Lançamento: O menino múltiplo, de Andrée Chedid, em português

Lançamento: O menino múltiplo, de Andrée Chedid, em português

Há uns bons anos, ao ouvir “Je dis aime, comme un emblème, la haine je la jette”, canção interpretada por Matthieu Chedid - M -, descobri a poeta Andrée Chedid (sua avó), autora da letra conhecida de cor por boa parte dos franceses. Aqueles versos, para mim, eram poesia. E falavam ao meu eu mais íntimo. Devorei romances, novelas, poemas. E queria muito compartilhar aquela bela e intensa experiência. Um tempo depois descobri, decepcionada, que Chedid ainda não tinha sido traduzida no Brasil. Um encontro ao acaso com seu neto foi o estopim para um projeto de mestrado finalizado em 2015/2016, que resultou na tradução do romance “L’enfant multiple”. No meio do caminho encontrei pessoas incríveis e, ao final dele, a Editora Martin Claret, que abraçou o resultado e em breve lançará “O menino múltiplo”.

Para Chedid, a escritura era “como um ato de amor que amplia, sublima a vida [...] e me coloca em harmonia com essa vibração interior, esse desejo que eu sinto dentro de mim”. Sua escritura tinha de proporcionar algo que fosse para muito além da dominação do tempo, da história e dos lugares, da própria pele, mas que nela criasse raízes; que alcançasse o Outro — o leitor — lá no fundo, de forma intensa, levando-o para além dele mesmo. Suas histórias tinham de conter “algo de todo um mundo, que nos englobasse um pouco a todos”. Para ela, “como diz Bachelard, nós somos ‘reais e irreais’ e, se não conjugarmos ao mesmo tempo o real e o irreal, ficamos traumatizados, por sermos incompletos. Pela escritura, sintetizamos nossa carne e nosso espírito. Assim, a poesia é uma prática de amor, e é o amor que dá a respiração. Não se trata somente do amor entre um homem e uma mulher, mas do amor universal. Quando eu saio na rua, me misturo à multidão, eu amo os outros. Eu os observo. Eu me afogo neles. Essa multidão é a argila que eu amasso para fazer meus poemas, meus textos. Todos esses pequenos momentos de encontro com os outros alimentam a vida, o ímpeto sem o qual nos afundaríamos no vazio que nos espreita”. A sonoridade, o ritmo, característicos da poesia, marcam o movimento de seus romances, a vida de O menino múltiplo.

Como foi o primeiro parágrafo que me incitou a ler "L'enfant multiple", compartilho-o em francês:

“Un matin d’août, se rendre à son travail en traversant Paris à pied. Découvrir la ville à la sortie de sa nuit ; observer son développement graduel hors du bain révélateur. S’en imbiber les yeux. Bénir le sort de faire partie de cette cité. La surprendre, parcourue par de rares passants, dans sa captivante nudité. Se tenir, parfois, au bord d’un trottoir : compter jusqu’à vingt, jusqu’à trente, quarante... sans qu’une voiture s’annonce sur la chaussée. Naviguer le long de ses avenues, serpenter au fil de ses ruelles, contourner ses places ; côtoyer la Seine qui se cuivre, les arbres qui s’enluminent. Goûter à ce silence rythmé par tant de souffles. Ressentir ce face à face, chargé de tant de vies. Chanter en dedans. Savourer. Tout cela n’arrivait plus à Maxime !”

Em português, já está em pré-venda. E a edição, em capa dura, está lindíssima.

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