Como descobrir se você é uma pessoa criativa?

Como descobrir se você é uma pessoa criativa?

Este artigo é um relato de vida de cunho pessoal que espero que possa te inspirar e te levar a reflexão sobre criatividade.

Eu sou, em minha essência, uma pessoa criativa. Mas se você pensa que criativo é aquela pessoas que tem habilidades artísticas como desenho e pintura, essa não sou eu! Digo isso porque por muito tempo acreditei que criatividade estivesse ligada diretamente e somente as artes.

Minha criatividade se manifestou de diversas maneiras na minha vida, mas desenhando não foi uma delas. E olha que não foi por falta de tentativas.

Aqui vai uma história

Uma vez, quando morava nos Estados Unidos, me inscrevi em um curso de desenho no Museu de Belas Artes de Boston. Sem dúvida, neste curso vivi um dos momentos mais constrangedores da minha vida.

No primeiro dia de aula, quando entrei no estúdio antes do professor chegar, comecei a conversar com outros alunos pra ver o background deles. Todas as pessoas que conversei, sem exceção, se julgavam iniciantes e sem muita experiência, então pensei: tranquilo, estão todos no mesmo nível que eu.

Quando o professor chegou, ele fez algumas poucas linhas no quadro e de repente ele já havia desenhado um rosto humano, daí ele diz: “Agora vocês desenham usando o método que eu acabei de fazer.”

Imagem gerada por IA

Imaginem o misto de desespero e desorientação que eu fiquei. Mal sabia segurar o lápis corretamente imagine desenhar rostos!

Todos os alunos tentaram, e quando fomos olhar o resultado uns dos outros (isso fazia parte da atividade) o meu trabalho era de longe o pior de todos. Esses alunos que se diziam inexperientes tinham trabalhos realmente muito bons, talvez até hoje eu não tenha chegado ao nível do que eles consideram seus trabalhos amadores.

Mesmo sendo a aluna mais fraca eu persisti e compareci até a última aula, num misto de vergonha, coragem e completa falta de noção. Ao final do curso eu saí melhor do que eu entrei, mas ainda assim não havia chegado ao nível do primeiro dia de aula do resto da turma. Essa história termina aqui, infelizmente este não é um case de sucesso.


Mesmo com essa história traumática, poderia ter acreditado que eu era um completo fracasso, mas resolvi não acreditar nisso. A criatividade se mostrou útil em alguns outros aspectos da minha vida. Por exemplo, como storyteller.

Aqui vai outra história

Ainda nesse período das aulas de desenho, trabalhei como Au Pair na casa de uma família americana, cuidando de duas crianças, uma de 6 anos e outra de 1ano.

E em qualquer lugar do mundo, crianças são unanimidade em serem seletivas para comer. Com minha hostkid (assim que chamávamos as crianças) não era diferente.

Eu precisava que ela se alimentasse bem, caso contrário a pirraça era certa. Então, em um dado momento, ofereci a ela ovos mexidos. Obviamente, ela recusou e disse que não gostava. Mas eu precisava persistir um pouco mais. Foi então que criei uma bela história sobre aqueles ovos mexidos serem especiais, vindo de uma receita de família que havia sido passada de geração em geração. E dei para que ela provasse. O resultado? Ela amou!

Em algum momento houve esse diálogo com a avó da menina:

Avó: "Eu fiz um ovo mexido pra Taylor esse fim de semana e ela não quis comer, disse que o seu é melhor pois é uma receita de família. O que você coloca no ovo?"

Eu respondi: "Absolutamente nada diferente, apenas ovo e um pitada de sal, exatamente como você faz o seu."        

Ela ficou incrédula. Mas será porque cozinho com amor? Haha NÃO!

Mas posso dizer que cozinho com storyteling!

Com esse exemplo, percebi que criatividade é a filha da necessidade. Se você tem sempre todos os recursos dificilmente terá a oportunidade de ser genuinamente criativo.


Quando me especializei como Designer de Interiores me assumi de fato como pessoa criativa, mas não pense que foi desenhando móveis mirabolantes e inusitados que desafiassem as Leis da Física, não. Fui uma profissional criativa e técnica.

Tem um designer italiano que gosto muito, chamado Bruno Munari, ele diz que existem dois tipos de designers: o criativo romântico e o criativo profissional:

"É bom fazer uma distinção imediata entre o projetista profissional, que tem um método projetual, graças ao qual o seu trabalho é realizado com precisão e segurança, sem perda de tempo; e o projetista romântico que tem uma ideia “genial” e que procurar forçar a técnica a realizar algo extremamente dificultoso, dispendioso e pouco prático, mas belo.”

O designer profissional é aquele que estuda a técnica, conhece as limitações do produto e tem um método, assim ele não perde tempo nem recursos com “ideias geniais”. Já o designer romântico, força a técnica a suas ideias, e isso não é ser criativo, pois se não funcionar direito não será bom pra ninguém.

O trecho acima foi retirado do livro Das Coisas Nascem Coisas, e apesar de ser um livro a princípio voltado para o design de objetos, muitos de seus conceitos continuam atuais e aplicáveis em qualquer área do conhecimento do design visual, como por exemplo no UX/UI Design.

Capa do exemplar do livro Das Coisas Nascem Coisas que eu li

Inclusive neste livro, o autor traz uma metodologia de 12 passos para a criação de um design que em muitos pontos se assemelha a metodologia de Design Thinking, como os passos de Descoberta em que ele analisa o Problema e Coleta de Dados que podemos relacionar a Pesquisa com Usuário e Deep Dive.

Ou seja, qualquer que seja o produto (físico ou digital) que você irá criar há sempre métodos de ser criativo, ele diz:

“Criatividade não significa improvisação sem método essa maneira apenas faz confusão e cria nos jovens a ilusão de se sentirem artistas livres e independentes.”

Portanto, abraçar a criatividade não é simplesmente abraçar o caos e a improvisação, mas sim adotar métodos e processos que permitam a expressão criativa de forma eficaz e significativa.


Em resumo

Refletir sobre minha jornada pessoal e profissional me ajudou a compreender sobre a natureza da criatividade, que por sinal, está longe de ser restrita ao domínio das artes. Percebi que minha criatividade se manifesta melhor quando combinada com uma compreensão sólida do contexto e das limitações de cada projeto. Ela é uma ferramenta poderosa e versátil, capaz de transformar desafios em oportunidades, limitações em inspiração e problemas em soluções inovadoras.

Espero que essa reflexão também possa fazer isso por você, e te ajude a pensar na sua própria jornada.

E você, é uma pessoa criativa?

Me conta aqui se esse artigo te fez refletir também.

Wendel Moreira

Arquiteto de software | Especialista em BI | Power BI | Arquiteto de soluções

9 m

Ótimas histórias. Tudo que tem uma boa Storytelling vai pra frente.

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