Aos milhões de Cunhas
A faixa na Pauliceia Desvairada dizia: "Somos milhões de Cunhas". Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que eleito presidente da Câmara dos Deputados, teve a vitória festejada por trocentos parlamentares que teriam imposto acachapante derrota à Dilma. Dentre os mais felizes estavam Celso Russomanno (PRB) e Paulinho Mandado da Força (Solidarieté Tupiniquém).
Não deixemos que a memória nos traia. Eleito com maior votação para um deputado federal no País em 2014, Russomanno vaticinou nem empossado estava: que Câmara que nada. queria a prefeitura de São Paulo. Paulinho Mandado deve tentar a mesma cadeira pra fazer figuração.
Eis que Eduardo Cunha e sua primeira-dama trincada em dólares suíços - mas que na verdade são nossos e que para lá foram num samba-esquema-noise que envolveu até a então sagrada Assembleia de Diós - se veem ameaçados. A Câmara deve poupá-lo da cassação ou perda de cargo. Mas a PGR e o Supremo podem acabar com o sonho do mentor do Jesus.com.
Cunha de jesus.com. Cunha de Porches e SUV variadas. Cunha, abre uma frota de Uber neo-pentecostal, sugiro.
Cunha, como quem tem o regulamento embaixo do braço, condiciona sua saída ao disparo fatal da abertura do processo de impeachment. O governo Dilma e a oposição fazem um mise en cene de ator canastrão. Com a cortina elevada, timidamente cobram o afastamento de Cunha da presidência da Câmara e, sob cortinas fechadas, o bajulam para não abrir o processo de impedimento ou para acolher o mesmo. Estarão reféns do Cunha?
Outro dia eu dizia das pesquisas eleitorais à sucessão de Fernando Haddad em São Paulo. E lembro: Russomanno lidera com bom espectro, embora seja cedo. Ainda que o pastor Felicianus seja um dos candidatos neo-pentecostais por essas plagas, não pensem que Cunha vai abrir o voto para ele.
E aqui volto ao título: parte de São Paulo - e bota parte nisso - foi às ruas e abraçou a faixa "Somos Milhões de Cunhas". Paulinho mandado entoou o coro: "Cunha guerreiro do povo brasileiro".
Logo, o candidato de Cunha em São Paulo é Russomanno, sacaram? Parece Quadrilha, de Drummond, mas não é. Afinal, política é, antes de tudo conchavo, troca de apoios e o escambau a quatro.
Se lá atrás o nobre defensor dos direitos do consumidor ergueu o braço de Cunha eleito presidente da Câmara, agora Cunha precisa retribuir o favor. Já estou vendo o Cunha na propaganda eleitoral em São Paulo a dizer:
"Russomanno não é só meu candidato, como é candidato de Jesus".
Tudo seguido por gritos de aleluia e olhos esbugalhados de quem vê santas criaturas em quadro.
Será que vai ser dureza para Russomanno explicar por que não é candidato da Igreja Universal e esconder sua camarada relação com o tirano mór da Câmara?
A saber.