Bora cuidarmos da nossa chama? (Burnout)

Bora cuidarmos da nossa chama? (Burnout)

O ano de 2022 se iniciou com uma boa notícia para nós, humanos: a síndrome de burnout passou a ser reconhecida como doença ocupacional. Depois de quase dois anos de pandemia, vendo os casos de burnout aumentarem significativamente, a mudança é uma conquista que pode nos ajudar a garantir o direito à saúde mental, que muitas vezes acaba por ser negligenciado. 

Conhecido também como síndrome do esgotamento profissional, o burnout entrou, no último dia 1 de janeiro, para a Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados com a Saúde (CID). Esta mudança promove um cenário positivo: a partir de agora, quem sofrer da síndrome terá direitos trabalhistas e previdenciários assegurados, assim como acontece com outras doenças. Sem dúvidas, uma vitória para a nossa sociedade.

Apesar de incapacitar os funcionários de desempenharem suas funções, até então não havia garantia de que em casos de burnout os colaboradores seriam afastados de suas funções. Esse afastamento, principalmente no caso dessa síndrome, é essencial para o processo de recuperação — que tem a psicoterapia como maior aliado e, em alguns casos, o uso de medicamentos prescritos por um médico psiquiatra. 

Até pouco tempo atrás, o afastamento dependia de uma escolha dos líderes. Mas, a partir de agora, é um direito do colaborador e que deve ser assegurado pelas empresas. Será que a empresa em que você trabalha está pronta para lidar com esse novo cenário? 

Nós, do Instituto Gente Feliz, queremos levantar o debate sobre esse tema tão importante e ajudar as empresas a implementarem os cuidados com a saúde mental em suas estratégias. Continue a leitura para que possamos compartilhar esse conhecimento! 

Rotinas de trabalho insustentáveis

Muitos perderam seus empregos como consequência da pandemia da Covid-19. Por outro lado, algumas indústrias se fortaleceram e tiveram que lidar com mais demandas do que nunca — o que pode ter sido uma ótima oportunidade de crescer no mercado, mas também de aumentar o estresse entre os colaboradores. Nesse caso, será que houve uma atenção especial voltada para a saúde mental desses funcionários?

O modelo home office, adotado nos últimos anos de forma emergencial a fim de diminuir o contágio do coronavírus, oferece diversos benefícios, como economia, flexibilidade e até mesmo melhorias na qualidade de vida. Mas a sua adoção também tem pontos negativos — conciliar a vida pessoal, familiar e profissional trabalhando de casa pode ser bem complicado.  

Imagine o seguinte cenário: Clara, 32 anos, é gerente de RH em uma empresa de porte médio e, desde o início da pandemia, trabalha de casa. Pela manhã, ela precisa acordar bem cedo para fazer o café da manhã da filha e ajudá-la nas tarefas da escola, que também adotou a modalidade online. 

Logo em seguida, Clara liga seu computador e se depara com todas as tarefas do dia. Respira fundo. A empresa em que trabalha teve um grande salto na quantidade de demandas durante a pandemia. Ela tem passado horas e horas na frente do computador, tentando dedicar toda a sua atenção ao trabalho, mas tendo que dividi-la com a filha, que precisa da mãe com certa frequência. 

No horário do almoço, não há descanso: a comida precisa ser feita e os ponteiros do relógio parecem girar com mais pressa do que nunca. Quando se dá conta, ela já está sentada na frente do computador novamente, indo para a quinta reunião do dia. E em cada reunião, uma nova tarefa entra em sua lista. Na modalidade presencial, nunca foram realizadas tantas reuniões assim…

A preocupação com a quantidade de demandas vem surgindo lentamente, Clara mal sente. Começa com uma dor desconfortável nos ombros, até que dores de cabeça passam a se manifestar. Vez ou outra, ela passa a se esquecer do que foi dito em uma ou outra reunião, o que causa estranheza — afinal, a gerente sempre foi conhecida pela “memória de elefante”.

A tensão se eleva. Quando as demandas aumentam a ponto de gerar condições de trabalho desgastantes, temos um problema. Insônia. Exaustão. Dificuldade de concentração. Até que, voilàaa: O burnout chegou!!! Com isso, a chama se apaga e Clara não consegue mais trabalhar. Na verdade, não consegue fazer mais nada…

Apesar de ser uma situação fictícia, cenários bem semelhantes a este se repetiram nos últimos meses. E o problema não foi só o home office ou a pandemia — o burnout já estava afetando a nossa sociedade há algum tempo. Os sintomas de Clara já foram sentidos na pele de muitos humanos ao redor do mundo, e eles são fortes indicadores da síndrome do esgotamento profissional. 

Fique atento a esses sintomas, e, caso os sinta, procure um psicólogo e/ou psiquiatra. Afinal, como qualquer outra doença, em casos de burnout deve-se buscar ajuda de um profissional da saúde. Mas mesmo com muitos sinais, algumas pessoas têm dificuldades de identificar a síndrome. Por isso, é importante ficar atento à manifestação dos sintomas não só em si, como também no próximo. 

Dicas para evitar o burnout

Muitas vezes aceitamos essas rotinas de trabalho insustentáveis ou nem sequer temos a opção de não aceitá-las, mas é importante entender que somos incapazes de lidar com tantas demandas simultâneas. Portanto, precisamos praticar o autoconhecimento e entender os nossos limites para aplicar a sustentabilidade emocional em nossas vidas. 

Entender que não vamos dar conta de todas as tarefas é o primeiro passo para a prática da autocompaixão, e uma boa maneira de criar uma rotina mais sustentável é dedicar um tempo do dia para o seu lazer e bem estar. Podem ser apenas aqueles 15 minutinhos que restam do horário de almoço, ou os 5 minutos que antecedem a hora de dormir — o essencial é fazer algo pensando em você, e só pra você, a pessoa mais importante da sua vida!

Para quem tem um tempo mais curto, esses poucos minutos podem sim ser bem aproveitados. 5 minutos de meditação ou 15 minutos de yoga por dia já fazem toda a diferença, e ambos são exercícios que podem ser feitos em casa. Hoje em dia, inclusive, há diversos conteúdos na internet para te guiar nessas práticas. Esses minutos também podem ser bem aproveitados para ler um bom livro, assistir um episódio de uma série que te faz bem, ou para qualquer outra atividade que seja prazerosa para você. 

Não esqueça de manter uma boa alimentação, um sono de qualidade e, se possível, tomar um banho de sol diariamente. São pequenas coisas que podem fazer a diferença no dia a dia. Inclua na sua lista de tarefas diárias um tempo de qualidade com a família, ou, se você mora sozinho, reserve um horário para ligar para algum amigo e colocar o papo em dia. Estar em contato com pessoas que amamos é também uma prática de autocuidado. 

Como lidar com a síndrome no local de trabalho

Precisamos tirar o romantismo dessa história e sermos sinceros: as pessoas (e principalmente as empresas) gostam de nós porque produzimos. Em nossa sociedade, temos relevância porque somos funcionais. E para continuarmos sendo produtivos, precisamos atingir o equilíbrio e a sustentabilidade emocional, mas nem sempre isso é possível, não é mesmo?

Apesar disso, os transtornos mentais não precisam — e nem deveriam — ser um tabu no ambiente corporativo. Na verdade, talvez tenha sido justamente por não discutir esse assunto que chegamos a um ponto tão crítico, onde muitos estão sofrendo de doenças psicológicas e ainda assim não conseguem se abrir no local de trabalho, que é onde passam a maior parte do dia. 

Quando um funcionário perde o interesse pelo trabalho, demonstra irritabilidade, pessimismo e desesperança, e com isso toda a equipe acaba sendo impactada. É por isso que essa é uma questão coletiva, e todos do time devem se unir e oferecer acolhimento para os colegas que estiverem sofrendo da síndrome. 

É claro que, para criar um ambiente acolhedor onde os colaboradores se sintam confortáveis para compartilhar suas questões, os cuidados com a saúde mental devem estar anexos aos princípios da instituição. Pensar estratégias que assegurem o bem estar das equipes é urgente, e caso a empresa em que você trabalha ainda não o faça, o Instituto Gente Feliz está de portas abertas para ajudá-los! 

Sabemos que, mesmo as empresas que já se atentaram a essa problemática e estão agindo para contorná-la, podem sentir dificuldades no processo. Afinal, estamos falando de cuidados com nós, humanos, que somos complexos e temos nossa individualidade. Nesses casos, também estamos prontos para pensar estratégias personalizadas para o seu negócio. 

Se você está em um cargo de liderança, sempre que possível, pare, analise a situação da sua equipe e discuta sobre novas propostas de ações que visam o bem estar de todos. Acreditamos muito no diálogo e na coletividade para construir sociedades mais empáticas e humanizadas, com mais saúde, respeito e afeto. Não queremos mais pessoas afetadas pelo sentimento de fracasso que o burnout causa, o que nós queremos é Gente Feliz! 

Texto poweredby: Natalia Nunes e Anderson Mendes - Humanos à disposição de Humanos!

Renata Leal Quaglio

Psicóloga especialista em Psicologia Clínica, Suicidologia, Luto e Psicopedagogia

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Boas notícias e excelentes reflexões sobre esse tema tão atual e importante!

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