A ansiedade está no “lá”
Quanto mais o tempo passa, mais caixinhas vão sendo criadas para organizar aquilo que somos. Caixinhas mesmo. Cada caixinha, um nome:
E por aí vai.
Como se não bastassem as caixinhas com nomes, elas vão se atualizando, sofrendo um upgrade e recebendo sobrenomes, tais como: 2.0, 3.1, 4.0 etc (sabemos que os números são infinitos).
Eu mesma já fui uma mulher que me categorizava. Uma mulher que colocava o nome da caixinha no espelho e traçava rotas para alcançar. Depois, eu acrescentava um número ao lado e me desafiava em nova rota para “chegar lá”. E esse "lá" é sempre lá, num futuro, acessível, porém distante. Sempre no amanhã. A ansiedade impera, a sensação de insuficiência reina, as atitudes sabotadoras tomam à frente. A prevalência global de ansiedade e depressão aumentou em 25%, de acordo com a OMS, isso só no primeiro ano de pandemia, portanto, estou longe de estar sozinha nesse cenário, infelizmente.
Nesse momento em que estou vivenciando – não sem sofrimento – um estilo de vida mais desacelerado, com mais pausas e observações ao silêncio, mais me sinto inundada por barulhos para eu me tornar 4.0, 5.0, 6.0, “para o alto e avante” e a mais recente – e já decadente – “foguete não tem ré”.
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A vida não tem ré, minha gente! A vida não tem ré. É sempre para frente. É sempre em espiral. A evolução não é uma linha reta, ela é uma espiral. Vamos voltar ao mesmo ponto inúmeras vezes na nossa existência, mas voltaremos com olhar diferente, com vivência diferente, com bagagem diferente. E reagiremos de forma diferente também, de acordo com o momento em que nos encontrarmos. Essa ideia segmentada de que podemos ser identificados por caixinhas é uma ideia nefasta, manipuladora e capitalista.
A liderança começa no momento da concepção.
Depois toda a trajetória de nascimento. Quando a gente cresce e vai se posicionar socialmente, temos atitudes de liderança. Uma liderança de sobrevivência, primitiva. Não tem estudo para isso, não tem teoria, faculdade ou pós-graduação que dê conta de ser líder, pois a liderança é situacional: olhe para seu momento de vida e analise em quais você escolhe ser líder e em quais você escolhe ser liderado? E como isso impacta suas decisões? Em quais desses momentos você se sente suficiente ou insuficiente?
A gente lidera o tempo todo. Estamos à frente das nossas decisões o tempo todo. E não, não depende só da gente, quando se vive em sociedade. Temos muitos fatores influenciando nossos posicionamentos (financeiros, comportamentais, culturais), mas a gente lidera o tempo todo.
No papel de líder que sou, escolhi que não traçarei mais planos para me tornar dois, três ou quatro ponto zero de nada. Escolhi usar meu comportamento de liderança no exercício de viver o aqui e o agora, ciente de que, diante de tantas influências mercadológicas, meu esforço para viver o presente, para ser a melhor versão de mim mesma, está exatamente no ato de sentir o agora, independente se ele me convida a ser líder ou liderada.