Dia dos Pais: e o que é de raça, nega a caça?
Não! Quando alguém que morre sem nunca ser lembrado, ele morre duas vezes.
Estranha que a maioria dos pais se refira aos seus filhos e haja filhos que nunca se reportem a eles. Estejam tais pais vivos ou mortos.
Não se ouve de Bolsonaro – o presidente da República – fazer alusão alguma ao seu pai, embora, quase sempre, recorra à lembrança da mãe, já nonagenária. Ou quase.
A impressão que fica é a de que não tenha pai ou que pouco ou nada ele tenha representado na sua vida.
Pai, ou é amado ou rejeitado. A julgar como o presidente se porta em relação aos seus filhos, feito uma galinha a proteger os seus pintos, indica que o exagero a eles dedicado faz supor que lhes ofereça em excesso aquilo que minimamente não recebera do seu progenitor. Tal inapetência paterna pode ter ocasionado ao presidente uma rejeição à figura do seu pai, despertando nele a necessidade de atenção exclusiva no trato com os seus filhos, exagerando nos cuidados, tornando-o superprotetor e cego ao que eles produzem como adultos, mormente, as cloacas internáuticas difundidas, apesar de o pai ver neles ainda a criança que esperava que o seu pai um dia nele visse.
Daí, a sua estupidez, a sua indiferença, a sua arrogância, o seu desprezo e a sua insensibilidade dispensada a todos os que estejam fora do círculo restrito da sua família, assim entendido, a proteção desmedida dedicada aos seus filhos.
A falha de caráter do presidente diz respeito à sua ignorância no trato com os infelicitados pela infecção da Covid19, lançando um desprezível e cínico mover de ombros aos que, não resistindo ao agravamento da saúde, morrem.
Simplesmente morrem, como todos morrerão um dia, conforme as próprias palavras do presidente ao se referir à morte alheia. Por certo!
Como reagiria se Flávio, Carlos ou Eduardo fosse acometido pelo coronavírus e morresse?
Pretensioso e também pressurizado, imaginando ter uma linha direta com Deus, Lhe indagaria: “Oh, Deus, por que o meu filho e não eu?”.
Com o presidente sempre persistindo no flerte com o azar, possivelmente ele consumará tal intento. A conferir.
Que belo legado Bolsonaro deixará aos brasileiros, qual seja: o presidente que premiara os pais do Brasil - os que continuavam vivos, claro! - no seu grande dia com o registro da bagatela de cem mil mortos por conta da pandemia do coronavírus!
Ele naturalmente, estará no próximo Dia dos Pais, no palácio da Alvorada, comemorando a data com toda a sua família real - inclusive, com a esposa, também acometida pela COVID19 -, brindando em taças de cristal o novo champanha do momento, "Hidroxicloroquina", safra 2019, com toda aquela troica de "palmeirenses" que infesta a maioria dos ministérios do seu governo.
Alonso de Oliveira, jornalista. Foi secretário de Administração, diretor de Suprimentos e coordenador de Recursos Humanos da Prefeitura de Americana. RG 5.209.484. Email: alonsoliveira@hotmail.com