Mulheres como símbolos políticos
Na obra de Graeber (2023) (G) sobre Iluminismo pirata (Libertalia), vamos estudar mulheres como símbolos políticos. Reconhece logo que a evidência disponível não parece prover qualquer suporte explícito para esta interpretação. Cita o registro próprio, em si lacônico, de Baldridge de sua primeira estada em Sainte-Marie, de um testemunho que depois faria em N. York. O navio em que viera em abril de 1691 ou deixou com alguns outros homens; sendo mero jovem aprendiz, logo sucumbiu às febres. Baldridge e seu assistente instantaneamente se fizeram voluntários para atender aos novos vizinhos num assalto contra alguns vizinhos em terra firma: “Continuei com os negros em St. Maries e fui à guerra com eles... Em maio de 1691 voltei da guerra e trazia 70 cabeças de gado e alguns escravos. Então tinha uma casa construída e me assentei em St. Maries, onde um grande estoque de negros recorreu a mim a partir da Ilha de Madagascar e colonizaram a ilha de St. Maries, onde eu vivia tranquilamente com eles, ajudando-os a resgatar suas esposas e filhos que foram tomados antes de minha chegada a St. Maries por outros negros na direção norte a 60 léguas” (Fox, 2014:345).
I. CONTEXTO POPULACIONAL
Não fica claro que, primeiro, estava lutando contra quem, mas Baldridge parece ter-se casado não com os Zafy Ibrahim, mas com um clã de refugiados de Antongil, a grande baía ao norte. Alguns anos depois Watson, que passou algumas semanas em Sainte-Marie, testemunhou que havia ‘dois velhos piratas’, Baldridge e certo Johnston, que supriam saqueadores de passagem com comida e munição ‘sob o disfarce de comerciar negros escravos com Madagascar’: “Esses dois homens são casados com mulheres do interior, e muitos dos outros em Madagascar. Têm um tipo de fortificação de sete ou oito armas em St. Mary. Seu propósito em casar com mulheres do interior é engraçar-se com os habitantes, com quem vão à guerra contra outros reizinhos. Se um inglês vai com um príncipe com quem vive para a guerra, tem metade dos escravos que consegue pegar com seu esforço” (Id.:178). A alocução ‘o príncipe com quem vive’ parece significar – em muitos desses casos iniciais, pareceria, colonos piratas casavam-se com filhas de homens importantes e eventualmente fixavam residência com eles, ou no porto de Sainte-Marie, ou em terra firme. Especialmente durante os primeiros seis ou sete anos quando ainda estavam sob pressão para prover o mercado de escravos de N. York e Mauritius, claramente tiravam vantagem desses conflitos excepcionais – claro, com sucesso apenas aproximado – para obter cativos para vender fora.
Então, quem eram esses ‘reis’ e ‘príncipes’ locais sempre referenciados nos relatos de fora? Cabanes (1982. Esoavelomandroso, 1979:41-43. Mangalaza, 1994:22-25) fez estudo meticuloso de todos os relatos existentes de viajantes do nordeste em dois séculos antes do surgimento de Betsimisaraka Confederation emergir como reconstrução plausível de como a sociedade, no nordeste, realmente funcionava. A grande maioria, então e hoje, da população do que é agora território de Betsimisaraka vivia em vários vales de rios da costa, considerados alguns dos mais férteis na ilha. Eram divididos em quiçá 50 clãs com casamento interno, chamados tariky, cada qual com talvez seiscentos e dezesseis pessoas, cada qual com seu território próprio. O grão principal era arroz, na maior parte cultivado em plantações itinerantes na floresta, os tavy, regularmente redistribuídos, ou mais intensivamente em pântanos, que tendiam a ser atribuídos aos filoha (‘chefes’) das linhagens. Em toda aldeia, havia um Grande Hall onde todos comiam seu almoço juntos, e celeiros coletivos onde cada família podia retirar em caso de falta. É por que que Flacourt escreveu não haver rico ou pobre entre eles (G:L971).
Não era, contudo, uma sociedade igualitária. Enquanto todos tinham acesso aos meios para sustentar a vida, nem todos tinha acesso igual aos meios para a criar. Assim como os chefes das aldeias tinham muitas esposas, também cada clã tinha linhagem dominante, chefiada por um filohabe, ou ‘grande chefe’, que conseguia manter proporção ampla de suas filhas para si (ou casando-as endogamicamente, ou trazendo maridos para elas de outras linhagens). No entanto, tais linhagens centrais eram, de algum modo, montagens improvisadas, sempre na iminência de se esfacelar. Linhagens subordinadas apegadas via filhas tinham a tendência de se tornar desapontadas, separadas ou fundavam seu próprio clã. Não era difícil. Terra nunca faltava. O problema político principal para um filohabe era portanto impedir que isto ocorres, o que exigia manipulação constante de um recurso chave que estava escasso: gado. As florestas do litoral leste poderiam ter sido férteis e pouco povoadas, mas não eram muito salubres para criar gado; ainda, gado era absolutamente crucial, primeiro ara resolver disputas (todas as brigas eram solucionadas via multas e todas implicavam bois), segundo para manter festas sacrificiais comunais que criavam ancestrais (ainda hoje) (Cole, 1977; 2001), e terceiro para ostentar a riqueza e poder de todo clã aos outros.
Europeus observadores muitas vezes se referiam a filohabe como ‘reis’ e notavam que estavam frequentemente em guerra entre si. Num lado, a designação não é inteiramente incompreensível. Tendiam eles a viver em casas luxuosas, muitas vezes cheias de porcelana chinesa e vasos de vidro do Oriente Médio, cercados de esposas e servos. Mas o argumento de Cabanes é que em que guerra se fazia não garantia traduzir-se em dominação local, muito menos regional (Cabanes, 1982). Todo clã que acumulava gado demais provocava assaltos noturnos de vizinhos filoha, para pegar gado ou cativos (em geral mulheres e crianças) para permutar com gado. Por vezes, isto escalava para batalhas arranjadas e previstas entre exércitos de dois filohabe, que acabavam após a morte de um ou dois combatentes, via negociações elaboradas para permuta de prisioneiros e redistribuição do gado. Todos os prisioneiros não podiam sempre ser resgatados, e assim alguns iriam desfalecer, usualmente em alguma residência de filoha, como escravos, até que suas famílias pudessem ter os recursos para os reaver. Mas nem isso realmente levava a desigualdades permanentes, já que, como Flacourt observou (1650:23), prisioneiros não resgatados eram ultimamente adotados e casados dentro das linhagens dominantes.
II. GUERRA COMO REPRODUÇÃO SOCIAL
Cabanes (1982) propõe que guerra se tornou “meio de reprodução social” para o sistema de linhagem. A alocução é um pouco enganosa, já que realmente não indica ser necessária para os clãs manterem guerra para obter meios de casar, reproduzir ou criar ancestrais, mas, ao contrário, como Clastres verificou na Amazônia (1977), que guerra garantia que grupos se mantivessem pequenos e seus líderes incapazes de acumular genuíno poder coercitivo. Parece verdadeiro que mesmo o mais poderoso filohabe não tinha habilidade de dar ordens a quem estivesse fora de seus aposentos, exceto na condução da guerra. Decisões sobre questões comunais eram feitas por processo elaborado de busca de consenso em assembleias chamadas kabary, seja de aldeais, clãs ou, em caso de questões de importância maior (digamos, potencial invasão de fora, a vista de um navio europeu na costa), regionalmente. Disse Mayeur: “Então há a grande kabary da província e povos. Os líderes chegam armados com espada e escudo e equipamento militar. A memória do título e qualidade desses líderes, seus números e os números de seguidores que a curiosidade os puxou para as assembleias solenes e motivados a falar, nunca deixa as mentes dos habitantes e é algo momentoso em suas tradições. Estes tipos de kabary são mantidos em lugares capazes de receber uma grande multidão, usualmente no centro das províncias e perto das aldeias maiores... Encontros eram costumeiramente espontâneos. Surgindo boato de algum evento, uma pequena kabary se formava e espalhava o boato para todas as bocas. Então todos movidos por curiosidade viam de suas aldeias, buscando e se aproximando do centro das comunicações e a kabary ocorria quando se encontravam cercados de todas as pessoas importantes do país. provisões eram trazidas, pois ninguém sabia quando podiam voltar” (Mayeur, 1806:200). Deliberações podiam demorar dias. Se a situação justificasse, um chefe de guerra, capaz de liderar as forças de uma confederação temporária de clãs, poderia ser eleito para manejar a situação. Temos de imaginar que tais assembleias eram reunidas para coordenar comércio de gado e arroz com navios portugueses e holandeses que começavam a aparecer na costa no século 16 e depois tomar decisão de destruir os vários postos avançados militares que ocasionalmente tentavam erigir. Uma kabary tão grande deve ter sido convocada para tomar decisão de lançar ataques coordenados aos piratas em 1697.
Na literatura acadêmica sobre Madagascar, o ensaio de Cabanes é visto como marco crucial, modelo de análise histórica teoricamente informada. Bem merecido; mas, superestima claramente o igualitarismo da sociedade em questão. Primeiro, ignora completamente o papel dos Zafy Ibrahim e outros especialistas rituais (como veremos havia também alguns astrólogos e mágicos Zafiraminia e Antemoro na área também). Se gado era a ‘mídia da comunicação’ (Cabanes, 1982), como ele diz, entre linhagens, então certamente era significativo que podiam ser sacrificados apenas pelos membros de uma casta especializada. Segundo, há evidência – o texto de Mayeur por exemplo o torna bem claro – que os vários filoha, filohabe e sua entourage guerreira os viam como constituindo um tipo de aristocracia. No manuscrito de Ratsimilaho são regularmente referenciados como mpanjaka, ‘reis’, e tradições orais tenderiam a confirmar isto, já que quase invariavelmente contam a estória desse período inicial (Fanony, 1976) como dos feitos de ‘reis’. E enquanto é verdade que clãs não eram ranqueados, mpanjaka eram: assim, por exemplo, ouvimos num ponto que Ratsimilaho selecionou como seus correios “jovens homens escolhidos da família de Mpanjaka de classe primeira, segunda e terceira” (Mayeur, 1806:293) e é ocasionalmente anotado que a própria mãe de Ratsimilaho era filha única de um mpanjaka de uma segunda ordem de nobreza (Id.:197;214;223-4). Não sabemos a base do sistema de ranqueamento, mas que essas três ordens se refiram apenas a chefes de guerra, chefes de clãs e chefes de aldeias, sua existência demonstra que divisões dentro de um clã podiam traduzir-se em algo como aristocracia graduada reconhecida fora do próprio clã.
Finalmente – e é isto que importa – tal qual Clastres, Cabanes frisa como guerra tendia a solapar o controle dos homens sobre outros homens, enquanto ao mesmo tempo reforçava seu controle sobre as mulheres. Mulheres parecem apenas como símbolos de troca, ou riqueza a ser acumulada. Enquanto parece ter havido pouco esforço para controlar a sexualidade das mulheres, muito deste aparato agiu, direta ou indiretamente, para controlar a fertilidade. Mulheres eram sequestradas, resgatadas, apegadas a linhagens dominantes, mas raramente aparecem como atoras de pleno direito. Mais que isso, o primeiro impulso desses vários mpanjaka quando lidavam com piratas, era estender as mulheres e meninas de sua linhagem como um tipo de meio de troca – presumivelmente, primeiro, como modo de ganhar vantagem sobre os Zafy Ibrahim. Retornemos ao registro de Downing de novo, já que ele nos dá a primeira descrição escrita da prática. Em 18 de abril, a tripulação de Downing ancorou perto de Sainte-Marie, como parte de uma missão para identificar e erradicar piratas restantes. Acharam o velho forte em ruínas, e que os piratas tinham vastamente abandonado a ilha para a terra firme. O ‘rei’ local – aparentemente não dos Zafy Ibrahim, já que esta linhagem parece nesta época ter sido afastada muito da ilha (Gentil da la Galaisière, 1779:537) – saudou-os entusiasticamente: “Nos 1900, perto da tarde, o rei e príncipe, e as duas filhas do rei vieram a bordo. O rei ofereceu ao capitação suas duas filhas como presente, sendo que tinham o hábito de oferecer entre os piratas; pois pensavam que eram todos iguais: mas embora o capitação recusasse este tipo de oferta, as senhoritas foram aceitas por alguns dos oficiais, que pagaram caro pela honraria; pois custava uma delas sua vida e a outra era bem apimentada. O rei deu ao capitão e aos tenentes uma oferta para virem à praia, e ao descerem, o rei os fez jurar pelo Mar que seriam amigos e não os molestariam; a para confirmação ulterior, compeliram a cada um deles a beberem um copo Salt Water, misturada com pólvora, em sinal de amizade; esta era uma cerimônia aprendia dos piratas” (Downing, 1737:92-3).
Este texto é revelador de muitos modos, mas o ponto chave aqui é que oferta das filhas da terra, se assim podemos chamar, parece ter-se originado como parte de uma cerimônia de amizade entre mpanjaka local e piratas visitantes, e que logo se tornou traço regular nas boas-vindas de comerciantes estrangeiros e outros visitantes. Duas coisas que quase todos os observadores estrangeiros notaram, em tais casos, foram o nascimento elevado de mulheres oferecidas e sua juventude (Bois, 1997:3-5. Rantoandro, 2001:109-10). Por exemplo, em 1823, quando o viajante francês Leguével de Lacombe chegou à cidade costeira de Andevoranto, foi saudado na primeira manhã por um círculo de dançarinas, com uma performance na qual ‘elas muitas vezes se aproximavam de mim, sem parar seus movimentos e gestos que não eram nada ambíguos” (1840:179-82). Tendo sido informado ser impolido não escolher uma como parceira sexual, ele apontou para uma que achou ser a mais velha, uma de duas filhas do filoha local, que estimou ter mais que 16 anos de idade, e isto foi saudado com grito grande de alegria de seus pais (Id.:179-82). Esta estória, também, ao final, terminou com um juramento de irmandade de sangue entre os estrangeiros e (no caso) um dos membros da família da menina.
III. ESPECULANDO
Por que, então, as filhas jovens do mpanjaka? Presumivelmente porque isto garantiria que, caso a aliança resultante continuasse, o visitante seria incorporado diretamente no domicílio do mpanjaka. Uma mulher adulta teria casa própria ou seu marido proveria isso. Adolescentes ainda viviam com os pais. Como vimos, linhagens dominantes estavam sempre tentando apegar novos membros, casando-os com as filhas uxorilocalmente. Se isto virou prática comum em lidar com piratas, explicaria a anotação de Watson sobre como vive com piratas e como foram tão rápido puxados para assaltos intermitentes visando tomar e redimir cativos.
Conviver com piratas era desafio ingente, seja por conta de sua má fama, seja porque precisavam saber reagir. A reação pode espantar, porque previa o sacrifício das filhas jovens, mas havia a cautela de jurar amizade, embora para piratas juramentos fossem inócuos. De um lado, isto mostrava um patriarcalismo abjeto (sacrificar as próprias filhas), mas, de outro, era – possivelmente – o que tinham para negociar como mais efetivo. No contexto do poder, um mpanjaka poderia, para não perder a pose e o poder, tentar acarrear o pirata para dentro de casa, sob todos os riscos. Anota G que isto não era tudo que estava acontecendo. Afinal, se os piratas tinham simplesmente sido incorporados na linhagem existente dessa maneira, como armas e suprimentos contratados de fineza exótica, seus filhos seriam absorvidos a suas linhagens do patrocinador e nada de significativo teria mudado. Nunca veríamos um levante do reino malata ou Betsimisaraka. Então, o que mais estava no ar?
Fontes contemporâneas provem-nos com apenas evidência mais fragmentária. Mas há sinais de que, enquanto ‘reis e príncipes’ parecem ter controlado o comércio de gado e arroz, mercados locais rapidamente emergiram em torno dos enclaves europeus, e que que estes foram logo dominados por mulheres. De fato, os números crus dos piratas – no auge havia 800, espalhados na floresta – parecem ter aberto possibilidades sociais que nunca haviam existido antes e das quais muitas das jovens mulheres da região logo tirariam vantagem.
Recomendados pelo LinkedIn
CONCLUSÃO
G não esconde o quanto é difícil reconstruir o que de fato estava acontecendo em Madagascar. Era um cenário muito complexo, exasperado pela presença tão massiva de piratas, vista como complicadíssima de se lidar, e contendo componentes tradicionais da sociedade local, que tinha ‘reis’ pouco críveis, mas vigentes. Montou-se então uma relação muito complexa e dúbia entre os de fora e os de dentro. A tática dos de dentro parece ter sido absorver os de fora, incluindo na tática casar com suas filhas. A contribuição dos piratas era sempre vista com desconfiança, por óbvio, mesmo que eles também, em certo sentido restrito, tinham ideais democráticos, em particular no comando dos navios. G então acentua o papel feminino, desde aliciar os estrangeiros para se casarem com elas e absorvê-los em sua cultura, até gerenciar os negócios de maneira descentralizada. “Mulher como símbolo político” pode parecer exótico, mas significa, em si, algo óbvio: são figuras políticas naturalmente, exercem poder e influência, coligam-se para encarar os patriarcas, e em geral preferem exercício compartilhado de poder.
REFERÊNCIAS
BOIS, D. 1997. Tamatave, la cité des femmes. Clio: Histoire, Femmes et Société, 6:61-86.
CABANES, R. 1982. Guerre lignagière et guerre de traite sur da lote nord-est de Madagascar au XVIIème et XVIIIème siècles. In Guerres de lignages et guerra d’Étas em Afrique. Ed. J. Bazin & E. Terray, ORSTOM, Paris, p. 145-86.
CLASTRES, P. 1977. Archéologie de la violence: la guerre dans les sociétés primitives. L’Aube.
COLE, J. 1977. Sacrifice, narratives and experience in East Madagascar. Journal of Religion in Africa, 27(4):401-25.
COLE, J. 2001. Forget colonialism? Sacrifice and the art of memory in Madagascar. U. of California Press.
DOWNING, C. 1737. A compendious history of the Indian Wars; with an account of the rise, progress, strength, and forces of Angria the Pirate. T. Cooper.
ESOAVELOMANDROSO, M. 1979. La province maritime orientale du ‘Royaume de Madagascar” à la fin du XIXe siècle (1882-1895). FTM, Antananarivo.
FANONY, F. 1976. Fasina: Transformation interne et contemporaine d’une communauté villageoise malgache. EPHE, Paris.
FLACOURT, E. 1650. Histoire de la grande Isle de Madagascar. Karthala.
FOX, E.T. 2014. Pirates in their own words: Giving particulars of the lives and deaths of the pirates and buccaneers. Dulau & Co.
GENTIL DE LA GALAISIÈRE, G.-J. 1779. Voyage dans les mers de l’Inde. 2 vols. Paris.
GRAEBER, D. 2023. Pirate Enlightenment, or the Real Libertalia. Farrar, Straus and Giroux.
LEGUÉVEL DE LACOMBE, B.F. 1840. Voyage à Madagascar et au Îles Comores (1823 à 1830). 2 vols. Louis Dessart.
MANGALAZA, E.R. 1994. La poule de dieu: Essai d’anthropologie philosophique chez les Betsimisaraka (Madagascar). PUB, Bordeaux.
MAYEUR, N. 1806. Histoire de Ratsimilaho (1695-1750), roi de Foulpointe e des Betsimisaraka, rédigé par Barthélémy Huet de Froberville, 1806. British Museum, ADD-MSS 18129.
RANTOANDRO, G.A. 2001. Hommes et réseaux Malata de la côte orientale de Madagascar à l’époque de Jean René (1773-1826). Annuaire des pays de l’océan Indien, 17:103-21.