AM I A LOSER? E o medo de fracassar.
Esses dias uma cliente me disse “tenho mais medo de falar em publico do que de morrer”.
E já tenho visto muitas outras pessoas a passarem um mal bocado em situações profissionais devido a esse, “desconforto”, vamos dizer assim.
Mas medo por quê, de quê exatamente?
Não tem como fazer esse trabalho sem um pouco de psicologia e aprofundarmos no desenvolvimento pessoal. Às vezes, a pessoa está tão amedrontada que parece uma criança abandonada numa sala de reuniões pronta para ser devorada por leões.
Traduzindo para uma apresentação no mundo real, seria uma pessoa adulta, cabisbaixa, toda vermelha, subindo no palco enquanto a plateia se prepara com cestos de tomate podre e quem sabe, nas mentes mais aterradores, pedras!
Embora a gravidade seja imaginária, o medo é REAL!
As sensações estão lá, a branca, o suor, o olhar, o coração, tudo desregrado e o cérebro gritando CORRA, ENQUANTO HÁ ESPERANÇA!
Aí o pessoal pergunta:
-Então Priscila, como me livrar desse MEDO?
-Não tem como se livrar do MEDO! Mas tem como gerir...
Esse medo, às vezes, tem outras máscaras, como: insegurança, nervosismo, timidez, todas emoções diferentes, mas que acabam com um resultado muito parecido: FUGIR!
Eu não tenho medo de estar no palco. Era só uma demanda natural da profissão que decidi seguir. Tive imensos desafios quando comecei a apresentar peças e estar no palco era aquela sensação de “queimar a ponte”. Uma vez em cena, devemos ir até o final. E isso pode ser um pouco aterrador.
Eu representei textos de dramaturgos russos, ingleses, peças da Grécia Antiga, brasileiros renomados, cómicos, dramáticos e falava e atuava durante horas. Aquilo tornou-se um hábito e o medo foi tendo outros contornos.
Esses tempos me surpreenderam num evento. Soube, de repente, que haveria espaço para profissionais fazerem o seu Pitch. Eu pensei: estou pronta! Aí recebi uma nova informação: cada pessoa poderia usar até 8 MINUTOS para se apresentar.
Decisão rápida: apresento 1 minuto que tenho pronto ou arrisco uns 7 minutos com Pitch, história e contatos? Arrisquei claro! Eu e mais umas poucas corajosas. Fiquei super animada com a oportunidade. Senti frio na barriga, uma leve ansiedade enquanto rabiscava um esboço e aguardava a minha vez.
O cérebro começa: mas qual história vai contar? qual pitch? qual objetivo? E eu digo para mim: pare de ser louca! Subo no palco com coração disparado, porém respiro, sorrio e começo a minha performance. Sinto medo? Sim, mas Adoro! Não o medo, mas tudo o que me permito viver por não deixar que ele me impeça.
Aí abaixo está o vídeo dessa experiência "improvisada"
Contei isso só para ilustrar como esse medo faz parte da nossa vida e o quanto ele também é necessário. Ele vem avisar, alarmar, dar sinais. Há quem garanta que as emoções são “mensagens” que nosso corpo está tentando mandar pra nós. Se percebemos a mensagem, case solved!
Porém, é fácil se garantir dentro da zona de conforto, como é o meu caso. Mas, fora do conhecido, não há garantias. E o que você teme, tem possibilidade de acontecer.
Noutra situação, eu estava totalmente fora da minha zona de conforto, na New York Film Academy,para uma semana intensiva no curso de Acting for Film.
Não digo que falo inglês “super bem”, porque já trabalhei e estudei nos EUA e sei o que é um inglês bem falado. Eu tinha o inglês de "sobrevivência", mas precisava de um inglês mais avançado, de quem vai aprender algo novo, o que não me impediu. De qualquer forma, confesso que o desafio já começava na língua.
Direto ao ponto: eu e Jason (norte-americano) tínhamos a missão de preparar uma cena para o dia seguinte. Uma cena que exigia bastante criatividade e relacionamento entre as personagens.
Porém eu tive que eu ir para meu albergue e a maior parte da cena preparei sozinha durante a noite. Sem contar alguns outros percalços do albergue, mas que com uma ajudinha do Universo e gentilezas do Anthony que geria, recebia, controlava, resolvia aquilo tudo, foram resolvidos.
Na manhã seguinte falei com Jason, ensaiamos, ele adorou, eu adorei. Estávamos super otimistas e felizes, prontxs para dar um show para o resto da turma.
A cena não era fácil, mas eu até achei que estava a correr bem. Meu desafio já nem era o inglês que tive que decorar, mas sim, concluir com sucesso a tarefa em si.
E o que aconteceu depois? Devo ter me traumatizado um pouco porque só me lembro de flashes: a diretora dando um feedback negativo, eu e Jason saindo da sala para “preparar melhor”, e para quem estava com altas expectativas aquilo foi um tombo no fundo do poço.
A porta se fechou atrás de nós, olhei para o Jason com meu texto na mão, ele olhou para mim e eu comecei a…CANTAR:
You're getting closer
To pushing me off of life's little edge
(e aqui ele começou a cantar comigo)
'Cause I'm a loser
And sooner or later you know I'll be dead
You're getting closer
You're holding the rope and I'm taking the fall
'Cause I'm a loser, I'm a loser, yeah.
Seria trágico, se não fosse cómico! Foi tão engraçado, rir de nós mesmxs, que a energia mudou completamente. A gente se achando a última bolacha do pacote e de repente estávamos do lado de fora da sala, cantando "Loser" e tendo que melhorar nosso trabalho.
Nós falhamos. Sentimos a dor da decepção. E sabíamos que íamos dar a volta. Mas aquele momento era real, não dava para negar.
E hoje lembro desse momento de “celebração do falhanço”. Como um “assumir a dor”. I’m a loser…Eu sou muitas coisas e certamente que errar, faz parte da minha pessoa.
É claro que não éramos perdedores, até porque voltamos lá e arrasamos. Mas fomos, por alguns minutos. Nos sentimos. E partilhamos isso, porque éramos uma equipa naquele momento.
Eu gosto de acreditar que todas as emoções existem para nos servir, elas não vieram incluídas de fábrica, por acaso.
E claro que erramos, e nos sentimos losers, essa emoção mexe connosco e traz novidades sobre nós. Penso que o único problema é se apegar a emoção, e cristalizar o sentimento.
Há basicamente, dois tipos de atitude:
Falhei, não presto pra isto. Acabou!
Falhei, vou tentar de novo, melhor ou diferente, até conseguir!
Claro que tudo o que fazemos sem prática e sem treino temos uma probabilidade imensa de errar. Imagino se eu fosse começar a falar mandarim agora..quais seriam as chances de eu falar uma palavra corretamente?
Olhe o medo nos olhos, deixe que as tuas emoções te revelem, mas não se apegue, atravesse e deixe-se atravessar. Sinta, aproveite, aprenda e deixe ir.
Imagino o que seria da arte se as pessoas reprimissem as suas emoções. Imagine a arte de representar, com o leque de emoções que se pode experiênciar: tristes, belas, angustiantes, divertidas, emocionantes, assustadoras e nós somos um pouco de tudo.
Um lição que aprendi no teatro e partilho aqui com vocês:
Usa as suas emoções ao seu favor!
Deixo aqui a música, que por revelar exatamente como nos sentíamos, nos ajudou a transformar nossa sensação de perdedores numa experiência memorável.
Saudações de sucesso!
Priscila Assumpção
Estrategista de Performance
actingforbusinessportugal@gmail.com