Andragogia - Ensinando Agilidade para adultos

Andragogia - Ensinando Agilidade para adultos

Há quase 200 anos atrás, o termo Andragogia já aparecia. O pedagogo alemão Alexander Kapp trabalhava os conceitos educacionais de Platão no qual originou o termo Andragogia em seu livro publicado em 1833. Ou seja, a coisa é mais antiga do que se imagina. Já na década de 1970, Malcom Knowles, definiu alguns modelos e conceitos que são fundamentados até os dias de hoje sobre o assunto. É uma arte, uma ciência de orientar adultos a aprender. A UNESCO por sua vez, por meio de Franklin Wave refere-se a educação continuada como:

Andragogia é a arte de causar o entendimento

Também quero citar Alvin Toffler que conjurou uma célebre frase que é bastante usada nos meios corporativos atuais. Ele diz:

Os analfabetos do século 21 não serão aqueles que não sabem ler e escrever, mas aqueles que não sabem aprender, desaprender e reaprender.

Fantástico! Não se tratar apenas de se qualificar, fazer cursos, faculdade, pós-graduação ou qualquer vídeo no Youtube. Se trata de questionar o seu saber numa relação direta à situação no qual se está inserido.

Uma vez que o acesso ao conhecimento não é mais uma barreira - de um modo geral - o adulto se vê em uma condição especial do saber. Já não se fala mais das dificuldades do idioma como antes, já não se fala mais das disciplinas intelectuais como antes. Sim, há especialistas nos assuntos e que detém uma carga de conhecimento maior que outros que não tem estão inseridos no assunto, contudo isso é momentâneo e circunstancial, uma vez que é plenamente possível o aprendizado daquela disciplina intelectual com uma boa vontade e acesso a internet, e, se encontrar em outros idiomas basta usar um tradutor automático que é possível absorver o conhecimento.

Mas e aí, o que fazer?

Basta aprender coisas novas?? O que preciso desaprender? O que preciso reaprender? Porque reaprender se já sei sobre aquilo?

O mundo em que estamos hoje, hoje mesmo, ainda vive consequências terríveis da Pandemia causada pelo Sars-Cov-2, vírus altamente contagioso que causa complicações respiratórias graves e que já causou ao mundo centenas de milhares de mortos. Uma lástima. Uma tragédia. Contudo, a Pandemia trouxe exigências e mudanças ao mercado de forma drástica e abrupta. Sem qualquer possibilidade de fazer grandes planos e hipóteses, a grande maioria da população foi forçada/orientada a permanecer em casa, e se possível trabalhar no formato Home Office.

Consegue pensar quantas pessoas e profissionais que nunca se imaginaram trabalhar usando internet de sua própria casa tiveram que aprender como usar ferramentas de gravação e edição de vídeos? Quantas profissões não puderam ser exercidas, e seus profissionais sem qualquer meio de ganho, tiveram que aprender novos ofícios que jamais pensaram em fazer e que não tem disponível cursos tradicionais, com acesso à capacitação tão somente pela internet, já pensou? Já pensou em quantos professores tiveram que reaprender o jeito de dar aulas e que nenhum curso ou faculdade puderam antes ensiná-los?

Estes foram apenas exemplos e questionamentos que vão nortear o assunto deste artigo. E cravo aqui: O adulto não sabe que não sabe. Ele precisa saber que ainda não sabe. E aqui esbarramos em inúmeros sentimentos como orgulho, arrogância, rejeição, soberba e por aí vai. Uma coisa é você abrir uma turma de um curso X e ter ali 20 ou 30 inscrições, e os alunos ali, adultos, chegam querendo aprender. Não é disso que estou falando. Pois a grande dificuldade é ensinar ao seu chefe de 45 anos de idade que o trabalho dele precisa ser reaprendido. A grande dificuldade é ensinar ao seu colega de equipe que está há 10 anos na empresa, fazendo a mesma coisa, dando certo ou não, e você acabou de chegar na empresa, não completou nem mesmo 1 ano de casa, e já quer mostrar um novo caminho para este colega. Qual o percentual de sucesso?

A Agilidade é assim. Ela traz conflitos ao tradicional. Ela questiona modelos aprendidos e usados por décadas. Ela determina processos que ferem diretamente ao modus operandi do seu colega de 10 anos de empresa ou do seu chefe de 45 anos de idade. A Agilidade tira o poder de alguns e dá a outros. A Agilidade tira a responsabilidade de uns e dá aos outros. E isso incomoda os adultos. Então como fazer um trabalho como esse? Como ensinar a Agilidade para gente teimosa e complicada de lidar? Como fazer alguém desaprender do que sabe e reaprender um jeito novo de fazer a mesma coisa?

São seis princípios que regem a Andragogia:

  1. Necessidade de saber - adultos precisam saber por que precisam aprender algo e qual o ganho que terão no processo.
  2. Autoconceito do aprendiz - adultos são responsáveis por suas decisões e por sua vida, portanto querem ser vistos e tratados pelos outros como capazes de se autodirigir.
  3. Papel das experiências - para o adulto suas experiências são a base de seu aprendizado. As técnicas que aproveitam essa amplitude de diferenças individuais serão mais eficazes.
  4. Prontidão para aprender - o adulto fica disposto a aprender quando a ocasião exige algum tipo de aprendizagem relacionado a situações reais de seu dia-a-dia.
  5. Orientação para aprendizagem - o adulto aprende melhor quando os conceitos apresentados estão contextualizados para alguma aplicação e utilidade.
  6. Motivação - adultos são mais motivados a aprender por valores intrínsecos: autoestima, qualidade de vida, desenvolvimento.

Na prática, colocar adultos de maneira compulsória em cursos e treinamentos não geram resultados esperados, podem até aprender sobre o assunto, mas não vão desaprender o que já sabiam antes. É preciso um trabalho mais próximo, mais aderente, e mais pessoal. É preciso conversar e explicar os "porquês". Mostrar que o mundo evoluiu muito depois que os conceitos da agilidade ganharam mercado, e que as empresas atuais estão caminhando para este lado e que os profissionais que não se atualizarem vão ficar para trás, mas isto de maneira pessoal, próxima. Não é um discurso público ou generalista. Trazer exemplos de pessoas que tomaram decisões e seus resultados, isto ajuda no processo. E cabe ao Agilista responsável por trazer a Agilidade para a empresa ensinar tudo isso de maneira prática, colocando a mão na massa, nada de passar um vídeo no Youtube e um livro de 150 páginas. Outra coisa é conjugar a situação vivida na empresa com a necessidade de aprendizado da ferramenta X ou Y, dos métodos A ou B, dentro do universo da Agilidade. E sempre, repito, sempre mostrar as expectativas diretas e indiretas deste trabalho, mostrar que o objetivo de implantar a Agilidade na organização é a qualidade de vida, é justamente corrigir o que antes dava dor de cabeça e chateação no trabalho, é mostrar o trunfo para então dar o primeiro passo dessa jornada.

Agilidade é muito mais do que aprendizado. É o valor humano-profissional sendo colocado em destaque para que este produza bem e melhor sem que para isso seja necessário pagar com a saúde e com a qualidade de tempo de vida na dedicação do trabalho.

Não se pode produzir inovação fazendo a mesma coisa dos mesmos conhecimentos. É preciso testar hipóteses e produzir novos conhecimentos.

O adulto não sabe que não sabe. É preciso saber. Aprender. Desaprender. Reaprender.

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