Atualização Iniciada

Atualização Iniciada

A primeira aula dos meus cursos de Artes é uma apresentação do programa, metodologia e objetivos com os quais trabalharemos ao longo do período letivo. Também nos apresentamos, eu e os estudantes, comentamos a lista de materiais e a bibliografia, se for o caso.

Nesta apresentação, costumo citar Gandalf, o mago criado por J.R.R. Tolkien, e Bruno Munari, importante Designer e Professor de Comunicação Visual. A referência a Gandalf tem a ver com o aproveitamento da carga horária do componente curricular Artes, sempre pequena, em contextos que não os dos cursos de artes visuais.

A citação de Munari (reproduzida na imagem que ilustra este artigo) foi extraída da correspondência mantida com o jornal milanês Il Giorno, durante o período em que ministrava o curso de Comunicação Visual no Carpenter Center of the Visual Arts da Harvard University, em 1967, e compilada no livro Design e Comunicação Visual. Minha intenção, ao citá-lo, é fazer um convite ao protagonismo dos estudantes em relação à proposta apresentada.

O curso, obviamente, tem um programa, elaborado de acordo com os objetivos da instituição e com as competências e habilidades requeridas pela Base Nacional Comum Curricular para a etapa e modalidade da Educação Básica em questão. Isto não quer dizer que ele deva ser estático e não possa ser adaptado às características peculiares de cada turma e indivíduo à medida que o programa passa de um projeto a um processo. É justamente no processo, na “realidade prática do dia a dia”, que surgem os “problemas sempre mais atuais” trazidos pelos estudantes.

O que eu procuro deixar claro para eles é que, do meu ponto de vista, o programa está pronto e para mim é confortável mantê-lo como está. Afinal, dediquei muito tempo e energia elaborando-o. Porém, também busco enfatizar que estou aberto a adaptar o programa de acordo com o desenrolar das aulas, mas devo ser provocado a isto por iniciativa dos estudantes. É um jogo: tem tempo, espaço e regras para acontecer, mas só acontece se for jogado.

Nesta última terça-feira, 08 de fevereiro, durante o intervalo, fui abordado por um aluno que me trouxe a seguinte questão: “Professor, a NFT é arte?” Eu, vindo de um outro contexto de formação e completamente desatualizado a respeito desta sigla (que significa non-fungible token), respondi ao rapaz: “nem sei o que é isso, me explica." Ele explicou e por meio da sua explicação percebi que este é um assunto que deve entrar no programa, pois, para estes jovens em um contexto de formação em tecnologia, é uma questão cotidiana, atual. Nunca senti tão na pele a verdade do velho ditado: “camarão que dorme, a onda leva”. Conversamos um bocado sobre conceitos e mercado de Arte, como se precifica uma obra de arte, etc. Agradeci ao garoto pela atualização e fui logo iniciar minha pesquisa.

Não vou, aqui, tratar de NFTs, se são ou não Arte. Até mesmo porque ainda não tenho conhecimento suficiente para discorrer sobre o tema.  Este conhecimento será construído no processo, em parceria com os estudantes. 

O objetivo deste artigo é refletir como esta lição do Prof. Munari, de mais de meio século, está perfeitamente alinhada à constante necessidade de atualização dos nossos currículos, programas e metodologias de ensino e aprendizagem, e que esta atualização deve ser orgânica, processual. Deve incluir o estudante, atendendo suas demandas, proporcionando mais do que espaço de fala; espaço de ação. Devemos instigar os jovens a nos provocarem, nos tirar de nossos lugares de conforto, nos moverem à mudança, a nos colocarem frente à frente com nossa ignorância e a nos ensinarem o que não sabemos.

É um jogo, mas estamos no mesmo time.

Ricardo M. P. Frota

Católico, anti-comunista, músico, administrador e pai.

2 a

NFT, amigo, é mais ou menos o seguinte: É qualquer arquivo, normalmente uma ilustração ou vídeo, que possui uma espécie de certificado criptográfado que dá a ele uma espécie de "identidade", é "único", e pode ser passada a propriedade para outra pessoa. É mais ou menos como se fosse uma criptomoeda, mas em um arquivo visualmente identificado. Acho que, resumido, podemos dizer que é um objeto digital identificado com certificado de autenticidade e propriedade aos moldes da tecnologia de blockchain (similares às criptomoedas). A explicação pode não estar perfeita, por que fiz uma tentativa de explicar rapidamente, mas é mais ou menos isto aí. Sobre ser arte ou não, aí talvez tenha que entrar na questão "o que é arte"... polêmico. Eu diria que pode ser arte ou não. Para alguns qualquer coisa, rabisco, mancha, sujeira ou até uma fruta apodrecendo ou uma tampa de privada rachada pode ser arte, para outros, não! Polêmico. Parabéns para o seu aluno que trouxe algo atual para ajudar na aula. Neste caso ele foi muito feliz.

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