fartar, como glutões, dos louros e do filão da conquista.

           Furtar mesmo, na acepção do termo, se apoderando “também” das primícias alheias, enquanto que aos mortos, privados de algum galardão, sobrará o sepultamento, sem benefício algum, exceto à cova rasa de um desconhecido cemitério que eternizará a sua insignificância na escala de valores. Funcionam assim as coisas no Brasil.

           Coronel "Brilhante" Ustra: aquele... Herói do nosso capitão-presidente... Ambos que nunca chegaram nem chegarão a ser general. Aquele, embora não exista mais, e este, apesar de vivo ainda, lhe sobrará somente a pecha de ex-presidente da República, sem nada a lhe realçar a sua única passagem dirigindo o Brasil.

           Médici: quem não se lembra do “Brasil, ame-o ou deixe-o!”? Costa e Silva: aqueloutro, talvez o mais odiado presidente da ditadura militar, morto em pleno exercício do mandato. O maior sonhador não poderia imaginar tal benesse. Contudo, os militares mais radicais impediram que o seu vice, o bom mineiro café com leite Pedro Aleixo, assumisse a sua vacância. Tudo em nome da indefectível hipocrisia pax romana desses militares. E em nome também daquilo para o qual vieram. Figueiredo, aquele que preferia o cheiro de cavalo ao da sua gente. Muito apropriado, aliás.

           Bolsonaro – o homófobo, declarado e irredutível defensor do pentecostalismo mais estalinista e intransigente do casamento dos evangélicos “até que a morte os separe”, contudo, ele próprio, gozando – na acepção do termo – de uma terceira união e deixando a vida o levar, revelando a sua hipocrisia carnal... E por aí segue o rosário...

           Todos os ex-citados estão mortinhos da silva, apesar de Bolsonaro ainda estar vivo, embora sempre flertando com a morte. Ainda a encontrará. Sem ficar para semente também.

           Poucos acreditavam que presenciariam a morte dessas figuras burlescas. Com os políticos também muitos brasileiros assistiram à morte de figuras enigmáticas e detentoras de um indecifrável poder, mas sempre contrariando e agindo contra a máxima do “quanto maior o poder, maior a responsabilidade”.

           Nunca pareceu que funcionasse assim. Com o dinheiro público, por exemplo. Distribuindo-o graciosamente como se ele fosse seu, tivesse sido obtido com o trabalho árduo, com o suor do seu próprio rosto e com a preocupação das noites não dormidas.

           Com uma canetada, sem a vigilância inútil de um tribunal de contas cheio de “conselheiros” vitalícios e indicados pelos governadores de plantão, interessados apenas em se blindar nalguma falcatrua cometida – o “rouboanel”, por exemplo. Tribunal este que ao elaborar um parecer contrário à aprovação de alguma conta governamental – estadual ou municipal –, pode ter o parecer rejeitado pelo plenário dos deputados ou dos vereadores, mediante uma articulação urdida pela premissa fisiológica do “eu dou, tu dás” ou aquela outra consagrada pelo Centrão do “é doando que se recebe”. E por aí segue.

           Ou, então, da inação do ministério público, quase sempre também em busca dos holofotes da mídia, voltando mais a sua poderosa atenção para as investidas moralistas, retendo supostos bois, mas não se opondo à passagem de verdadeiras boiadas.

           Haja vista a alegação do presidente da ALESP Cauê Macris de que não tinha praticado nenhuma ilegalidade com o pagamento do bônus natalino aos 3266 apaniguados servidores públicos do legislativo paulista, sem nenhum projeto de lei prévio submetido ao crivo e à avaliação do plenário da assembleia que pudesse consagrar a sua legitimidade, numa liberalidade que vinha, segundo ele, ocorrendo desde 2005, sem nunca ter havido a intervenção ou atitude dos deputados estaduais – estão e estavam lá para isso - ou dos órgãos de controle ou de fiscalização do tribunal de contas ou do ministério público.

           Sim, a máxima de “onde passa boi, passa boiada” caíra por terra, pois a boiada toda passava, mas em muitos outros órgãos públicos – estaduais ou municipais - os bois ficam...   

           Salve a lei em vigor contra o abuso de autoridade, mormente voltada contra a arrogância interpretativa do Judiciário e do Ministério Público, estadual ou federal! Tomara que ela pegue. No Brasil é assim: a lei tem de pegar...

           A Operação Lava a Jato, por exemplo, pegara seletivamente muita gente, dando preeminência aos seus mentores, habilitando-os ao ingresso na vida política – o agora ministro Sérgio Moro que o diga -, mediante a crendice tola da população de que “agora vai”. Vai aonde, cara pálida? Quantos militares e ex-militares não foram eleitos na eleição de 2018 sob o impacto dessa onda?

                      Quem poderia duvidar que um dia Getúlio Vargas, JK, José Sarney, Carlos Sampaio, Paulo Maluf, ACM, Ademar de Barros, Orestes Quércia, Fernando Henrique Cardoso, Mário Covas, Vanderlei Macris – dando próceres como exemplo – não pretendessem continuar eternos?

                      Quem poderia imaginar que um dia morreria, morreriam – ou morreram ou, ainda, morrerão – toda aquela curriola norte-nordestina composta por ACM, José Sarney, Renan Calheiros, Jader Barbalho, Romero Jucá, Hugo Napoleão, Inocêncio Oliveira – inocente, só no nome – e Fernando Collor? Ou, então, aquela do lado de cá: Getúlio Vargas, os cariocas Carlos Lacerda, os Garotinhos do Rio – marido e mulher -, Eduardo Cunha, Luiz Fernando Pezão, os mineiros JK, Tancredo Neves, os paulistas Ademar de Barros, Orestes Quércia, o praticamente Jânio Quadros, Carlos Sampaio, Paulo Maluf, Vanderlei Macris, só para citar os mais renomados, pois há ou haverá de haver muitos outros, identicamente, reprováveis ou piores, todos querendo ou quiseram – ou queriam – fazer juras eternas pela permanência infinita?

                      Eternidade? Só se for a do inferno... O problema para a humanidade – sim, por que não? – é que essa praga de políticos germina e deixa sementes que também se multiplicarão como tiriricas, deixando outras sementes que perpetuarão esse mal.

                      Exemplos? Tancredo deixara o então inocente Aécio que o velava enquanto no seu leito de morte; ACM – por que será que era cognominado “Toninho Malvadeza?” – deixara dois rebentos: Luiz Eduardo, morto prematuramente antes dele e até já é nome de cidade... Com a mania dos brasileiros de a tudo abreviar, os baianos dessa cidade devem se referir a ela como “LEM”, tal qual fazem muitos barbarenses se referindo à sua como o horroroso “SBO”...

                      ACM Neto é o outro herdeiro e figura de proa do também fisiológico DEM - PFL antes -, sendo prefeito reeleito de Salvador, talvez já com asas prontas para alçar voos mais audaciosos, mas enfrentando o poderio de Rodrigo Maia, filho de César Maia - também do DEM e outra praga carioca. Quem já não ouvira falar dele? César é primo de José Agripino Maia - também do DEM, governador duas vezes do Rio Grande do Norte e também senador - um dos famosos Maias potiguares abaixo citados. Rodrigo: quem também não conhece a sua trajetória, bem assim, a sua enorme fama no estado do Rio de Janeiro? Atual lambido do bolsonarismo, enquanto for do interesse do governo atual viabilizar os seus projetos na Câmara dos Deputados, ele já é candidato quase assumido a presidente da República em 2022. Pasmem!

                      Ademar de Barros, um dos maiores adesistas ao golpe militar de 1964, deixara como herdeiro e discípulo seu o filho Reynaldo de Barros. Mesmo não vingando futuramente, conseguira se eleger o prefeito da capital paulista. Os Maias – nada que ver com a obra de Eça de Queirós -, potiguares que se disseminaram e quase são donos do Rio Grande do Norte. José Sarney e os seus dois pupilos, conhecidíssimos de todos os brasileiros, viveram se alternando no poder, amealharam incalculável fortuna, se transformando quase nos donos do Maranhão.

                      Por certo, tal amealhação também não fora produto do trabalho, pois os Sarneys só foram políticos a vida toda, com o pai assumindo o seu primeiro mandato em 1954, tendo sobrevivido ileso ao golpe militar de 1964, inclusive, usufruindo das vantagens da adesão ao golpe à primeira hora. Ou bem antes...

                      Jader Barbalho, emedebista na mira da polícia, fora protagonista do escândalo do “ranário”, o qual abalara o estado do Pará. Só o estado... Nem morto ainda, infelizmente, e já tem o seu rebento Helder governador do Pará. No mínimo, Jader, não reeleito senador na última eleição, deve ocupar algum cargo deveras importante no governo do filho. Com toda aquela pompa e circunstância, claro!

                    Renan Calheiros, outro emedebista de renome também na mira da polícia, apesar de vivo ainda, o seu filho - Renan Filho - é governador reeleito de Alagoas. Triste Alagoas, o reinado do coronelismo mais arcaico e atrasado tem outro representante famoso: Fernando Collor, de triste lembrança...

                      Vanderlei Macris, com quase ou mais de quarenta anos de mandatos políticos sucessivos só fora – e ainda continua – político. Nunca fizera outra coisa senão poEliticar. Trabalhar que é bom... Ganhar com o suor do próprio rosto e pelo fruto do seu trabalho, jamais! Adotara a profissão de político, relembrando a advertência do professor Gaudêncio Torquato, para quem a política é missão não profissão.

                      Mais vivo ainda que nunca, dera sequência ao seu reinado. Tem dois filhos políticos também para chamar de seus... Cauê, entronizado como vereador, se tornara presidente da câmara municipal e, se valendo da influência paterna, alçara voo maior e hoje é presidente reeleito da ALESP e daquela turba, sendo responsável também inequivocadamente – por mais que verdadeiro assecla seu tenha afirmado o contrário – pelo escândalo da concessão do mimo de Natal a todos os servidores daquela assembleia, inclusive ao defensor do indefensável, tais quais tantos bolsonaristas arrivistas e oportunos, fruto de verdadeiro abuso, inominável ilegalidade e despudorada imoralidade.

                      Alonso de Oliveira, jornalista. Foi secretário de Administração, diretor de Suprimentos e coordenador de RH da prefeitura de Americana. RG 5.209.484. E. mail: alonsoliveira@hotmail.com.    



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