Bullying, tristeza e omissão.
Carlos Teixeira é um nome que ecoa com tristeza, uma vida interrompida por um sistema que falhou em protegê-lo. Desde cedo, sua mãe lutava para garantir um ambiente seguro para ele, mas as portas que ela encontrou permaneceram fechadas. A negligência da escola, a indiferença dos pais dos agressores, a ausência do Estado, o preconceito do sistema de saúde, todos esses elementos formaram um conjunto sombrio que levou ao fim da vida de Carlos.
Lembro-me de um vídeo gravado pela mãe de Carlos, onde o garoto, com lágrimas nos olhos, implorava para não ter que voltar à escola. Ele sabia o que o esperava: zombarias, agressões e humilhações que deixavam cicatrizes invisíveis, mas profundas. É impossível não se comover com essa imagem, um jovem desesperado, lutando contra uma situação que parecia impossível de mudar.
Como pais, estamos falhando. Não é o celular ou a TV que deveriam educar nossas crianças, somos nós. Se não tomarmos essa responsabilidade para nós, quem o fará? A comunidade pode ajudar, mas a responsabilidade primária é nossa. Educar não é fácil; exige esforço, renúncia e coragem. É muito mais fácil deixar a criança fazer o que quiser, mas a que custo? A omissão na criação dos filhos pode transformá-los em algozes de outros, ou, como no caso de Carlos, vítimas de um ciclo de violência.
O bullying deve ser combatido em casa, antes que se espalhe como um vírus pelo ambiente escolar. Precisamos perguntar de onde vem essa necessidade de agredir, humilhar e subjugar. Que tipo de exemplos estamos dando para que esses comportamentos surjam? No entanto, mesmo que a vítima denuncie, muitas vezes ela é silenciada com represálias ainda mais cruéis. A coragem para falar é esmagada pela brutalidade daqueles que se sentem ameaçados.
Existem alguns exemplos de justiça, mas são escassos. O Tribunal de Justiça de Minas Gerais, em 2010, condenou um estudante por bullying. Em 2017, a 1ª Turma Recursal de Juiz de Fora/MG ordenou que a União pagasse uma
indenização a uma aluna vítima de bullying. Em 2022, uma escola religiosa em Santa Catarina foi condenada por permitir bullying. Em 2024, uma mãe foi responsabilizada pelo ciberbullying praticado por sua filha.
Cada uma dessas histórias é uma vitória, mas quantas outras vítimas permanecem invisíveis, sofrendo em silêncio? Bullying sempre existiu, mas hoje temos mais recursos para combatê-lo. Contudo, isso só será eficaz se todos nós, como sociedade, decidirmos não tolerar mais essa violência. Não podemos permitir que outras mães chorem a perda de seus filhos por causa do bullying.
A Lei Federal n° 13.185/2015 define ciberbullying como o ato de "intimidar sistematicamente, individualmente ou em grupo, mediante violência física ou psicológica, uma ou mais pessoas, de modo intencional e repetitivo, sem motivação aparente." Ciberbullying é crime.
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Recentemente, a Lei nº 14.811 de 12 de janeiro de 2024, marcou de forma significativa o combate ao bullying e ao cyberbullying, trazendo mudanças substanciais como protocolos preventivos, foco no sistema educacional, responsabilização do poder público, inclusão e alteração de tipos penais, com exigências principalmente de escolas.
O bullying sempre existiu, pois, desde a criação da propriedade privada, houve subjugação dos mais fracos pelos mais fortes por meio da violência física, psíquica e patrimonial, mas o fenômeno do bullying só começou a ser estudado na Suécia na década de 1970, demoramos muito a tomar uma atitude. Isso tem que parar.
Carlos Teixeira não deveria ser uma estatística, ele deveria estar vivendo sua vida, sonhando, rindo e sendo feliz. Precisamos lembrar disso sempre que ouvirmos histórias de bullying. Devemos lutar para que outras mães não tenham que assistir seus filhos implorando por ajuda, para que outras crianças possam crescer em um mundo onde o bullying é algo do passado.
O movimento Março Laranja, idealizado para prevenção, conscientização e apoio às vítimas de bullying, falhou em 2024, perdemos mais uma vítima.
A vida de Carlos não pode ter sido perdida em vão. Que sua história seja um chamado para a ação e para a mudança.
Public Speaking expert. Attorney (BR), Senior Legal Advisor & Extern Control Auditor - Tribunal de Contas do Estado do Espírito Santo. Experienced in human rights, social development, data analysis, children's rights
8 mExcelente reflexão Luciana