Brinquedos são nós (Toys are us) - Como meninos, meninas e outros primatas brincam

Brinquedos são nós (Toys are us) - Como meninos, meninas e outros primatas brincam

Na obra de Waal (2022) (W) sobre Diferente (gênero aos olhos de primatólogo), vamos estudar como meninos e meninas brincam. Conta que, numa manhã, através do binóculo, observou Amber andando na ilha em postura manca, como duas pernas e um braço. Estava agarrada à parte superior de uma vassoura macia contra sua barriga, segurando com uma mão, exatamente como uma mãe segura o recém nascido ainda pequeno demais para se segurar sozinho. Amber – nome tem a ver com seus olhos – era uma fêmea adolescente na colônia de chimpanzés Zoo de Burgers. Um dos cuidadores deve ter acidentalmente deixando uma vassoura e Amber arrancou o cabo e ocasionalmente ajeitou a parte da escova e andava com ela posicionada na parte baixa das costas como uma mãe carregando uma cria mais velha. À noite, enrolava-se nela em seu ninho de palha. Segurou a vassoura por semanas. Ao invés de cuidar dos infantes de outras mães, agora tinha seu próprio, mesmo irreal. 



I. DIFERENÇAS



Quando macacos recebem bonecas para brincar, uma de duas coisas vão ocorrer. Se um jovem macho pega, vai estraçalhar – mormente por curiosidade de ver o que tem dentro, mas por vezes por competição. Quando dois machos puxam uma boneca, cada um fica com um pedaço. Nas mãos de machos, brinquedos raramente duram. Se uma fêmea ganha uma boneca, por outra, vai adotá-la logo e tratar gentilmente – vai cuidar dela (W:19). Uma fêmea juvenil chimpanzé (Georgia) uma vez entrou numa área interna com um urso Teddy que estavam carregando por dias. W a conhecia bem e quis ver se ela o deixaria segurar o urso. Esticou a mão aberta solicitando, um gesto que os macacos usam. Havia barras no meio, e Georgia entrou em conflito. Tirou o urso. Então W sentou no chão para indicar que não iria levar embora. Então empurrou o urso para ele, mas segurando firma numa das pernas. Deixou que W inspecionasse e falasse a ele, mas observando atentamente. Quando devolveu, formou-se ligação de confiança; ela embalou apertado seu urso ficando perto de W. 

Muita literatura de primata está cheia de macacos em cuidado humano – quase todos fêmeas – que cuidar de bonecas recebidas. Carregam para todo lado, colocam nas costas e encostam a boca nos mamilos, como se estivessem amamentando; ou como Koko, a gorila da linguagem de sinal, beijam suas bonecas para boa-noite uma a uma, e depois fazem uma rodada e que todas se beijam (Matevia et alii, 2002). Outro macaco treinado em linguagem, o chimpanzé Washoe, uma usou sua boneca como um porquinho da Índia. Ao notar que uma novo capacho à porta tinha sido instalado, saltou para trás horrorizada. Agarrou a boneca e, de uma distância segura, empurrou para o capacho. Monitorou a situação  por minutos, para ver se acontecia algo, então tirou do capacho e inspecionou atentamente. Vendo que não havia nada errado, acalmou-se e atravessou o capacho (Fouts, 1997). 

Dizem que as pessoas socializam meninos e meninas via escolhas de brinquedos. Empurrando nossos preconceitos neles, moldamos seus papeis de gênero. A ideia é que crianças são tabulas rasas preenchidas pelo ambiente. Enquanto é correto que muitos aspectos do gênero são culturalmente definidos, nem todos são. Já que brinquedos são centrais para este debate, são excelente ponto de partida. A indústria de brinquedo nos estatuem o que nossas filhas e filhos necessitam, mas mesmo que comprássemos a loja toda, ainda estaria nas mãos das crianças qual brinquedo pegar. Eia a beleza do jogo: depende do jogador. “É melhor apenas observar as crianças se entretendo com suas encenações e imaginação e manter-se aberto à possibilidade de que, ao invés de nós os moldarmos, eles nos moldam” (W:20). Quando brinquedos de crianças são dados a macacos, carrinhos de rodas acabem, na maior parte, nas mãos de jovens macacos e as bonecas em jovens fêmeas. A diferença foi instigada pela falte de interesse masculino em bonecas. 

Judith Harris, psicóloga de ponta americana, viu a influência paterna como mera ilusão para se sentir bem. Em seu The Nurture Assumption: Why children turn out the way They do, disse claramente: “Sim, pais compram caminhões para seus filhos e bonecas para suas filhas, mas quiçá tenham boa razão: pode ser que seja isto que as crianças querem” (1998:219). Quando W observou Amber com seu filhote-vassoura, parecia evidente que ela queria uma boneca. Será típico de fêmeas primatas? Quando cientistas testaram brinquedos em macacos, suas escolhas se mostraram tudo menos neutras em relação ao sexo. No primeiro experimento, conduzido há 20 anos em U. of California em Los Angeles, Alexander & Hines deram a macacos alistados um carro de polícia, uma bola, uma boneca de pelúcia e alguns outros brinquedos. Certamente, foi um cenário restrito, repleto de postulados do que tais objetos poderiam significar para macacos. W prefere experimentos inspirados pelo comportamento real dos animais, ao invés de por nossa tendência antropocêntrica de inocular problemas humanos. Mesmo assim, o que ocorreu?

Os macacos reproduziram as preferências baseadas em sexo das crianças humanas. Brinquedos de transporte, como carros, foram manipulado mais por machos, que os moviam pelo chão. Machos também gostavam de bola. Bonecas, por outra, eram carregadas mais por fêmeas, que as pegavam para segurar apertado ou dar uma olhada na região genital. É a curiosidade de saber as genitais de recém nascidos. É comum que fêmeas se ajuntam em torno da nova mãe para abrir as pernas do infante se contorcendo, cutucando, puxando e cheirando num coro de grunhidos suaves e lambidas. Parecem concordar na importância dessa parte do corpo. Primatas estiveram fazendo isso por séculos, bem ates de inventarmos as partes ‘reveladores do gênero’ (Alexander & Hines, 2002). Este estudo não apresentou todos os brinquedos ao mesmo tempo, então os macacos não fizeram realmente escolhas. O que sabemos é o quanto brincaram com cada brinquedo. Um segundo estudo, usando resos em Field Station de Yerkes National Primate Research Center perto de Atlanta, superou esta lacuna. Como W trabalha lá, observa todos os dias. Pelo ano afora, vivem fora em currais grandes cercados, onde se envolvem em disputas ruidosas, se ajuntam para se paparicar e fazem sessões selvagens de jogo. Embora tenham muito que fazer, brinquedos novos capturam sua atenção. Wallen, colega em Emory U. e sua estudante de pós Hassett, deram a um grupo de 135 macacos dois tipos de brinquedos para ver qual pegariam. Deram os brinquedos simultaneamente: brinquedos fofos de pelúcia, como bonecas e alguns com rodas, como carros (Hassett et alii, 2008). 

Machos se interessaram pelos brinquedos com rodas. Mostraram mente mais linear do que fêmeas, que gostaram de todos os brinquedos, também de carros. Dada a indiferença máscula a brinquedos de pelúcia, a maioria acabou nas mãos das fêmeas. Crianças são assim também: meninos têm preferências mais acentuadas. Explicação comum é que meninos são se veem confortáveis em portar-se de modo feminino, enquanto meninas se preocupam menos em parecerem masculinas. Mas faltando evidência de que macacos se preocupam com percepção de gênero, é improvável que sintam o mesmo desconforto que meninos são pressupostos ter. A realidade pode ser mais linear: bonecas podem apenas não ter apelo à maioria dos meninos e primatas machos. 



II. PONDERANDO



O cenário dos experimentos é estranho, já apresentaram aos macacos itens artificiais com os quais não estavam habituados. Esta dissonância se aplicava mormente as caminhões. Veículos coloridos de plástico ou metal não se parecem com nada no habitat natural. Ficaram os macacos fascinados por objetos móveis que provocam ação, como bolas ou carros? Machos tem nível elevado de energia e gosta de encenação física. É mais fácil explicar que fêmeas brincaram com brinquedos de pelúcia abraçáveis. Bonecas têm um corpo, cabeça e membros, que as torna similares a seus bebês. As fêmeas vão passar o resto de suas vidas cuidando de infantes, enquanto os machos não (Williams & Pleil, 2008). W exemplifica com como se portava quando criança: nunca brincou de boneca, mesmo que sua mãe tivesse algumas para os irmãos. Preferia brincar com um buldogue estofado grande, mas nunca dormiu com ele e por vezes o atirava longe quando fazia box. Os itens preferenciais foram lápis e papel, pois gostava de desenhar e construir materiais, como Erector Set (brinquedo para construções) e trens elétricos. O maior interesse, de longe, eram animais. Não sabe dizer quando isso começou, mas desde pequeno, coletava rãs, gafanhotos e peixe. Criou filhos de corvo e um pombo que caíra do ninho. Em muitos sábados pegou a rede de pesca e, de bicicleta, visitava valas onde podia capturar salamandras, carapaus, enguias de vidro, girinos, amargos (peixinho colorido de aquário) etc. O objetivo era mantê-los vivos e acabou tendo minizoo numa cabana atrás da casa com tanques de peixe, multiplicando ratos, pássaros e um gato adotado. Não tinha cão, mas um cão grande vizinho virou amigo e estava muitas vezes por perto. Gostava do cheiro de animais, bem com ode sua companhia. Até hoje. 

De onde viria isso na escala da socialização via brinquedo? Animais se movem, como carros, mas também exigem cuidado, como bonecas. Como sua família não o empurrou nesta direção e, no máximo, tolerava sua obsessão, na verdade se autossocializou: uma contradição aparente nos termos. Sonhava com seus animais e como poderia fazer seu aquário próprio, ou onde poderia soltar seus filhotes pássaros. Foi na direção inexorável de amante dos animais, o que pôs o fundamento para a profissão atual. Afeição por animais não é questão de gênero, pois é comum em meninos e meninas, homens e mulheres. Nunca perdeu tempo em matutar se os interesses eram suficientemente masculinos. Suécia, nação que oficialmente promove igualdade de gênero, uma vez pressionou uma empresa de brinquedo a mudar seu catálogo de natal, para apresentar a meninos com uma Barbie Dream House e meninas com armas e figuras de ação (Sommers, 2012). Quando o psicólogo sueco Nelson pediu a crianças de três a cinco anos para mostrarem suas coleções de brinquedos, as coisas se mostram bem diferentes. Quase toda criança tinha seu quarto com a média de 532 brinquedos. Vasculhando 152 quartos e classificando os brinquedos, Nelson concluiu que as coleções refletiam exatamente os mesmos estereótipos de outros países. Os meninos tinham mais ferramentas, veículos e jogos, e meninas mais itens domésticos, trecos de cuidado e equipamentos. Suas preferências se mostraram imunes ao etos da igualdade da sociedade sueca. Estudos em outros países confirmam que tais atitudes dos pais têm pouco ou nenhum impacto nas preferências por brinquedos dos filhos (Turner & Gervai, 1995. Nelson, 2005). 

Meninos vão transformar brinquedo em arma a partir do nada, bonecas em armamento pulverizador, casa de boneca em garagem... Meninos brincam no barulho. Jogo não pode ser imposto. Dando um trem a uma menina, ela o leva para dormir e coloca uma carrinho de bebê e cobre com algum pano, antes de fazer andar pelo chão. É como com nossos animais de estimação – trazemos a eles brinquedos de fantasia, mas preferem mastigar um velho sapato e caçar uma rolha que deixamos cair na cozinha. A escritora de ciência americana, Blum, silenciosamente se desesperava pela tendência teimosa dos jovens de brincar com o que queriam: “Meu filho Marcus apaixonadamente cobiça armamento de brinquedo. Impedido de ter uma pistola plástica barulhenta pela mãe intolerante a armamento, compensou-se em construir armamentos de qualquer coisa, desde argila até utensílios de cozinha. Observei-o perseguir o gato, correr em torno da casa e gritar “Mate-o com uma escova de dente”! e me desesperava” (1997:145). 



III. PREFERÊNCIA BIOLÓGICA



Há três modos de achar se uma preferência humana tem origem biológica (W:24). O primeiro é comparar-nos com outros primatas que não têm vieses culturais. O segundo é observar número grande de culturas humanas para ver quais preferências seriam universais. Terceiro é testar crianças bem cedo na vida a ponto de a cultura ainda não ser influência decisiva. Com o background de W, prefere o primeiro método. Tomando em conta os experimentos acima de brinquedo de preferência, podemos nos surpreender se as mesmas tendências são achadas nos primatas destituídos de influência humana. Os primatólogos Kahlenberg e Wrangham reportam comportamento de chimpanzés selvagens que lembram Amber e sua vassoura. Em 14 anos de trabalho de campo em Kibale National Park em Uganda, documentaram muitas ocasiões de jovens chimpanzés segurando rochas ou pedaços de pau que parecia como se estivessem portando infantes. Tal comportamento era três ou quatro vezes mais comum em fêmeas do que em machos. Podem colocar sua rocha de estimação de lado enquanto forrageiam, mas logo pegam de novo antes de se locomover para outro lugar. Por vezes, seguram a rocha ou pau enquanto dormem no ninho ou até armam um ninho para eles. Fêmeas brincam carinhosamente com os itens, como se estivessem lidando com filhote, enquanto machos são menos ternos e por vezes chutam a roca do mesmo jeito que se chutam. Tal comportamento não reflete imitação das mães, pois as mães nunca carregam rochas ou paus. As fêmeas jovens deixam de fazer isso, tão logo tenham seu primeiro bebê (Kahlenberg & Wrangham, 2010. Hogenboom & Pirak, 2019). 

Na Guiné, uma chipanzé de oito anos (pré-pubertária) irmão de um bebê seriamente enformo seguia sua mãe na selva. O primatólogo japonês, Matsuzawa disse que, para sua surpresa, a mãe atordoada uma vez “estendeu seu braço para tocar a fronte do bebê. Parecia medir a febre”. Quando morreu, não queria abandonar o cadáver e o levou consigo por dias, até virar uma múmia ressecada. Espantava as moscas. Talvez simpatizando com a situação trágica da mãe, a filha desenvolveu o hábito de carregar um galho curto nos ombros ou sob o braço como um bebê. Uma vez colocou no chão e “esbofeteou o galho com uma mão várias vezes, como se estivesse fazendo isso com um bebê”. Matsuzawa interpretou o comportamento da jovem como imitando mãe. Comparou com o povo Manon na aldeia próxima de Bossou, onde meninas imitam mães com recém-nascidos, andando com uma boneca de pau aposta às costas (Matsuzawa, 1997). A última observação se relaciona ao segundo modo para determinar se preferências humanas são biológicas: observar uma variedade de culturas para ver quais seriam universais. Acham-se na humanidade inteira? Infelizmente, temos pouca informação cruzando culturais sobre comportamento infantil. Há bem poucos estudos nas sociedades industriais, mas obviamente seria o caso ter o teste de muitas culturas. O único estudo que cobriu um mix diverso cultural achou que recém nascidos apelam muito mais a meninas do que a meninos. Meninas tipicamente ajudam a cuidar dos irmãos menores. Fazem isso sob a vigilância das mães, enquanto meninos brincam longe de casa (Edwards, 1993). 

Até mesmo o livro de 1949 (Male and Female) da antropóloga mais celebrada no século passado, Mead, diz bem pouco sobre brinquedo de criança. Ela entrevistou 25 meninas adolescentes – não meninos – de várias culturas insulares do Pacífico. Brinquedos não foram parte do relato. Para Mead, a fonte da socialização não era jogo das crianças, mas o modo como adultos falam sobre homens, mulheres e suas interações existenciais. O trabalho de Mead é o chão zero para socialização de gênero, pois mostrou quão variáveis são os papeis sexuais. Inspirou pleitos de que os papeis são na maioria ou inteiramente culturais. Relendo o texto de Mead, W já não se sente convencido. Ela discute muitas verdades pelo mundo sobre ser macho ou fêmea. Por exemplo, pleiteia que meninas são sempre mantidas mais perto de casa e permanentemente vestidas, enquanto meninos da mesma idade podem andar nus e têm liberdade de mover-se. Um menino aprende que tem longo caminho a andar se pretender ser “o homem que pode ganhar e manter uma mulher num mundo cheio de outros homens”. Mead frisa a universalidade da competição masculina, alegando que “em toda sociedade humana conhecida, a necessidade do macho por realização pode ser reconhecida”. Homens, para se sentiram realizados e exitosos, carecem de excelência em algo – ser melhores nisso em relação a outros homens e melhores do que as mulheres (Mead, 2001:97;145-48). 

Toda civilização é levada a oferecer aos homens oportunidades de se realizarem em seu potencial. Recente survey de 70 países diferentes confirmou a diferença. Universalmente, homens valoram mais independência, autoengrandecimento e status, enquanto mulheres sublinham o bem-estar e segurança de seu círculo interno, bem como as pessoas em geral (Schwartz & Rubel, 2005). Para se sentirem realizadas, mulheres sempre têm sempre seu potencial biológico de dar à luz. É a coisa que podem fazer, que homens não podem. O papel da mãe é tão vital à sociedade e tão realizador que Mead pensou no ressentimento dos homens em não ter tal habilidade. Cunhou a alocução “inveja do útero, como contragolpe ao dito de Freud “inveja do pênis”. Mais avançada na idade, Mead lamentou sua ênfase unilateral na cultura. No prefácio à edição de 1962 do livro, anotou: “Colocaria, se escrevesse hoje, mais ênfase na herança específica biológica do homem desde as primeiras formas humanas” (2001:xxxi). No terceiro modo de avaliar o papel da biologia, observa-se que logo depois de uma criança nascer, temos uma janela de tempo para testar, antes que expectativas de gêneros sejam inculcadas. Quando meninos e meninas de 1 ano veem vídeos de carros correndo e faces falando, os meninos olham mais os primeiros e meninas as segundas. Mas já que os bebês já podem estar influenciados pela cultura do brinquedo, um estudo posterior observou infantes em idade mais cedo possível. Testaram neonatos de um dia na maternidade e um hospital inglês perto de sua mãe exaurida. Os bebês viram ou a face do experimentador ou uma objeto similar colorido que não era uma face. Codificadores cegos ao sexo do bebê notaram meninas olhavam mais para a face e meninos para o objeto, sugerindo que desde a primeira hora meninas estão orientadas mais socialmente (Connellan et alii, 2000. Lutchmaya & Baron-Cohen, 2002). 

Preferências por brinquedo, ademais, aparecem tão cedo na vida e são tão pervasivas que revisão recente cobrindo 787 meninos e 813 meninas das culturas ocidentais concluiu: “A despeito da variação metodológica na escolha e número de brinquedos oferecidos, contexto do teste e idade da criança, a consistência em achar diferenças sexuais em preferências infantis por brinquedos tipificadas por seu gênero indica a força do fenômeno e a probabilidade de que tenha origem biológica” (Todd et alii, 2018). No entanto, cor é outra questão. Testando infantes com 18 meses numa variedade de imagens, meninos olharam mais para carros e meninas para bonecas, mas a cor não teve efeito. As crianças não mostraram preferência por rosa ou azul. Crianças pequenas ainda não estão sob o jugo das cores e vestes das indústrias de brinquedo. Em um tempo, as cores tinham valor invertido. Inicialmente, todos os infantes vestiam branco, mas fácil de limpar e branquear. U artigo de 1918 em Earnsshaw’s infants’ Department introduziu as primeiras cores pastéis, alegando: “A regra geralmente aceita é rosa para meninos e azul para meninas. A razão é que rosa, sendo cor mais decidida e forte, convém mais ao menino, enquanto azul, mais delicado, convém mais à menina”. Só recentemente o Ocidente mudou os lados binários. Se cores agora são tão importantes para as crianças – meninas recusam azul e meninos rosa, e pais se alvoroçam em ‘perverter’ os filhos vestindo-os com cor ‘errada’ – é algo puramente cultural” (Jadva et alii, 2010. Maglaty, 2011). No mínimo, sugere W, há melhor evidência de que cultura afeta preferências por cores do que preferências por brinquedo. 



CONCLUSÃO



A busca por traços universais mantém um problema de generalização excessiva. Pode haver traços ubíquos, encontrados por toda parte. Mas não significa necessariamente algo universal, porque não há como fazer um teste universal, muito menos no passado e menos ainda garantir que o futuro não vai mudar. É o limite da indução, já muito discutido por Popper. Há certamente padrões recorrentes evolucionários, mas estão sempre em andamento. Então, não sabemos o que é mais comum: um traço constante ou sua variação. Epistemologicamente, não resolvemos a questão: costumamos captar a variação por sua invariância (estrutura, recorrência, lei, regularidade); poderíamos tentar captar ao inverso. O que é mais importante: o que fica ou o que muda? Se só permanece o que muda, facilmente se conclui que a mudança é mais típica. Ademais, os limites biológicos podem ser fluidos, como hoje aceitamos preferências sexuais não canônicas e até reconhecemos casamento do mesmo sexo, algo muito impensável em outros tempos. Como não nascemos no limbo, mas numa cultura concreta, não somos tabula rasa: chegamos ao mundo já marcados pela cultura, não havendo como colocar a questão de um ser humano liberado de sua cultura. Daí, provavelmente, a cautela de W em ficar parâmetros. 



REFERÊNCIAS



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Joaquim Dezidério Neto

Executivo & Pesquisador Sênior / Especialista em Gestão & Recursos Humanos. / Consultor de Gestão & Desenvolvimento Empresarial. / Agronegócios / Conselheiro de Organizações. / Jornalista.

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Agradecemos a publicação!!! Parabéns!! Prof. Dr. Renan Antônio da Silva; Pelo seu magnífico trabalho e realizações em sua trajetória profissional e pessoal de Vida.

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