A angústia silenciosa de um ambiente de trabalho tóxico: uma reflexão necessária
Francisco Carlos, jornalista e CEO das plataformas digitais Mundo RH e Tec Login

A angústia silenciosa de um ambiente de trabalho tóxico: uma reflexão necessária

Há um tipo de silêncio que paira nos corredores de empresas onde o ambiente de trabalho é tóxico. Não é o silêncio da concentração, onde as mentes estão imersas em tarefas criativas e produtivas. É o silêncio da tensão. O silêncio pesado, repleto de medo e ansiedade, que engole a leveza do ambiente e sufoca lentamente o espírito de quem ali está. O sorriso educado esconde a exaustão, e os olhares evitados entre colegas denunciam a distância que cresce cada vez mais.

João, um jovem promissor com grandes ideias, começou no seu emprego cheio de entusiasmo. Mas com o tempo, a paixão se esvaiu. Os dias se transformaram em uma interminável jornada de cobranças sem sentido, microgestão sufocante e uma liderança cega, desprovida de empatia. E ele não estava sozinho. Mariana, uma colega dedicada, há meses já não dorme direito. As noites se tornaram o único momento em que poderia reviver, em seus pensamentos, as críticas injustas e os comentários duros do chefe, um homem incapaz de reconhecer os esforços e os sacrifícios de sua equipe.

O ambiente era opressor. Os prazos eram apertados, as metas inalcançáveis e, mais cruelmente, o reconhecimento jamais chegava. Para quê tanto esforço, quando tudo que recebiam eram olhares de desprezo? A sensação de inutilidade se infiltrava em cada minuto da jornada de trabalho, fazendo com que João, Mariana e outros tantos funcionários se arrastassem todos os dias, apenas para cumprir uma obrigação desprovida de propósito.

A toxicidade no ambiente de trabalho é um inimigo sorrateiro. Ela começa com pequenos sinais — uma palavra rude aqui, uma microgestão ali —, mas aos poucos se instala nas paredes da empresa, infectando a todos como uma doença. E então vem a pergunta inevitável: por que os gestores não enxergam?

A verdade é que, muitas vezes, eles estão tão imersos em suas próprias preocupações que se esquecem de que liderar é muito mais do que cobrar resultados. É sobre cuidar de pessoas. É sobre criar um espaço onde as ideias fluam e a inovação floresça, onde os funcionários sintam que têm valor e que seus esforços são apreciados.

Um ambiente de trabalho tóxico não nasce da noite para o dia, assim como a angústia que corrói seus funcionários. É o produto de um descaso contínuo, de uma liderança surda, incapaz de perceber os sinais de alerta que gritam nas entrelinhas: as conversas que cessam quando o gestor entra na sala, o aumento dos pedidos de licença médica, a falta de engajamento em reuniões que deveriam ser produtivas.

A pergunta que fica é: gestores, o que mais vocês precisam ver para agir? Quantos talentos mais devem sair pela porta antes que o diagnóstico seja feito?

A saúde mental de seus funcionários não é um capricho moderno. Não é algo secundário à performance ou aos resultados. É a base de tudo. Funcionários saudáveis, em ambientes saudáveis, são criativos, produtivos e leais. Funcionários que se sentem ouvidos, valorizados e respeitados irão além das expectativas, enquanto aqueles que se sentem oprimidos e desrespeitados se arrastarão pelos dias até que, finalmente, desistam.

O caminho para curar a toxicidade de um ambiente de trabalho começa pela conscientização e pela vontade de mudança. Líderes precisam fazer perguntas difíceis a si mesmos: “Eu estou ouvindo minha equipe?”, “Estou proporcionando um ambiente que encoraja o crescimento ou estou sufocando a criatividade com autoritarismo e controle excessivo?”. É necessário coragem para admitir que talvez, apenas talvez, o problema não esteja nos funcionários, mas na cultura que foi construída dentro da organização.

A transformação não será fácil, mas é vital. Revisar práticas, ouvir mais, cobrar menos, incentivar a transparência e eliminar o favoritismo são passos importantes. Também é essencial fornecer treinamentos que ensinem gestores a liderar com empatia e a identificar sinais de burnout, estresse excessivo e desmotivação.

Se queremos ambientes de trabalho saudáveis, precisamos, primeiro, de líderes que estejam dispostos a tratar seus colaboradores com humanidade. Porque, no final das contas, o sucesso de uma empresa é medido não apenas pelos números no final do mês, mas pela saúde e felicidade de quem a faz funcionar.

Enquanto gestores não entenderem isso, João, Mariana e tantos outros continuarão vivendo no silêncio da angústia, desejando apenas que alguém os ouça. Que alguém finalmente os salve daquele que deveria ser um lugar de crescimento, mas que, ironicamente, se tornou uma prisão.

Camila Sangregório

Analista de Marketing de Conteúdo Digital | Storytelling | Copywriting | SEO | Paid Media | Redes Sociais

2 m

De fato, a toxicidade no ambiente de trabalho é um problema real que afeta diretamente o bem-estar e a produtividade dos funcionários. Essa questão, no entanto, deveria ser mais amplamente discutida no âmbito dos Recursos Humanos, já que esses profissionais são responsáveis por oferecer as ferramentas e treinamentos necessários ao promover ou contratar novos líderes. Infelizmente, ainda se prioriza mais aqueles que possuem excelência técnica, mas pouca ou nenhuma habilidade em gestão e relacionamento interpessoal. Isso acaba resultando em líderes desqualificados para o cargo, que impõem metas inalcançáveis e prazos apertados, transformando o ambiente de trabalho em um ciclo vicioso de toxicidade, prejudicial tanto para os colaboradores quanto para a empresa.

Maraiza Lima

RH Tech | HR Business Partner | HRBP Tech | Tech Recruiter Sr | Estratégia e Liderança

2 m

Os gestores normalmente enxergam, mas se está dando lucro, por quê mexer? É só a pessoa sair. Se não tem gritaria e opressão pública, como poderia ser um ambiente tóxico? Ótimo texto. Um dia colaborarei mais com minhas experiências em ambientes assim.

Wanderlei De Sousa

Gerente de contratos | Gestor de Projetos l Residente Obras Rodoviárias l Site Manager.

2 m

Eu tenho observado um movimento onde as empresas contratam recém formados, dão um cargo de coordenador com um salário medíocre e obriga eles a contratar profissionais de ponta sendo que o salário base máximo é inferior ao do coordenador. Daí cria um ciclo vicioso.

Wanderlei De Sousa

Gerente de contratos | Gestor de Projetos l Residente Obras Rodoviárias l Site Manager.

2 m

A muito tempo ouvi de uns ex colegas de trabalho que quem não puxa saco puxa carroça. Os chefes da época adoravam esse tipo de pensamento.....

Marcela Rezende - Escritora, Consultora e Palestrante

Autora do livro Eneagrama e Burnout| Desenvolvimento Humano e Branding

2 m

Interessante... Enquanto as empresas não entenderem que precisam investir em #autoconhecimento essa história se repetirá. E sabe porque? Porque não existem lideres conscientes se não se tornarem pessoas conscientes. Em meu livro #EneagramaeBurnout trago o conceito da Cultura do autoconhecimento que é algo que defendo há tempos até por ter trabalhado em empresas por mais de 20 anos... Investir em autoconhecimento como uma.competencia é urgente, essencial, muito mais do que autoajuda e um caminho que garante que os demais investimentos em saúde e bem estar sejam melhor aproveitados...

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