Aula S.A.

Aula S.A.

Não raramente tenho escutado reclamações vindas do mercado de trabalho e dos estudantes. Por mais que haja sintonia entre os desejos dessas duas partes (o de empregar pessoas qualificadas e o de encontrar um canto ao sol), o problema é que o esperado e o oferecido não estão falando a mesma língua. O resultado, também não incomum, é que em alguns setores há vagas mas não há candidatos preparados. As universidades têm o papel de contribuir para que esses dois lados se entendam. E para que isso ocorra a sala de aula necessita ser revista.

O modelo de ensino tradicional condicionava o aluno a mero espectador. Podia haver lampejos de fala, mas era muito mais para constar. O protagonismo era do professor. Habilidades socioemocionais não costumavam ser reveladas. Quando se importavam, muitos gestores educacionais se enganavam que tanto na teoria quanto na prática o estudante estava apto a disputar um processo de admissão profissional. As vendas foram tiradas dos olhos: as empresas passaram anos investindo em mais e mais treinamentos para suprir o que não foi desenvolvido. O economista Luiz Pedreira, criador da rede de clínicas de podologia “Spa do Pé”, endossa o que estou defendendo.

“O Spa do Pé tem 30 anos e por causa das Universidades e cursos técnicos não terem formado pensando no mercado, nós tivemos que criar centros de capacitação”.

Como contribuir com o Luiz? Como ter melhores índices de empregabilidade dos nossos alunos? Como mostrar a dura realidade de um competitivo mundo empresarial? A resposta é relativamente simples, a operação nem sempre: fazer da sala de aula um universo de projetos, com indicadores, conflitos, cobranças, buscas por resultados e que desperte muitas soft skills, como trabalho em equipe, liderança, empatia e resiliência. “O mercado está procurando cada vez mais gente qualificada para resultado rápido. Não adianta só diploma”, diz Joaquim Lauria, diretor e fundador do Grupo LET, um dos mais importantes em recrutamento e seleção.  

Nesse papel de meio de campo, as Universidades precisam promover mudanças internamente, como já vimos, mas também precisam construir pontes para que o mercado se faça presente. Com fala. Com protagonismo real. Não adianta se iludir que só palestra resolve. As empresas, ávidas por essa conexão, devem ser convidadas para compor ideias, para discutir objetivos, para participar e contribuir no mundo acadêmico. Sei que essas ações fissuram diversos vínculos enraizados, mas é um caminho sem volta. Os estudantes e o mercado estão começando a falar a mesma língua. Se a Universidade não se atentar, vai ficar conversando sozinha.

Vitor Werneck

Aumento a performance da sua empresa através dos dados.

2 a

👏👏 Boa!

Patricia Freitas

Consultora em Gestão de Pessoas, Prof. Universitária e Consultora de Imagem e Estilo

4 a

Muito real e excelente o texto 👏👏👏👏👏

Joanna Biavatti

Consultora e Gestora Educacional | Desenvolvimento e Gestão de Projetos e Produtos Educacionais Digitais e Corporativos| Treinamento & Desenvolvimento | Aprendizagem Corporativa

4 a

O mesmo se aplica para a Educação Básica. Não podemos continuar preparando os alunos para um modelo de Universidade (e de vida) que não faz mais sentido...

Roberto Bieites Dawes

Projetos | Processos | Pessoas | Tecnologia | Produtos | Lean-Agile | SAFe-Scrum

4 a

Rodolfo Bertolini, vou deixar aqui meus 2 cents sobre o assunto. Acredito que, se o mercado e as Universidades não estão falando a mesma língua, talvez haja a necessidade de mudança de ambos os lados. Se por um lado a Universidade está muito distante em seu mundo acadêmico com suas pesquisas longe do "mundo prático", o mercado tem exigido cada vez mais formação universitária para cargos que não precisam da graduação (ou até mesmo pós) como filtro barato de candidatos. Ainda acho que a melhor saída meio-termo para ambos sejam os cursos tecnólogos: são diretos ao ponto, te ajudam a se preparar para algo específico que o mercado precisa. Para a grande maioria dos trabalhos, precisamos ter expertises técnicas. Os cursos universitários deveriam continuar com o seu propósito de Pesquisa e Desenvolvimento (inclusive para serem consultadas e apoiar as empresas de ponta em algum setor específico). Se os cursos tecnólogos (ou até mesmo antes, no ensino médio técnico) trabalhassem mais com projetos, entregas de produtos e serviços, simulações do mundo real, etc, as softskills viriam em conjunto com as hardskills.

Entre para ver ou adicionar um comentário

Outros artigos de Rodolfo Bertolini

Outras pessoas também visualizaram

Conferir tópicos