As avós deveriam ser para sempre
Lembro perfeitamente da penteadeira no quarto, os detalhes das escovas, das pregadeiras de cabelo, das colônias em vidro cilíndrico, dos lenços suaves como lavanda, dos grampos em um potinho enfeitado com laços cor verde clara, do espelho envelhecido, da madeira maciça.
Lembro do cheiro de alfazema, das cobertas guardadas e nunca usadas, das toalhas de mesa na última gaveta do guarda roupa bordadas a mão e que só deveriam ser usadas em aniversários e Natais, mas não lembro nem de tê-las visto sobre as mesas, porque muito provavelmente quando chegava o dia de usar havia uma desculpa de que eram novas demais para serem gastas e sujas com a farra das crianças.
Lembro também e com muita nitidez do coque no cabelo. Todas as manhãs, assim que acordava, penteava, enrolava, colocava os grampos e seguia para fazer o café. Lembro das saias plissadas azuis, dos sapatos sociais de salto baixo de ir para igreja, do horário da novela, da rabugice em tantos momento e da atenção e amor imensurável. Eu lembro de tudo e muito mais.
Lembro do olhar cansado, da voz embargada quando falava sobre a juventude, dos sonhos não realizados e das conquistas, que por menores que fossem eram um arauto de glória e sabedoria. Lembro do quintal, das roseiras, do olhar ao longe pensando no que poderia ter sido e não foi.
Lembro da pele enrugada, da força frágil e da paciência em deixar o tempo levar porque já não existe mais pressa quando já se viveu tudo que poderia imaginar nesta vida.
Hoje, meu chefe trouxe sua avó no nosso escritório e apesar da fragilidade da idade senti nela a força de uma vida bem vivida. Os olhos gratos pelo tempo, o carinho e otimismo por estar cercada de pessoas acolhedoras, jovens e revolucionárias. Em alguns minutos todos se sentiram um pouco netos da Vó Cota e coincidência ou não a minha se chamava Chica, com C também.
Quando minha Vó se foi eu tinha apenas 8 anos. E lembro bem do dia que nos despedimos. Assim como é fácil lembrar de tantos detalhes felizes que faziam ela ser única, o dia da sua partida também é algo marcante pela forma que que tudo aconteceu e as lembranças acabam sendo inevitáveis.
Acho que ela estaria feliz com o adulto que me tornei.
Muito provavelmente entenderia muito pouco do meu trabalho, mas que Vó não ficaria feliz em ver um neto realizando tantos sonhos, os quais ela mesma desejou para ela e por tantas circunstância da vida e de uma geração não foi possível.
Bom, apesar do LinkedIn ser uma rede muito profissional, onde compartilhamos nossas experiências de trabalho e aprendizado, de vez em quando é bom parar, olhar em volta, sentir o momento, refletir, sorrir, repensar e acreditar novamente nos caminhos que escolhemos e estamos seguindo.
Muito do que sou hoje, não tenho dúvidas, é uma referência da minha vó. Momentos como o que presencie hoje nos ajudam a nos reorganizar internamente e nos conectar com a gente mesmo.
Respira. Levanta a coluna e a cabeça. Vamos viver!
Precisamos chegar aos 90 anos com muita história boa para contar.
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5 aParabéns pelo texto David França eu também fiquei surpreso ao ver o anúncio do curso dela. Na minha opinião ela é uma chefe e líder e em cada circunstância ela assume um papel. Afinal, ninguém fica quase 40 anos a frente da principal revista de moda do mundo ditando moda e revolucionando tudo se não houvesse essa mescla. Agradeço caso você possa compartilhar conosco a experiência de participar do curso dela
Gestão Operacional - Engenharia - Processos - Melhoria Contínua - Qualidade
5 aPerfeito David !!
Business Management Specialist - Export Process Head and Heart of Customer Service
5 aSim, deveriam sim.