Autismo - Da conscientização à ação

Autismo - Da conscientização à ação

Autismo! Parece nome de doença, mas não é! Me lembro que quando o pediatra do meu filho falou que o Pedro era autista, foi exatamente o que eu senti, que meu filho tinha uma doença “da cabeça”.

O primeiro ímpeto sempre é o de negar, meu filho não é autista! Mas depois as evidências tão bem explicadas pelo Dr Marigésio falavam por si e não houve dúvida. Depois pensamos nas devastadoras consequências… será que ele vai falar? Será que ele vai conseguir acompanhar a escola? Se relacionar com outras pessoas? Casar? Constituir uma família? Tantas perguntas envoltas numa atmosfera de um luto forçado, que sequer a família tem tempo de processar.

Todo pai e mãe de autista conhece a dolorosa sensação de impotência diante dos desafios do filho. Tem horas que dá vontade de desistir de tudo, abandonar as terapias e deixar pra lá. Mas isso é momentâneo, e tudo vale à pena quando do nada recebo um abraço do meu filho, assim, espontâneo.

Para pais de crianças neurotípicas, de repente esse abraço seja coisa do dia a dia, mas para pais de autista, essa a outras pequenas vitórias são comemoradas com muito entusiasmo.

Eu até compreendo a dificuldade de pessoas neurotípicas entenderem os aspectos da mente singular do autista. O que para muitos possa parecer “doidice” tem explicação, e acreditem, muito lógica. O autista não é um extraterrestre e nem doente mental, como muitos pensam. Ele tem sim grandes desafios, mas no mais ele apenas vê o mundo de outra forma, o que para muito autistas se revela em uma curiosa vantagem semiótica.

O autismo do meu filho Pedro mudou a minha vida e de minha família de formas que poucos entenderiam. Mudou a minha forma de valorizar o hoje, de pensar no futuro, meu trabalho e a maneira como o desempenho, me tornou uma pessoa muito melhor. O autismo do meu filho me fez dar valor a tanto que meus pais lutaram por mim, e hoje procuro exercitar o mesmo por ele. É um lembrete constante de que eu tenho que ser mais tolerante com o próximo, que ninguém é melhor do que ninguém, é um verdadeiro tapa na cara da arrogância e tantas outras mazelas que pioram a humanidade.

Do diagnóstico bastante precoce pra cá aconteceu um movimento de conscientização bem restrito à nossa família, mas que forçadamente teve que ocorrer e não foi nem um pouco fácil. Muita dor, desespero, sentimentos por vezes inexprimíveis.

E hoje, no dia mundial da conscientização do autismo, trago um pouco dessa estória para tentar ajudar a todos os que eu conseguir, um pouco dessa clareza que atingimos quando temos uma pessoa autista em casa. Procurem entender quando virem uma criança muito agitada, que tem dificuldades para se comunicar, que tem dificuldades sensoriais no tocar, olhar, sentir, se alimentar. Não é frescura! É um desafio para o meu filho tocar em qualquer coisa com a consistência de uma banana, por exemplo. Tem alguns que tem grande sensibilidade à luz ou aos sons. Tem outros que não conseguem exprimir em palavras absolutamente nada de funcional, são os não verbais. Existe uma camada de autismo que os impede de muitas coisas, mas abaixo disso, são seres humanos como qualquer outro e merecem respeito.

Não estou com isso, tentando validar o autismo como algo romântico, mas o fato é, já difícil viver no mundo de pessoas ditas pela sociedade como “normais”, imagine para alguém que tem tantos outros desafios para ter uma vida produtiva.

Meu filho, hoje com quase 3 anos, nunca me chamou de pai, mas sei que ele me reconhece como tal, e hoje com muita ajuda das terapias, ele me chama pra brincar nossas brincadeiras “pesadas” de meninos, ele me olha nos olhos e sorri. Isso já foi uma grande vitória. Procuro à medida do possível não me incomodar com os olhares preconceituosos das pessoas. O preconceito é a pior parte, maltrata muito quem já luta tantas batalhas diariamente buscando igualdade. Quando a barreira do preconceito é vencida, experimentamos outro nível de evolução humana, é a tal da ação a qual me refiro no título desse artigo. O simples fato de não julgar o autista já o está ajudando, pois não o isola, não o priva de um contexto social e humano.

Aprenda a ver o ser humano por trás do Transtorno do Espectro Autista, você vai se surpreender…

 Quanto ao Pedro, tirando a corujice de pai, vejo um menino muito carinhoso, que adora abraçar as pessoas que ele ama, muito inteligente e que sim, é diferente de muitos outros.

Débora Rocha

Mãe do Caio 🧩 IT Audit | GRC ISO38500-Governança ISO31000-Risk ISO37301-Compliance ITIL Intermediate ISO27001-Lead ISO27002 ISO27005-Risk ISO27032-Cybersecurity e Ethical Hacking and Penetration Testing.

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Gostei muito do relato e vivi situações semelhantes. Sigamos em busca da inclusão.

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