ALBERTO DINES, CREDOR DA DEMOCRACIA

 Helcio Estrella

    

 Há pouco mais de um mês, o jornalista Alberto Dines nos deixava, legando ao jornalismo e aos jornalistas brasileiros como herança segura um Norte profissional, representado por sua vida profícua. Ele foi sobretudo um dos criadores e aglutinadores mais brilhantes que os séculos XX e XXI tiveram em sua imprensa. Em seu ministério, deixava sempre uma lição para nortear o trabalho jornalístico, conseguindo transformar em princípio que aglutinava a veemência que imprimia à crítica ao trabalho dos meios de comunicação. Inicialmente como o Editor Chefe que realizou a grande reforma do Jornal do Brasil, em 12 anos transformou aquele jornal num dos mais importantes veículos de comunicação da América Latina e cuja atuação imprimiu papel preponderante na reabertura democrática brasileira, com a entrega do poder pelos militares ao poder civil. Dines legou-nos também o Observatório da Imprensa, outra espécie de Norte para elevar o padrão do jornalismo brasileiro. Era um motivador que induzia todos a produzirem o melhor.

 Trabalhei em equipes lideradas por Dines no Jornal do Brasil por alguns anos (Secretário de Redação na Sucursal de Niterói e depois Chefe da Seção de Economia na Sucursal de São Paulo), e considero aquela experiência uma das mais importantes do enorme e constante aprendizado da minha vida. Na última vez que estive com o Mestre pessoalmente, faz muito tempo, num encontro fortuito no aeroporto de Congonhas, fechado pelo mau tempo, fomos fazer hora no café. Provocado, ele aceitou passar em revista o trabalho que fizera no JB, transformando no mais importante jornal das décadas de 60 e 70 e num dos vespertinos de maior prestígio no mundo Ocidental.  Aquele trabalho, junto com a dignidade e a independência com que conduzira o JB nos anos duros da ditadura, lhe valeria um dos prêmios mais cobiçados do jornalismo mundial, a medalha Maria Mors Cabot, da Universidade de Colúmbia. Humanista, entre seus livros se conta a excelente biografia que escreveu sobre Stefan Zweig, o escritor austríaco que viveu parte de sua vida no Brasil, antes de matar-se com a mulher em Petrópolis. Falamos também sobre seu trabalho à frente do JB. Ele se recusava a aceitar rótulos, uma das facetas de seu caráter íntegro e disse-me então na despedida:  “Sou apenas um jornalista, que gosta do bom jornalismo porque ele pode ajudar o homem a construir uma sociedade sempre melhor ”, concluiu quando nos despedimos.

 Dines dizia que apenas exigia dos jornalistas fossem eles fiéis aos fatos, reportando-os com isenção. Ele preconizava em sua obra como jornalista, escritor e professor que essa conduta era fundamental para que a liberdade de imprensa se mantivesse sempre como um dos mais importantes pilares da democracia, respeitada como um bem comum da humanidade.  Admirava a criatividade do jornalista, da qual ele foi um exponencial nas diversas vezes em que burlou a censura à imprensa imposta pelo regime militar no Brasil.

 Sua ausência será sempre suprida pelo legado ético e profissional que nos deixou.

 O jornalismo e a democracia registrarão sempre uma dívida permanente com Dines pela participação que teve em sua construção no Brasil.

     O autor é Jornalista de economia e turismo, ex-Presidente Nacional da ABRAJET-Associação Brasileira de Jornalistas de Turismo.        

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