Alguns mitos merecem ser derrubados (ou pelo menos questionados)
Hoje mais cedo, comentei um post escrito pela Ilana Berenholc onde ela pedia licença para derrubar um mito.
Comentei parabenizando pela ousadia e dizendo que “questionar mitos é muito bom”.
No que me responde a Ilana: “questionar mitos é a tua cara”
E é mesmo. Não sei se isso é bom ou ruim, mas é divertido.
É divertido para mim porque requer criatividade e ousadia e deveria ser divertido para os leitores que tem acesso a opiniões diferentes e não apenas aos chatos consensos.
Dito isso, vamos questionar alguns mitos?
Mito 1: Resolvendo o problema fiscal, a economia Brasileira deslancha...
Há pelo menos 1 mês só se fala no ajuste fiscal.
Oh discussão chata...
Resolver o problema fiscal é necessário, mas não suficiente.
País também precisa de: abertura econômica, maior competição, investimentos maciços em inovação, parcerias entre empresas e academia, reforma administrativa e por aí vai.
Mito 2: A Bolsa está barata
Desde 2021, portanto há 3 anos, as mesmas pessoas batem na tecla de que a Bolsa está barata.
De onde sai esse mito?
Compara-se o múltiplo atual Preço/Lucro consolidado do mercado com sua média histórica. O P/L atual está ao redor de 8,0x e o histórico é próximo a 11,0x. Portanto, é “no brainer” afirmar que a BOLSA ESTÁ BARATA.
Só que não....
Os seguintes fatores impactam o P/L do mercado: a) crescimento de longo prazo de resultados, b) retornos sobre investimentos, c) risco percebido para se investir no mercado de ações e d) visibilidade do comportamento dos resultados no médio e longo prazos ou, em outras palavras, qual o nível de confiança nas expectativas de resultados das empresas do mercado?
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Vocês acham razoável afirmar que a situação atual destas variáveis é semelhante à situação histórica delas?
Na minha opinião houve deterioração das perspectivas de todas essas variáveis.
Para piorar, apesar de grande parte do mercado achar que isso não impacta preço de ativos, há uma clara percepção de deterioração institucional.
Portanto, o patamar de múltiplos hoje deve sim ser menor que seu nível histórico.
Mito 3: Aumento de juros e volatilidade global são principais drivers para a queda de preço das ações no Brasil.
Tirei este mito de artigo publicado no Valor Econômico de 25/11 cujo título era:
“Crescem ofertas para retirada de empresas da bolsa”
(vão me bater mas vou dizer: é melhor ter menos empresas comprometidas com ser empresas de capital aberto do que mais empresas fingindo ser de capital aberto. Portanto fechamentos de capital podem até ser positivos)
Sim, juros altos e volatilidade nas economias são negativos para preços de ação.
Mas principal fator que faz preços caírem é MÁ GESTÃO.
Desculpas por ser tão direto.
Mito 4: A solução para os problemas sociais no Brasil depende de o governo aumentar seus gastos para solucioná-los.
Poxa, aí temos zilhões de evidências de que o setor público não vai solucionar os problemas sociais. Questão não é a quantidade de recursos, mas sim a qualidade de como os recursos são gastos.
Investimentos de impacto social poderiam dar uma mão enorme na solução dos problemas sociais, mas aí vem outro mito: impact investing no Brasil está bombando e o mundo está de olho no país para investir neste tipo de investimento.
Se impact investing é investir visando resultado financeiro e impacto social, no mesmo nível, acho que está na hora de deixar de ter vergonha de auferir ganhos financeiros com estes investimentos.
Se o investidor ficar mais rico e ajudar a resolver nossos problemas sociais, who cares?
E você, quer se juntar a cruzada para derrubar (ou pelo menos questionar) mitos?
Sócio-Fundador da Resultadus Reestruturação e Performance
1 dExato. Quando nos deparamos com essas frases prontas, que mais parecem fórmulas simples e genéricas repetidas por diversos profissionais de mercado, eu me pergunto: onde está o senso crítico? Nada é tão simples a ponto de ser resolvido por uma frase ou, como você bem chamou, um mito. Esse tipo de abordagem tem tornado as discussões rasas e, de certa forma, nos afasta das soluções reais – que, como um quebra-cabeças, são muito mais complexas e compostas por inúmeras peças.
GERENTE GERAL, GOVERNANÇA, GESTÃO E CONTROLE
1 dSimples e objetivo Sergio Goldman. Estamos no século 21 onde muitos mitos e paradigmas já foram derrubados pela comprovação científica, mas o sistema insiste em manter certos contos de fadas, como verdades, para justificar incompetências, manipular poder e defender interesses!!!
Como dizem os americanos: "Sacred cows make the best burgers."
É sempre delicioso um artigo crítico. Especificamente sobre se a bolsa está barata, cabe comparar não com o preço histórico mas com as expectativas de lucros dado um nível de risco (volatilidade, juros, cds) e com as alternativas. Uso índices internacionais de diversos países.
Vinte anos de experiência como consultor independente | Fundador da Escola da Consultoria | Mentor de profissionais em transição para a consultoria | Autor da newsletter “A Consultoria Independente"”
4 semBoas provocações que merecem ser discutidas a fundo até chegarmos a alguns tipos de consenso (há temas de esferas diferentes, daí o "alguns"). Mas onde estão esses fóruns? Onde está a academia (certamente haverá estudos sérios para colocar na mesa). Onde estão os dados confiáveis? Como vencer a nossa sina histórica de muita iniciativa e pouca acabativa? Como você sugere superar essas barreiras?