Brasil: Recordando a história (colonização e movimento migratório), por Carlos Varela Luc

Brasil: Recordando a história (colonização e movimento migratório), por Carlos Varela Luc

Brasil: Recordando a história (Colonização e movimento migratório), por Carlos Varela Luc

 

Por motivos históricos – colonização e emigração – o Brasil tem grandes afinidades com os países da Europa, designadamente com Portugal.

A histórica ligação com Portugal, e com a Europa, começou quando o Almirante português Pedro Álvares Cabral aportou, julga-se que em 22 de Abril, em Santa Cruz da Cabrália, no sul da Bahia, comandando uma esquadra de treze naus.

 

Período pré cabralino:

Povos nómadas asiáticos, há 12 mil anos, podem ter sido os primeiros a estabelecerem-se no Brasil, atravessando o estreito de Bering, passando da Sibéria para a América do Norte e, depois ao longo do tempo, descendo pelo continente americano chegaram ao Brasil. No entanto, algumas fontes da história sinalizam que, antes, outros povos negróides poderiam ter habitado esta região sul-americana e que teriam sido exterminados e/ou assimilados pelos asiáticos, mongóis, alguns séculos antes da chegada de Pedro Álvares Cabral, no primeiro ano do século XVI. O Almirante e Navegador português, batizou o novo território como Terras de Vera Cruz mas que ficou conhecido como Brazil, porque para quem se aproximava da costa via uma mancha avermelhada, originada pela cor rubra do pau-brasil, que suscitava a ideia de braza/fogo.

 

A colonização:

Portugal era, e é, um país pequeno, com pouca gente, o que, evidentemente, dificultava a colonização de tão vasto território. Só em 1530, D. João III organizou uma grande expedição com os objectivos de expulsar invasores, ingleses, holandeses e franceses, atraídos pelas riquezas naturais do país, e a iniciar o povoamento do território.

 

A plantação da cana-de-açúcar, após algumas experiências, tem êxito no nordeste onde se inícia a sua plantação em vastas propriedades. Em meados do século XVI quando a produção de açúcar se torna um importante negócio para a "coroa portuguesa", mercadores portugueses começam a trazer escravos africanos comprados nos mercados da áfrica ocidental. A exportação de açúcar é o grande negócio do momento.

 

Entre 1630 e 1654 o nordeste do país sofre ataques e foi palco da fixação de neerlandeses interessados no comércio de açúcar tendo mesmo implantado um governo no território. Foram expulsos em 1654 e retomada a soberania portuguesa. Cabe aqui recordar que Portugal esteve ocupado e sob domínio espanhol entre 1580 e 1640 (Restauração da Independência e expulsão dos espanhóis em 1 de Dezembro de 1640).

 

No século XVI os primeiros colonos a chegarem ao Brasil não foram ladrões, assassinos ou prostitutas, como alguns afirmam. A colonização foi promovida pelas famílias portuguesas mais abastadas, que traziam os seus empregados, e por camponeses que estavam na dependência da pequena nobreza que vinha para se fixar no campo plantando cana-de-açúcar ou explorando engenhos.

A classe alta portuguesa instalava-se nas zonas mais ricas, Pernambuco ou Bahia, nas outras regiões, como Maranhão, ficavam os mais pobres.

Os colonos portugueses ocuparam as zonas do litoral empurrando os ameríndios para o sertão e para a Amazónia. Os que ficaram eram, na maioria, aculturados e misturavam-se com os portugueses formando uma população mista.

 

No século XVII, com o objectivo de incrementar a plantação da cana-de-açucar, cresce o número de escravos razidos principalmente de Angola e Costa da Mina. Os portugueses concentram-se no litoral nordeste e sudeste, o resto do território permanecia com pouca ocupação europeia.

 

No século XVIII desenvolve-se a mineração, em Minas Gerais, o que atraiu um grande número de portugueses, principalmente do Norte do país. Também há registo da vinda de açorianos (Açores é um arquipélago português, no Oceano Atlântico, de fracos recursos com uma população muito pobre) que se instalaram no litoral sul.

 

Movimento migratório:

Os sociólogos consideram colonizadores todos os estrangeiros que chegaram ao Brasil até 1822 (7 de Setembro de 1822 independência do Brasil), todos os que vieram depois são designados como imigrantes. Para os historiadores o processo de colonização durou entre 1500 e 1815, ano em que a colónia portuguesa passa a Reino do Brasil.

Os colonizadores e os imigrantes deixaram profundas marcas na demografia, cultura e economia do país.

A imigração foi feita essencialmente por portugueses, muitos que vieram para acompanhar o rei D. João VI, em 1808, e outros que foram atraídos pelas riquezas desta parcela de, à época, território português.

 

A imigração cresceu, sob incremento do Imperador, D. Pedro I, para ocupação do território e também pressionada pelo fim do tráfico de escravos para o Brasil que mostrou a necessidade de substituir essa mão-de-obra por outra mais especializada e, mais tarde, pela expansão da economia principalmente pelas plantações de café no Estado de São Paulo e pela exploração da borracha nos seringais do Amazonas.

 

Os primeiros imigrantes, exceptuando os portugueses, foram os chineses de Macau (território português encravado na China) que se fixaram no Rio de Janeiro. Para a região serrana do Rio de Janeiro vieram suiços em Maio de 1818. Em 1824 chegaram os alemães que se instalaram no Rio de Janeiro. A importação de escravos africanos cessou em 1850 tomando força a atracção de imigrantes não portugueses.

 

Depois da independência, em 7 de Setembro de 1822, e porque o sul continuava deserto o Império passou a incrementar a política de imigração incentivando a instalação de núcleos de colonos imigrantes nos Estados de Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. O Imperador passou a ocupar-se da tarefa de trazer gente para ocupar as terras desertas, que eram muito cobiçadas por estrangeiros.

Como se sabe a Imperatriz, D. Leopoldina, era austríaca pelo que se optou por facilitar a emigração de povos de origem germânica. Um primeiro grupo de alemães ficou no Rio de Janeiro e em 1824 com a vinda de outros iniciou-se o povoamento do Rio Grande do Sul. O sul do país também foi palco da instalação de italianos que começaram a chegar em 1875.

 

A Santa Catarina chegaram os primeiros colonos alemães em 1829. A partir de 1850 assistiu-se à maciça instalação de germânicos no estado. Também no Paraná os alemães se fizeram presentes. Em 1824 vieram eslavos, da Ucrânia e Polónia, que se instalaram no Paraná formando a maior corrente imigratória do Estado do Paraná.

 

A Curitiba chegaram muitos alemães a partir de 1833 que marcaram de modo definitivo a cultura e economia da cidade, ainda hoje existem diversas marcas, por exemplo a arquitectura dos casarões. Nessa altura foi criado o Coritiba FC.

É já no século XX que aportam a maioria dos imigrantes alemães que se estabeleceram no leste e sul do Estado do Paraná. Para o sul também vieram, em menores quantidades, imigrantes russos que se estabeleceram no Paraná (Ponta Grossa).

Entre 1876 e 1914 assistiu-se a uma deslocalização de trabalhadores do Nordeste para o Amazonas com o objectivo de trabalharem nos seringais

 

Houve um grande movimento para "embranquecer" a população brasileira. A “introdução” de europeus brancos, através da miscigenação, criaria uma população menos negra, menos natural e mais colonizada. Difundia-se a imagem de que os europeua eram mais cultos e exímios profissionais o que colocava o brasileiro e, principalmente o negro, numa situação de inferioridade o que dava força à tese da necessidade de incrementar a vinda de europeus brancos. A realidade mostrou o exactamente o contrário: os emigrantes não possuíam cultura, qualificação nem tão pouco recursos económicos ou educacionais adequados às necessidades.

São Paulo, por via dos interesses dos grandes industriais e fazendeiros que tinham interesse na abundância de mão-de-obra barata, destacou-se nesta bravata do branqueamento da população.

Os registos referem que entre 1820 e 1903 desembarcaram no Brasil cerca de 1 milhão de imigrantes de, praticamente, todos os cantos da europa com destaque para os portugueses, espanhóis, italianos e alemães, foram atraídos pelos negócios gerados pelas colheitas do café maioritáriamente em São Paulo.

 

Entre 1904 e 1972 chegaram ao Brasil: 1 milhão e 240 mil portugueses 505 mil espanhóis, 484 mil italinanos, 248 mil japoneses e 171 mil alemães. Com números menos expressivos aportaram outros europeus.

Os espanhóis fixaram-se principalmente em São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Rio Grande do Sul.

 

A partir de 1908 deu-se início, à entrada de japoneses visando substituir a emigração de italianos cujo governo criava dificuldades à sua saída. Mais uma vez estes se destinaram aos cafezais de São Paulo. Os japoneses instalaram-se, inicialmente em São Paulo e depois no Pará.

 

O início do século XX trouxe grandes quantidades de portugueses pobres para o Brasil, que se instalaram nas cidades, principalmente de São Paulo e Rio de Janeiro onde se dedicaram ao pequeno comércio ou alinharam nas fileiras dos operários das indústrias que então nasciam. Neste período também afluíam ao Rio de Janeiro ex-escravos e nordestinos que fugiam aos efeitos da rigorosa seca.

 

Já no final do século XIX e princípio do século XX chegaram ao país árabes, principalmente Sírios e Libaneses, que, inicialmente, trabalharam como mascates que percorriam cidades e fazendas para venderem os seus produtos mas que, com o tempo, criaram pequenas lojas comerciais (armarinhos), no entanto, devido ao seu espírito empreendedor e mercantil, rápidamente se transformaram em grandes empresários. É notória a presença dos seus descendentes na política e na medicina. Sírios e Libaneses distribuíram-se por todo o território nacional dedicando-se a actividades empresariais urbanas como comércio e indústria. Também os arménios acompanharam integraram esta "leva" de imigração.

O advento da Segunda Guerra Mundial trouxe, para o Brasil, Judeus, principalmente alemães, espanhóis e italianos, que se instalaram no sul e sudeste dedicando-se ao comércio e indústria.

Nas décadas de 60 e 70, século XX, chegaram os chineses (Taiwan) e os coreanos que se dedicaram ao comércio principalmente em São Paulo. Na década de 1970 houve um novo vaga de imigrantes oriundos da Coreia do Sul, China, Argentina, Bolívia, Peru, Paraguai, Chile e de países africanos.

Na década de 1980 o “país”, devido à situação politico-económica, passa a emigrar procurando melhores condições de vida, nomeadamente nos países europeus de entre os quais se destaca Portugal pelas afinidades e semelhanças linguística e cultural.

 

Ainda de referir que, nos "dias de hoje" há, no Brasil, emigração de bolivianos e também de colombianos que se deslocam para o Brasil para fugirem ao conflito armado que se vive no seu país.

 

Para terminar ainda uma referência à actual imigração haitiana na sequência da presença do Brasil na Missão das Nações Unidas para a Estabilização no Haiti.

Imigrantes do Senegal aproveitam a rota aberta pelo Acre para entrarem no país deslocando-se principalmente para o Rio Grande do Sul.

 

Em 2012 o Brasil deu início a um programa de incentivos à imigração de mão-de-obra qualificada que possa contribuir para baixar os custos de produção, introduzir novas tecnologias e inovação e que incremente um cenário de maior pluralidade e meritocracia. Também questões do foro do controle da qualidade e preservação do ambiente mostram a falta de técnicos qualificados e evidenciam a necessidade de recrutamento no exterior, o avanço tecnológico não se compadece com o tempo, e de formação de cidadãos nacionais em maior número.

 

 

Nota pessoal: Em meados de 1700, uma parte da família Varel(l)a, originária da Corunha – Galiza/Espanha, emigra para o Brasil estabelecendo-se em Extremox, hoje Município de Ceará Mirim, Rio Grande do Norte. Familia muito grande e rica, proprietários de engenhos e fazendas, que, com o fim da monarquia, se deslocaram para outros estados de entre os quais Amazonas (Manaus) onde se dedicaram aos seringais (cultivo e comercialização da borracha). Em 1918, Flávio Pereira Varela, avô materno do autor emigrou, juntamente com a mãe e irmãos, para Portugal.

 

Por: Carlos Varela Luc

carlosvarelaluc@gmail.com

 

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