Aprendemos a falar, agora precisamos de políticos que saibam ouvir
Quando eu era criança, meus pais me diziam que temos dois ouvidos e uma boca para ouvir mais e falar menos. Esse ditado valeu por muito tempo não só para as crianças, mas para todos os cidadãos, que eram vistos pelos governos como um mar de ouvidos para as suas poucas bocas. Quer cena mais simbólica desses dias do que todo mundo em volta do rádio, em silêncio, apenas ouvindo?
Hoje, isso é passado. Se antes o cidadão contava apenas com uma boca, com as redes sociais passou a ter dez dedos e diversos dispositivos e plataformas para falar. E isso provocou uma euforia na gente. Temos tanto para contar, tanta opinião guardada e o agora parece ser o tempo certo de expressá-las. É assim comigo, é assim com você e é assim com todo mundo. Então falamos. Falamos com esperança, com raiva, do que achamos errado e do que queremos. Mas, depois de muito falar, paramos para olhar o resultado de tudo isso e nos frustramos. Parece que a nossa participação é como uma árvore que cai na floresta. Se ninguém está lá para ouvir, ela de fato se realiza, transforma-se em soluções e mudanças?
Mas, veja bem, isso não significa que devemos parar de falar. Não! O problema é que com todo mundo falando ao mesmo tempo – cidadãos, políticos, lideranças, governos – não sobrou ninguém para ouvir. O que temos que combinar como sociedade é quem vai ouvir. E mais do que isso, quem vai escutar, mediar o debate, organizar todas as ideias e agir.
Quem já teve a oportunidade de ver uma equipe de inovadores em ação sabe bem do que estou falando. Ouvir sem podar as ideias, sem dizer que essa ou aquela não é boa. Apenas ouvir, em um primeiro momento, para depois organizar e agir. É incrível o que acontece quando estamos com a mente aberta e dispostos a fazer esse processo criativo.
Ouvir sempre foi um papel que esperamos do Estado e agora, com a facilidade que as redes sociais criaram, é uma iniciativa que pode levar a reoxigenação da democracia e da representação política, com a ruptura de um modelo em que os políticos – especialmente os deputados – agiam conforme a sua convicção e as suas impressões dos pontos de vista de seus representados. Para isso, devemos usar as eleições de outubro para mostrarmos o novo perfil de líder que queremos:aquele que compreende e valoriza o ouvir como um verbo de ação e não como uma posição passiva e apática, que se proponha a fazer menos discursos e mais conversas.
Quer um exemplo prático de como os nossos dias viabilizam lideranças dispostas a ouvir? Eu sou de Itapiranga, no Extremo Oeste do estado, uma viagem de 10h horas a partir de Florianópolis, se tudo ocorrer bem. Mas isso hoje, que as estradas já estão melhores (e aqui preciso destacar que há muito o que ser feito ainda pelas rodovias do Oeste e pela sua infraestrutura no geral). Imagine, então, o caminho que um deputado da minha região tinha que percorrer para reunir os eleitores lá do Extremo Oeste e propor um debate sobre os projetos que seriam votados na Assembleia Legislativa na semana seguinte. Difícil, custoso e pouco eficiente, certo? E se a pauta mudasse durante a semana? E se entrasse em discussão um projeto novo muito importante? Ou o deputado não votava ou votava apenas a partir da sua convicção, aquela que ele imaginava que os seus eleitores compartilhavam.
Mas e hoje, qual é o custo disso? Qual é o custo de uma postagem ou de se enviar um WhatsApp perguntando a opinião das pessoas sobre determinado tema? E mais, qual o custo de se organizar uma roda de chimarrão para conversar, por exemplo, sobre como podemos construir um novo modelo de Educação Pública para Santa Catarina com aqueles que mais entendem sobre o tema: professores, pais e estudantes?
São essas inquietações que não me saem da cabeça porque cada vez mais me parece que as mudanças não surgem dentro de gabinetes vedados, como geração espontânea. A mudança brota do compartilhamento de ideias. E surge para aquele que está disposto a ouvir, conectar ideias e pessoas. É nisso que eu acredito.
Communications Specialist @ Werfen | PR | Corporate Communications | Social Media | ESG
6 aÓtimo texto Marlene Fengler, não adianta só falar e reclamar e também não tomar uma atitude. As soluções para os problemas não virão com as pessoas erradas e nem cairão do céu, tem que ser uma visão de longo prazo.
Médico especialista na GAP Clinica de Otorrinolaringologia
6 aA comunicação humana inicia pela fala, escrita e ambos atualmente. Agora as respostas rápidas de todos os tipos congestionam e se vão ao vento. Falta hoje o líder que vença o desafio de se expressar com a comunidade contemporânea. Esse tem que ser verdadeiro e passar por cima da agressão e da mentira da mídia e da internet. Assumir as falhas e propor soluções.
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6 agostei otima materia
Assistente sênior na VISION TRAVEL LIMITED
6 aEntão estamos realmente no caminho certo , porém a maior dificuldade é encontrar os políticos que ouçam mais e falem menos .Mudar é preciso ,ouvir mais também,mais ter dignidade e lealdade e muito mais importante.
mais 10 anos na epsc-mahotas
6 agostei se todos tivéssemos a capacidade de escutarmos uns aos outros independentemente das diferenças o mundo seria melhor para as nossas crianças