Mercado de Acesso em Equities no Brasil: Será que agora vai?

Mercado de Acesso em Equities no Brasil: Será que agora vai?

Nos últimos 3 meses, tenho me debruçado no mundo de pequenas e médias empresas (PMEs) no Brasil e no mundo.

Não vou me estender tentando convencê-lo que no agregado, este segmento é muito relevante para economia do país, seja como percentual do PIB (algo como 30%) seja como empregador (aproximadamente 60% dos empregos formais criados em 2024 estão em PMEs).

Pesquisas mostram que a grande dor destas empresas é a dificuldade de acesso a funding de longo prazo. E isso não é novidade. Pesquisas feitas há 20 anos ou mais, mostravam que falta de financiamento de longo prazo já era o maior desafio de empresas neste segmento.

É nesse contexto que, para um veterano no mercado de equities como eu fica bastante difícil entender como, apesar das dificuldades, o mercado de acesso em bolsa de valores no Brasil não consegue decolar.

A B3 vem tentando há muito tempo. Hoje existe o Bovespa Mais com apenas 15 empresas listadas.

Neste contexto é bastante encorajador ver que novos players vêm sendo criados para explorar este segmento e criar uma opção interessante de funding para PMEs.

O novo player que parece estar melhor posicionado neste momento é a BEE4 que já conta em sua plataforma com 4 empresas listadas.

Se comparamos o mercado de acesso no Brasil com experiências ao redor do mundo, vemos que por aqui esse segmento tem um longo caminho a percorrer.

Com base em pesquisa da World Federation of Exchanges, em 2020, havia aproximadamente 8.000 empresas no mundo listadas em mercados de acesso. A maior parte destas empresas estavam na Ásia-Pacífico. Europa/Oriente Médio/África e Américas ambas tinham número semelhante de PMEs listadas.

Portanto, existe no mundo experiências bem sucedidas de mercado de acesso.

O que falta para termos um mercado de acesso relevante no Brasil?

Não vou enveredar aqui pelo argumento de o cenário macro não ajudar o mercado de equities no país em geral e ainda mais em um segmento com menor liquidez. É um argumento muito relevante, mas não é o único.

O processo de listagem em si é complicado e caro e sobre isso, é bom saber que a CVM está se mexendo para mitigar os problemas.

Recentemente, o regulador colocou em consulta pública o chamado F.A.C.I.L. : Facilitação do Acesso a Capital e de Incentivos a Listagens.

“O FÁCIL é um ambiente regulatório instituído especificamente para companhias de menor porte e caracterizado pelas menores exigências impostas a essas companhias”

Existe também uma questão de cultura das empresas. Ainda hoje, para muitos controladores, admitir sócios minoritários e aumentar o acesso a informações de suas empresas ainda é um taboo.

Mas existe algo ligado a estrutura necessária para este mercado decolar que é fundamental mas pouco discutida:

A necessidade de se criar um ecossistema de acesso por PMEs a um mercado de ações.

Este ecossistema deverá ter como participantes players dedicados ao segmento de acesso, incluindo-se aí profissionais de: área legal, equity research, bancos de investimentos, investidores, formadores de mercado, além de outros.

Vou fazer alguns comentários sobre equity research para PMEs.

O produto deve ser inovador. Não vai funcionar replicar os produtos disponibilizados em research de empresas tradicionais.

Research nesse segmento deve ter uma pegada educacional, ajudando os investidores a entender a empresa em questão e o seu setor de atuação.

O research também deve educar a empresa a se comunicar de maneira eficaz com o mercado.

Não adianta ficar dando calls agressivos de Compra ou Venda com target prices irreais.

A grande dúvida que permanece é qual deve ser o perfil de investidores que investirá nos mercados de acesso.

Para minha surpresa, o investidor pessoa física é responsável por percentual relevante dos negócios em mercados de acesso ao redor do mundo.

Na Coréia do Sul por exemplo, o mercado de acesso, KOSDAQ, chegou a negociar volume maior que o principal mercado no fim de 2023.

No Brasil, sou cético em relação a participação de pessoas física, de forma relevante, em mercados de acesso.

Seria bastante importante que, à medida que mais PMEs listem, que apareçam FIAs especializados no segmento e também fundos PIPE (private Investments in public equities).

Interessante que em pesquisa da World Federation of Exchanges que acaba de ser publicada, com respostas de 24 Bolsas de Acesso, os seguintes pontos são os mais relevantes para o aumento de liquidez no segmento:

1.      Mais investidores institucionais;

2.      Organização de roadshows e apresentação das empresas;

3.      Atrair mais investidores pessoas-físicas;

4.      Promover equity research sobre as empresas;

5.      Ter formadores de mercado para as ações;

Quanto mais eu olho a situação das PMEs no Brasil, mais eu acredito em mercado de acesso de equities como provedor de funding de longo prazo.

É um tema complexo onde o ceticismo impera.

Para reduzir esse ceticismo só existe um caminho: INOVAÇÃO.

Replicar o que acontece no main market da B3 será receita de fracasso.

 

Joao Laudo de Camargo, artigo interessante para vcs!

Olá, Sergio. Tudo bem? É inspirador ver pessoas tão engajadas com o desenvolvimento de um ecossistema de mercado mais acessível. A BEE4 nasceu justamente com a missão de democratizar o acesso ao mercado de capitais para as PMEs, desenvolvendo no país uma alternativa eficiente para essas empresas captarem recursos. Concordamos que a inovação é fundamental para o sucesso dessa empreitada. Muito obrigado pelo seu apoio! Vamos juntos. 💙

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