A BELEZA DE UMA SINFONIA INACABADA

O ato de escrever pode até ser uma tarefa fácil para quem tem a habilidade com a escrita. Daí podermos pensar na grande quantidade de bons e maus escritores que temos na atualidade. R. Roldan-Roldan, escritor hispano-franco-marroquino-brasileiro, premiado no Brasil e exterior por algumas de suas obras, escreve textos com qualidade, dedicação, esmero e sem concessões comerciais e humilhantes.

Mais do que ter o dom de escrever, Roldan-Roldan é um artesão das palavras. Seus textos são bem trabalhados e impregnados pela alma do próprio escritor. As palavras não são simplesmente jogadas no papel (ou na tela do computador, caso prefiram esta metáfora). Ele é um viajante, porém, não um viajante fast food de rede social que inunda a internet com fotos vazias de lugares-comuns. Ele viaja através das palavras e nos leva a lugares, mesmo que comuns, de uma forma e com um olhar profundo e diferente.

Engel - Sinfonia Inacabada para Anjo e Poeta pode ser definido como um livro delirante, enigmático, instigante, metafísico, absolutamente diferente de tudo o que já se escreveu na literatura brasileira. É o idílio entre um anjo e um poeta, que longe de ser seráfico, é totalmente erótico. O que é “Engel...” ? Uma apologia das drogas, uma apologia do amor? O embate entre a carne e o espírito? Ou o desregramento dos sentidos para atingir outra dimensão, como pregava Rimbaud? Ou, simplesmente, tudo o que pudermos pensar e imaginar sobre o que ocorreria na transferência da espiritualidade de um anjo para um poeta e da carne e da sensualidade do poeta para o anjo.

Ao longo da leitura nos deliciamos com toda a essência do estilo roldaniano. Há meio que uma mistura de deserto do Saara com a nostalgia e a emoção russa, um certo ar e clima francês, com pitadas de flamenco e “Manhã de Carnaval”.

Mas como enquadrar o livro? Seria um romance em linguagem poética? Ou um longo poema em prosa? Cabe ao leitor descobrir o sentido de uma obra totalmente insólita sem precedentes na literatura brasileira.

Cada capítulo está associado a uma cor, cheiro e a uma alteração da percepção provocada por algum tipo de droga. Assim, as palavras se ligariam aos sentidos e aos sentimentos dos personagens. Uma curiosidade, quando menciona as cores, Roldan-Roldan faz uma homenagem a grandes diretores de fotografia do cinema, como: Néstor Almendros, Sven Nykvist e Vittorio Storaro.

Chamar o livro de contundente seria cair na escadaria da mesmice, nos discursos preestabelecidos, nas palavras e nos textos padronizados. O livro de Roldan-Roldan é singular, de uma qualidade excepcional e que merece uma leitura e uma interpretação maduras.

O livro, portanto, não é recomendado para pessoas que não desenvolveram a capacidade de amar ou de enxergar a beleza e as nuances dos seres que transitam pelas suas vidas.

Engel - Sinfonia Inacabada para Anjo e Poeta está disponível no site da Amazon no formato e-book e capa comum.

 J. Campos

Barueri, 13/03/16

J. Campos

Biólogo /Licenciado em Letras/Mestre em Letras/Doutorando em Letras

8 a

J.Campos, muito obrigado pelo belo artigo. Mário Sérgio, muito obrigado pelo comentário.

Mário Sérgio Baggio

Jornalista, Escritor e Blogueiro

8 a

J. Campos, que bela homenagem ao escritor R. Roldan- Roldan. Merecida. Abraço.

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